Boato – O líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) Guilherme Boulos cobrava aluguel das pessoas que ocupavam o prédio que desabou no Centro de São Paulo e em outros imóveis na capital paulista.
Desde que o edifício Wilton Paes de Almeida, localizado no centro da cidade de São Paulo, pegou fogo e desabou, muitas perguntas surgiram no ar. Além das mais óbvias que surgem em tragédias (qual foi a causa do incêndio, quem são os culpados etc), há outras suscitadas pelo fato de o local ser um prédio ocupado por um movimento social.
Em meio a tantas perguntas, uma denúncia surgiu na internet. De acordo com postagens em redes sociais, Guilherme Boulos, pré-candidato à Presidência da República pelo PSOL e líder do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), cobrava aluguel das pessoas que ocupavam o prédio que desabou. Leia uma das mensagens que circula online:
MORADORES DENUNCIAM BOULOS: O candidato a Presidência da Republica do PSOL e líder do MTST esta sendo denunciado pelos moradores do Edifício que pegou fogo em SP, que pagavam Aluguel no valor de R$ 400,00 e Taxa de Condomínio de R$ 80,00.
O crime esta em cobrar aluguel de imóveis que era de propriedade de terceiros e no caso especifico de propriedade da União, conforme as denuncias Boulos embolsava mais de Um Milhão por mês de alugueis.
A denúncia não para por aí. Um “meme” sobre o líder do MTST começou a circular na internet. “Não existe almoço grátis. Nem moradia, o aluguel é R$ 400”. A mensagem tinha o seguinte comentário: “”Ah, mas não era do Boulos” Ele faz igual” e um link para uma matéria da Folha de S.Paulo.
Boulos e o MTST cobravam aluguel em prédio que desabou em São Paulo?
As duas postagens e tantas outras similares começaram a se espalhar na internet. Mas será mesmo que procede a informação que aponta que Guilherme Boulos e o MTST cobravam aluguel no imóvel que desabou em São Paulo e em outros imóveis no centro da capital paulista? A resposta é não. Para você entender tudo, vamos aos fatos.
De fato, diversas reportagens publicadas após do desastre mostram que os moradores do edifício pagavam uma taxa que variava de R$ 150 a R$ 400 mensais que, de acordo com quem recebia o valor, era para manutenção do prédio. Só há um detalhe: o MTST e Guilherme Boulos (ao contrário do que diz o texto) não têm relação com a cobrança.
Não vamos entrar no mérito sobre a cobrança ou mesmo sobre a ocupação (os dois lados do debate têm seus argumentos), mas o fato é que o movimento responsável pela ocupação do local era o MLSM (Movimento por Luta Social por Moradia). De acordo com nota do MTST, não há relação entre os movimentos. Leia:
A ocupação vítima do incêndio não era organizada pelo MTST e sim por outro movimento de moradia, o MLSM – Movimento de Luta Social por Moradia; […] O MTST não tem ocupações no centro de São Paulo e não pratica a cobrança de nenhum valor das famílias organizadas em nossas ocupações.
Vamos à segunda parte da história. Depois que foi esclarecido que o MTST não era responsável pela ocupação (até alguns políticos embarcaram no boato), começou a circular o “meme” com link citado da Folha. O mistério começa a ser revelado quando começamos a ler o texto (que foi publicado em 2015):
“Eu pagava R$ 450 de aluguel num cômodo em São Mateus [zona leste de SP], e meu marido gastava cinco horas para ir e voltar do trabalho. Hoje, pago R$ 200 e moro no centro. O que você acha que eu prefiro?”, diz a ex-vereadora de Santa Cruz Cabrália (BA) Neide Leonel Vidotto, 70, no espaço onde vive, no antigo Cine Marrocos. Comprado pela prefeitura para abrigar a Secretaria de Educação, o prédio histórico foi invadido pelo MSTS (Movimento Sem Teto de São Paulo) em novembro de 2013. […]
Prestem atenção no nome do movimento que cobrava aluguel: MSTS (Movimento Sem Teto de São Paulo). Por mais que os nomes MTST e MSTS sejam parecidos, não há relação entre os movimentos. Em 2016, o MTST publicou uma nota sobre o MSTS. Leia:
NOTA SOBRE O “MSTS” E O CINE MARROCOS A polícia civil realizou hoje uma operação na ocupação do Cine Marrocos, do MSTS (Movimentos Sem Teto de SP) e prendeu pessoas associadas ao narcotráfico. Diante das confusões geradas pela semelhança entre a sigla deste movimento e o MTST temos a esclarecer o seguinte:
O MTST não mantém qualquer relação com a ocupação do Cine Marrocos ou com o referido MSTS, que é conhecido por cobranças financeiras aos sem teto e outras práticas que não admitimos. 2. A enorme maioria dos movimentos sociais de moradia são a legítima representação da luta por dignidade e direitos sociais. O fato de alguns poucos grupos utilizarem o movimento como forma oportunista para ganhos pessoais não autoriza qualquer generalização indevida. […]
Como foi possível ver, nem o caso do prédio que desabou tampouco o link da matéria da Folha de S. Paulo têm relação direta com a figura de Boulos. Vale dizer que o próprio MTST nega que faça cobranças e que realiza ocupações em prédios em centros urbanos. Como não há nada que prove o contrário, vale a palavra do movimento por enquanto.
Resumindo: sabemos que o emaranhado de siglas pode fazer algumas pessoas se confundirem (e outras “errarem dolosamente”), mas o fato é que o MTST não cobrava taxas do prédio que desabou e também não foi denunciado na matéria da Folha de S. Paulo que viralizou online.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.