A imprensa não tarda, mas falha de vez em quando. E o Boatos.org separou histórias falsas que viralizaram com a ajuda da mídia. Confira a parte 2 dessa lista.
Começamos a primeira parte dessa lista de boatos espalhados com a ajuda da imprensa com a observação de que a mídia geralmente falha (quando falha) porque age com pressa. Na disputa pela audiência e para ser o primeiro, os veículos de comunicação têm cometido o erro básico de não checar a informação antes de passá-la adiante.
Se analisarmos, com qualquer boato regular é assim que funciona: alguém inventa (ou aumenta), alguém repassa sem saber se de fato aconteceu, outro alguém recebe e também repassa e assim se cria uma enorme corrente. Quando a imprensa é a fonte, a corrente já começa grande porque atinge diretamente muitas pessoas, por isso o problema. Confiram então a parte 2 da lista que separamos sobre as balelas em que até a mídia caiu:
1 – Nutella dá câncer
Vamos abrir a primeira história da lista com doçura. Na verdade, doçura e polêmica das grandes. No início de 2017 portais de notícias começaram a circular que o Nutella, creme de avelã da Ferrero (que faz um sucesso danado entre os consumidores) ia ser retirado dos supermercados por causar câncer.
A imprensa brasileira repercutiu a notícia publicada em um tabloide britânico que afirmou que um estudo havia comprovado o fator cancerígeno do óleo de palma, um dos ingredientes base do Nutella.
Daí se criou um buchicho que ficou maior ainda quando uma grande rede de supermercados italiana decidiu tirar das prateleiras todos os produtos feitos com óleo de palma e a Nutella incluso. O problema, é que o tabloide inglês e os portais brasileiros não pegaram a informação completa e ajudaram a criar o boato.
Acontece que o estudo realizado na Europa revelou que o óleo de palma é cancerígeno quando manipulado acima de 200ºC. De cara, a Nutella afirmou que o processo de produção do creme não é feito a esta temperatura. Depois, apenas uma rede de supermercado da Itália decidiu retirar os produtos. Ou seja, a ação não foi massiva e não foi seguida em outros lugares. Esses detalhes essenciais a mídia não repassou e a história da Nutella do câncer ganhou força, em um típico caso de boato criado por informações mal checadas. Confira mais sobre isso aqui.
2 – A foto errada do Estado Islâmico
Um dos boatos de maior repercussão que partiram de um erro até vergonhoso da imprensa foi o caso da ameaça do Estado Islâmico ao Brasil.
Em 2016, às vésperas das Olimpíadas do Rio, a Agência Brasileira de Investigação (Abin) confirmou que um membro do EI tinha ameaçado o Brasil pelo Twitter. Até aí tudo certo, não fosse a quantidade de sites e portais de renome da imprensa brasileira que utilizaram a foto de um perfil falso e da ameaça errada para ilustrar as notícias que repercutiam a informação da Abin.
Foi isso, sites da imprensa tradicional brasileira colocaram a fotografia do perfil errado nas matérias, um perfil que aparecia dizendo que o Brasil era um país de m…. Acontece que a ameaça verdadeira rastreada pela Abin tinha sido outra. Novamente a mídia falhou pela pressa. Leia mais sobre o boato aqui e aqui.
3 – #Partiu Espanha
Outra “comida de bola” da imprensa brasileira que ganhou bastante destaque foi a história dos 5 mil sobrenomes com direito à cidadania espanhola. Quem se lembra dessa? Em 2014 começou a circular a notícia de que o governo espanhol havia aprovado uma medida que dava direito a dupla cidadania às pessoas descendentes de judeus safarditas, expulsos do país no século XV.
A notícia tinha sido tirada de um jornal espanhol voltado aos judeus e acabou acreditada por veículos grandes do Brasil. Estamos falando de imprensa tipo Infomoney, UOL, Terra e Globo.com. No entanto, faltou checar que a medida na verdade tinha apenas sido sugerida ao parlamento espanhol e que sequer tinha data para ser analisada.
Além do que, a lista dos sobrenomes foi, digamos, inventada pelo jornal judeu espanhol. A imprensa BR caiu na balela e passou adiante. O resultado: muita gente empolgada com a ideia de ter nacionalidade espanhola, depois muita gente frustrada porque não era bem assim. Leia mais sobre o boato aqui.
