Boato – Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro, vítima do desabamento do prédio em São Paulo, era membro do PCC, matador de policiais, tinha extensa ficha criminal e voltou ao prédio para recolher malas de dinheiro.
O assunto da última semana foi o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida, na cidade de São Paulo, na madrugada de 1º de maio. Em meio à repercussão da tragédia, é claro que boatos “tinham” que aparecer na internet. Um deles é ligado diretamente à primeira vítima da tragédia, Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro.
Ricardo acabou sendo conhecido como o homem que quase conseguiu ser salvo pelos bombeiros. Quando ele estava prestes a ser resgatado, o prédio desabou e ele não conseguiu ser salvo. O corpo de Ricardo acabou sendo encontrado em 4 de maio. Antes mesmo de ter a sua morte confirmada, o nome de Ricardo foi relacionado ao mundo do crime.
Depois de ter um perfil no Instagram divulgado em uma matéria, ele foi acusado de ser do PCC, matador de policiais (por conta de uma tatuagem de palhaço), de ser a pessoa que cobrava o aluguel de quem estava no prédio, de ter uma longa ficha criminal e de ter voltado ao prédio só para recolher uma mala de dinheiro (a prova seria uma foto do Instagram). Leia textos que circulam online:
Texto 1: NADA NESTA VIDA É ENCOBERTO. Este é o Ricardo que não conseguiu ser salvo pelo Bombeiro, momentos antes do prédio em chamas desabar. No início do sinistro, ele havia saído do prédio, mas voltou para pegar um saco de dinheiro arrecadado dos aluguéis de outros moradores. Ele tinha extensa ficha criminal por trafico e roubo. Em duas destas fotos, nota-se ele fumando maconha.
Texto 2: Sabe o cidadão que caiu com o prédio que desabou quando estava sendo resgatado? Era do PCC e subiu andares acima de onde as pessoas residiam para pegar R$ 120 mil reais que havia escondido. Semanas antes ele comprou uma moto de R$ 35 mil reais. O suposto herói dessa imprensa esquerdista e burra não é herói coisa nenhuma.
Não voltou para salvar criancinhas. Voltou para buscar o dinheiro de crimes, fruto de roubo. Como eu disse antes, o movimento já é criminoso por si só, mas também tem envolvimento com PCC — além do PT, é claro. E uma informação para quem não sabe: Tatuagem de palhaços significa “matador de policiais”.
Texto 3: BOMBA – O CARA QUE MORREU NO DESABAMENTO DO PREDIO ERA DO PCC. Esse é Ricardo, o homem que quase foi salvo pelo Policial Militar e Bombeiro, Sgt Diego, no prédio que desabou no Centro de São Paulo, na madrugada desta terça feira. O Sgt Diego do Corpo de Bombeiros, reconheceu Ricardo por foto.
Apesar de todo o ocorrido, o que chamou a atenção das autoridades é o fato de que Ricardo usava as redes sociais com o nome falso de “Henzo”, foi descoberto também que atraves das redes sociais Ricardo ostentava malotes de dinheiro roubado de carro forte e cigarros de maconha. Ricardo tinha dois “palhaços” tatuado no peito. (Ele era do PCC, ladrão de banco/Carro Forte e matador de Polícia)…
Ricardo, que morreu em prédio que desabou, era do PCC e matador de policiais?
Vamos analisar: uma pessoa morre tragicamente, vira notícia e, de repente, começa a ser acusada levianamente por pessoas que não devem saber o que é respeitar a memória de alguém que se foi. Sim: o filme do caso dos boatos de Marielle se repetiu. Para você entender tudo sobre os boatos em relação a Ricardo, vamos aos fatos.
Estamos monitorando essas mensagens que falavam de PCC, crimes, mala de dinheiro e tudo mais desde quando começaram a circular (mais ou menos no dia 2 de maio). E desde então, as acusações sobre Ricardo são baseadas em duas coisas: fotos de redes sociais e achismos de internautas. Nada apareceu de concreto.
A forma que as mensagens são escritas e as “fontes da informação” nos dão o primeiro indício de que ela não procede. As mensagens que circulam online (com algumas variações) seguem o enredo típico das fake news: são vagas (quando ele praticou roubos e matou policiais? Quais são seus antecedentes?), alarmistas, as mensagens têm erros de ortografia, não citam fontes fiáveis e, em alguns casos, há o pedido de compartilhamento.
Ao buscar sobre as fontes que “vendem” essa tese, não há sequer uma confiável (nem uma notícia de um veículo de mídia sequer). A história se espalhou apenas em páginas do Facebook que seriam administradas por “gente de bem” e em mensagens no WhatsApp. Só essas informações já deveriam desconfiarmos de que se trata de um boato. Mas não para por aí. Há detalhes que derrubam as acusações uma por uma.
Vamos começar pela “última”: a de que ele subiu para buscar uma mala de dinheiro. Como dito antes, a “prova” seria uma foto do Instagram dele. Só há um detalhe: a foto da “mala de dinheiro” é de 2015. Seria improvável que o dinheiro durasse tanto tempo. Vale dizer que o dinheiro, de acordo com depoimentos seria de uma venda de uma moto e não fruto de roubo.
Já que falamos em roubo, resolvemos explicar o segundo ponto: tem muita gente falando que Ricardo Pinheiro tinha uma “extensa ficha criminal” e era membro do PCC. A informação também não se sustenta ao buscarmos mais detalhes sobre ele. Não encontramos nenhuma condenação por crimes ligada ao nome dele (nem em notícias tampouco em sites que guardam arquivos de processo judiciais). Também não encontramos nada que falasse sobre a ligação dele com o PCC.
Mais do que isso, um perfil do G1 aponta que Ricardo foi preso em 2001 por furto, mas não houve prova da acusação. “Em 2001 ele foi preso por furto, mas respondeu em liberdade e o processo foi arquivado, não havendo condenação”, diz a matéria. Isso é algo muito distante de uma “ficha criminal extensa”.
Há, ainda, mais duas acusações nas mensagens. Uma delas era de que ele era a pessoa que cobrava o aluguel dos outros moradores (nesta versão, a mala é apresentada como de dinheiro desses alugueis). Essa é outra informação que não tem comprovação. De fato, depoimentos apontam que o MLSM cobrava uma taxa mensal dos moradores. Porém, nenhuma das denúncias cita o homem que morreu.
Por fim, foi dito que Ricardo era “matador de policiais”. A prova estaria nas imagens que mostram tatuagens de palhaço (que, de acordo com um estudo, significaria “matador de policiais”). Só há um detalhe, já citado anteriormente: não há qualquer ocorrência de assassinato de policiais que envolva o nome de Ricardo. Só a associação das fotos dele no Instagram ao crime, feita “especialistas” em WhatsApp.
Resumindo: as acusações que recaem sobre o homem que morreu no desabamento do prédio em São Paulo não passam de um amontoado de conjecturas criadas e compartilhadas sem o mínimo de apuração. Pouco se sabe sobre o passado de Ricardo Oliveira Galvão Pinheiro. Porém, as informações que temos até o momento (e já estamos monitorando o caso há alguns dias) nos mostram que todas as acusações não passam de boatos que circulam online.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.