Boato – Depois de encontrar substância cancerígena em lote, venda de paçoca é proibida pela Anvisa em todo o Brasil.
É possível mentir falando a verdade? Os inúmeros casos de distorção de dados na internet e a falta de leitura dos internautas mostram que sim. Se você ainda acha que não, dá uma olhada neste caso envolvendo a proibição da venda de paçoca no Brasil.
Tudo começou com uma notícia real. No dia 20 de março de 2017, a Anvisa anunciou que interditou um lote de paçocas da marca Dicel por conter teores de aflatoxinas acima do limite recomendado. Dá uma lida:
Lote do alimento Paçoca Dicel é interditado:O lote 0027 do Doce de Amendoim Paçoca Rolha, marca Dicel, foi interditado pela Anvisa nesta segunda-feira (20/3). O lote do alimento, distribuído pela Indústria e Logistica Wethonklauss Constante Ltda, excedeu o limite do teor de aflatoxinas, espécies de micotoxinas encontradas em alimentos.
De acordo com relatório do Laboratório de Análise Micotoxicológicas (LAMIC – Santa Maria/RS), foi detectado teores de aflatoxinas acima do Limite Máximo Tolerado (LMT) permitidos para amendoim com casca, descascado, cru ou tostado, pasta de amendoim ou manteiga de amendoim.
Sempre quando um assunto ganha destaque na mídia, notícias relacionadas ao tema acabam ganhando destaque. Em meio à Operação Carne Fraca, qualquer notícia envolvendo proibição de alimentos ganharia destaque.
Os problemas começaram com uma simplificação na titulação de alguns veículos de mídia. Em vez de especificarem que o problema foi em um lote, a história foi “vendida” da seguinte forma: “Anvisa proíbe venda de paçoca por alto teor de substância cancerígena”.
Via de regra, como é possível ver neste link, a mídia, em geral, titulou a matéria informando a proibição apenas do lote. Porém, o link que viralizou em redes sociais foi o da “venda de paçoca”. É óbvio que as pessoas saíram comentando por aí que todas as marcas de paçoca estavam proibidas.
Em uma busca no Facebook, achamos as seguintes declarações: “Né possível vou ter que parar de comer paçoca também”, “As paçoquinhas não”, “Marque aqui aquele amigo seu vegetariano que quase te bateu pra vc parar de comer carne, e fale pra ele nao comer paçoca tambem”. É claro que um monte de gente começou a perguntar para o Boatos.org se a venda de paçoca tinha sido proibida. Já que perguntaram, a gente responde:
1) Apenas um lote de uma marca foi condenado;
2) A venda de paçoca não foi proibida;
3) O erro começou com um jornalista que tentou deixar a matéria “mais atrativa”;
4) O erro continuou com as pessoas que saíram compartilhando sem ler o conteúdo inteiro;
5) Temos um caso de boato que nasceu por um detalhe em uma notícia verdadeira. Não é o primeiro: o caso da doença da vaca louca também nasceu assim.
Só para terminar, temos dois conselhos para vocês. 1) Pode comer paçoquinha. Elas não foram proibidas. 2) Quando vocês lerem uma notícia que chame muito a atenção, leia antes de compartilhar e comentar por aí.
PS.: esse artigo é uma sugestão de diversos leitores via WhatsApp. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook ou WhatsApp no telefone (61) 99331- 6821.