4 – A seleção mais generosa do mundo
Durante a Copa do Mundo de 2014 (e teve Copa!) os boatos bombaram na internet. Como participante da equipe do site dá para afirmar, a coisa foi insana. Mas, saudades Copa. E o que o campeonato deixou de legado (entre outras coisas) foi uma mentira de proporção mundial que o Boatos.org desmentiu primeiro.
Logo que a seleção da Argélia, uma das grandes surpresas da Copa de 2014, foi eliminada do campeonato começou a surgir mundialmente a história de que os jogadores doariam o prêmio de U$9 milhões aos palestinos da Faixa de Gaza.
Muitos sites começaram a replicar essa informação, mas nós fomos a fundo até descobrir que a coisa toda era mentira. Depois de procurar nas redes sociais de jogadores argelinos, de buscar no site de federação de futebol da Argélia e de fuçar várias contas e perfis de notícias internacionais, descobrimos que a coisa toda surgiu de um perfil fake do capitão Slimani.
Obviamente, esse emaranhado de checagens, digno de filmes de detetives, não foi realizado pela imprensa que só deu a notícia na pressa. E deu um fora, dessa vez, mundial. Confirma mais sobre o boato aqui.
5 – É do candomblé
Entre os boatos mais engraçados que já passaram pelo Boatos.org, ocupa o topo do ranking a história do técnico francês de atletismo que teria afirmado que o Brasil só ganhou a medalha de outro no salto com vara em 2016 por causa do candomblé.
Nas Olimpíadas do Rio a festa foi brasileira quando Thiago Braz ganhou a medalha de ouro no salto com vara, batendo o até então atual campeão Renaud Lavillenie. Os franceses não curtiram a derrota e se espalhou à época que o técnico de Lavillenie, Philippe d’Encausse tinha atribuído a vitória do brasileiro às forças do candomblé.
As notícias foram bizarras. Veículos gigantes como BBC Brasil e o G1 deram a história como verdadeira, sem checar que na verdade a fala sobre o candomblé não tinha vindo do técnico d’Encausse e sim do repórter do jornal Le Monde que escreveu sobre a vitória de Thiago Braz. O jornalista acrescentou a frase polêmica na matéria e por um erro de interpretação pareceu que a fala era do técnico. Uma confusão muito estranha e a imprensa acabou caindo. Leia mais sobre o boato aqui.
6 – A treta “dos manos”
Uma polêmica forte acabou rondando o Lollapalooza de 2014. Na época surgiu a história de que o grupo de rap Cone Crew Diretoria teria feito críticas ao cantor Criolo. A suposta rinha ganhou as redes sociais e ofendeu fãs dos dois lados.
A coisa ficou mais séria ainda quando o Estadão publicou uma notícia afirmando que o grupo Cone Crew tinha criticado abertamente o cantor Criolo durante o show no Lolla. No entanto, tanto Criolo quanto o Cone Crew fizeram questão de desmentir a história. Em suas redes sociais afirmaram que não houve briga, sequer críticas feitas por nenhuma das partes.
Incomodado, o grupo Cone Crew até mencionou que entraria com uma ação na justiça contra o Estadão por causa da confusão criada com a notícia falsa da briga. Leia mais sobre o boato aqui.
7 – Pessoas loucas com a vaca louca
Para encerrar esta parte 2 de balelas que surgiram com a ajuda da imprensa, separamos o exemplo perfeito da situação que descrevemos no começo: um telefone sem fio e a mídia foi quem de cara repassou a informação para milhares de pessoas.
A história em questão foi a notícia publicada no jornal Extra do Rio sobre casos que possivelmente podiam ser a doença da vaca louca. Acontece que o jornal carioca informou que as ocorrências da DCJ eram suspeitas e que essa doença era “popularmente conhecida” como vaca louca.
Foi nessa definição que a confusão começou, já que, na verdade, a doença da vaca louca é conhecida como vDCJ e só ocorre quando um ser humano come carne infectada. As suspeitas não indicavam isso, mas os veículos que copiaram o Extra saíram interpretando errado os termos. Depois disso, com a ajuda de áudios no WhatsApp o boato ficou maior ainda. Leia mais sobre o boato aqui.
Nota: Os casos em que a imprensa acaba colaborando com o surgimento de boatos são recorrentes, mas nem tanto. Na hora de ter certeza se algo é verdade ou não vale ainda buscar nos meios tradicionais, eles geralmente repercutem temas verdadeiros. E na dúvida, vale dar aquela checada no Boatos.org.