Boato – Em meio à guerra da Síria, uma linda garota loira de olhos azuis foi encontrada sozinha e sorriu para a câmera.
Há poucos instantes, o Boatos.org desmentiu um boato que dava conta que uma menina síria tampou os olhos de uma boneca para que o brinquedo não visse o “horror da guerra”. No texto, prometemos que teríamos mais conteúdo sobre o país do Oriente Médio. Novamente, vamos falar de fotos, crianças e fake news.
Há alguns dias começou a circular na internet imagens que seriam de uma linda menina síria. Além de chamar atenção pelos olhos azuis, muita gente ficou espantada pela mensagem que acompanhava a imagem: “Encontrada sozinha no meio da guerra da siria. Mesmo assim ao ver pessoas sorri mal ela sabe o que está acontecendo… E você já agradeceu o dia de hoje?”.
Garota síria de olhos azuis foi encontrada sozinha no meio da guerra e sorriu?
A imagem e a mensagem fizeram muito sucesso na internet. Mas será mesmo que a imagem é de uma menina “sozinha” no meio da guerra da Síria? A resposta é não. Para você entender tudo, vamos aos fatos.
A primeira parte da balela é desmontada sem nem ser preciso buscar mais sobre o assunto. Os mais atentos vão perceber que há “uma mão” em uma das fotos. Então, como assim a menina estaria sozinha? Além disso, o cenário não parece ser de destruição. Junte isso ao fato do texto ter muitas das características de boatos online e já temos uma suspeita de história falsa.
A verdade veio à tona quando buscamos sobre a imagem. A foto foi feita pelo fotógrafo sírio Ahmad Sabouni. Depois que a imagem viralizou, ele veio a público esclarecer que a menina da foto não “vive no meio da guerra” e não estava sozinha. Em um post, ele disse o seguinte:
A menina vive em segurança e em uma área segura com os seus pais na cidade de Homs (Síria). A área está sobre controle do governo sírio. O nome da menina é Sidra e todos os membros da família dela estão seguros e ilesos. Ahmad Al-Sabouni, fotógrafo.
Além de publicar a mensagem, Sabouni também publicou diversos outros ensaios de Sidra. Em um deles, ela está com outras crianças. Em outro, ela está com outras roupas e há mensagens tranquilizadoras.
Já deu para ver que a história da “menina é falsa”. Mas há mais um assunto para tratar. Há alguns dias, o internauta Roberto Shayer Lyra (dono de um site brasileiro com informações sobre adoção) veio nos relatar que muitas pessoas estavam o procurando pedindo para adotar uma criança síria.
O site mantido por ele recebe cerca de 12 mil visitantes/mês. Só nos primeiros cinco dias de março, teve 18 mil. “E tudo de pessoas que ficaram apaixonadas pela menina de olhos azuis da foto, mas sobre adoção pra valer…”, diz. Dá uma olhada no relato dele (editado):
Sou responsável pelo Portal da Adoção. Temos uma seção de perguntas e, ultimamente, voltou a moda das crianças sírias. Isso acontece periodicamente. Geralmente sai uma reportagem, com imagens de crianças em atentados, e chovem pedidos de adoção para crianças sírias. Abaixo mostro um exemplo dos e-mails recebidos:
“Pelo amor de Deus deixa eu adotar as crianças da Síria quantas vcs quiserem mas deixa, meu coração sangra em ver essas coisas e eu aqui sem poder fazer nada por favor me deixe cuida delas não importa a idade mas me deixa me ajudem a dar um futuro p elas moro na rua xxxxxx não sou rica mas não passo fome e tenho muito amor muito mesmo e muita dedicação gente vamos nos unir p acaba com isso eu quero muito ajuda”.
Roberto entrou em contato com a gente porque queria que as pessoas parassem de tentar entrar em contato apenas para “adotar crianças sírias” (com tanta criança no Brasil sem lar). Sendo assim, temos dois recados para vocês:
1) A menina síria não está sofrendo, não é órfã e não está em uma área de guerra. 2) Não adianta tentar entrar em contato para “adotar uma criança síria” com o site citado. Nem o site promove adoções nem é tão simples assim adotar uma criança lá do Oriente Médio.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.