Boato – Brasileiro que mora no Japão fez um relato sobre como funciona a prisão no Japão. Quem contou foi um amigo policial japonês dele.
Em um passado distante, o criador deste site tinha um outro assunto de interesse: o cotidiano dos dekasseguis (brasileiros no Japão). O resultado de estudos, entrevistas com brasileiros foi um livro (que nunca foi publicado, mas ajudou a abrir as portas de grandes redações do país para trabalho) sobre brasileiros no Japão. Um dos 25 capítulos do livro falava justamente das cadeias.
Justamente pelo conhecimento que tenho sobre o Japão e pelo referência que tenho sobre as prisões no país, uma história me chamou muito a atenção. De acordo com um texto que viralizou no Facebook e no WhatsApp, um brasileiro que mora na terra do sol nascente fez um relato de como seriam as prisões.
O texto fala que não há redução de pena no Japão, que cada dia na solitária adiciona dois na pena, sobre visitas, quem sustenta o preso e até sobre punições como “se ajoelhar no milho”. Dá uma lida aí.
Prisão no Japão (relato de um Brasileiro que mora lá): Então cara, faz mais de um ano que estou morando aqui no Japão, quando ocorreram as olimpíadas aí no Brasil, passava propaganda aqui na TV japonesa dizendo para os japoneses não irem ao brasil porque é muito perigoso… Bom, tenho um amigo japonês aqui que é policial, estávamos conversando esses dias e ele me explicou como funciona a cadeia aqui…
Fora o fato de 86% dos presidiários aqui serem estrangeiros as regras são bem rigorosas, primeiro que cada dia na solitária acrescenta 2 dias na pena, NÃO existe redução de pena aqui em hipótese alguma, visita é uma vez por mês pelo tempo de 15 minutos dependendo do comportamento do preso… visita intima NÃO existe!! Os presos são OBRIGADOS a trabalhar, caso se neguem é solitária, e na solitária é como eu disse, cada dia lá aumenta 2 dias na pena. Em caso de presídio superlotado serão escolhidos presos para construir um aumento.
São dois presos por cela, é proibido conversar sem ordem do guarda, caso seja desobedecido é solitária, se o presidiário for pego se masturbando é solitária, se quando puder conversar o preso falar em qualquer outro idioma que não seja japonês também vai direto pra solitária… se não trabalhar, consequentemente não vai comer se a familia não mandar dinheiro para ele receber comida, e se ficar muito tempo sem comer vai morrer, se não quer morrer de fome precisa trabalhar…
se o preso desobedecer o guarda, ele pode por o preso de castigo ajoelhado no milho e olhando pra parede, por horas…é isso ou solitária, se ficar ajoelhado no milho não vai acrescentar os dois dias na pena… aí ele foi me falando e chegou em um ponto que perguntei, o que o preso pode fazer, quais seus direitos?
E a resposta foi curta e grossa, preso NÃO tem direitos! Tinha direitos antes de ser preso, agora ele só tem a pena e seus deveres! O brasil chega ser ridículo com esse povo defendendo bandidos. Em país de primeiro mundo é como aqui no Japão, se for preso se ferrou!
Relato de brasileiro mostra como funciona a prisão no Japão?
Como dito antes, o texto viralizou. Porém, mais uma vez informações sobre o Japão foram distorcidas e publicadas na internet. O texto não passa de um monte de informações “chutadas” e, como todo “bom” chute, tem muitos erros. Vamos aos fatos.
Para começar, o texto fala que as prisões japonesas são ocupadas por 86% de estrangeiros. O dado, como é de se esperar, está errado. Na realidade, 5,6% da população prisional no Japão é estrangeira. O número é alto, considerando que a população estrangeira é 1,22% do país. Porém, longe do absurdo mostrado no texto.
O texto também está “furado” em relação à informação sobre a solitária dobrar a pena. Em todos estudos que vimos, não há nenhuma regra que fale sobre isso. A solitária, inclusive, já é considerada uma punição pesada no Japão (há, inclusive artigos que reclamam das solitárias no país). Não é preciso um “bônus”.
Outra informação errada é a que fala que não existe redução de pena. De acordo com este estudo, há diversas regras que definem a liberdade condicional no país. Se estivermos falando em “redução” de pena devido a circunstâncias do crime (por exemplo, legítima defesa) também existe no país.
Sobre as visitas, a informação está também errada. De acordo com o relatório da Human Rights Watch (página 39), há um sistema de progressão de visitas de acordo com o tempo na prisão. Quem acabou de chegar, recebe uma visita de 15 a 20 minutos por mês. Depois (não há especificado quanto tempo), passa a receber duas visitas por mês. No terceiro grupo, passa a receber uma visita por semana. De fato, não existe visita íntima.
Também é fato que o trabalho é obrigatório, mas só para presos sentenciados (que, ainda não foi condenado não trabalha). Ao contrário do que diz o texto, as celas são individuais. Apesar disso, é proibida conversas com outros presos durante o trabalho e fora da cela.
No final, o texto começa a pesar nos absurdos. É óbvio que a família não tem que enviar dinheiro para o preso comer. Enquanto preso, ele está sob custódia do Estado. A história de ajoelhado no milho também é absurda.
Resumindo: o sistema prisional do Japão é considerado mais rígido que o do Brasil. Porém, é fato que o preso vive melhores condições por lá do que por aqui e que não há tantas reclamações de violações de direitos humanos. Esse é o fato. O resto é #boato
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de diversos leitores via WhatsApp. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99331-6821.