Boato – Médico e pesquisador Alexander Fleming, descobridor da penicilina, teria salvo o ex-Primeiro Ministro Winston Churchill com sua descoberta
Na Antiguidade, muitas pessoas acabavam morrendo devido à falta de tratamentos eficazes contra algumas doenças. Foi o caso da Peste Bubônica (Peste Negra) durante a Idade Média, que dizimou cerca de 30% da população da Europa.
Já nos dias atuais, as pesquisas relacionadas a medicamentos evoluíram bastante e muitas descobertas trouxeram alívio para diversas doenças. Um dos casos mais emblemáticos foi a descoberta da penicilina, em 1928, pelo médico e pesquisador Alexander Fleming. Ela foi o primeiro antibiótico a ser usado pelos médicos.
E segundo uma história que circula na internet, Alexander Fleming jamais teria descoberto a penicilina se não fosse pelo pai de Winston Churchill. De acordo com a história, o pai de Fleming teria salvo Churchill de um afogamento em um lago. Como retribuição, o pai de Churchill, que fazia parte da nobreza britânica, teria pago os estudos de Fleming em uma renomada Universidade, levando ao descobrimento do antibiótico, que mais tarde salvou Churchill da morte novamente. Confira:
Um pobre fazendeiro escocês, enquanto tentava ganhar a vida para sua família, ouviu um grito de socorro vindo de um pântano próximo. Ele largou as ferramentas e correu para o pântano. Lá, ele encontrou um menino até a cintura no estrume negro e úmido, gritando e lutando para se libertar. O agricultor salvou o menino do que poderia ser uma morte lenta e terrível. No dia seguinte, uma carruagem elegante chegou à fazenda. Um nobre, elegantemente vestido, saiu e se apresentou como o pai do menino que o fazendeiro ajudou. “Eu quero recompensá-lo”, disse o nobre. “Você salvou a vida do meu filho.” Não, não posso aceitar um pagamento pelo que fiz “, respondeu o agricultor escocês. Naquele instante, o filho do fazendeiro chegou à porta da cabana. “É seu filho?” perguntou o nobre. “Sim”, o fazendeiro respondeu com orgulho. – Eu proponho fazer um acordo. Permita-me fornecer a seu filho o mesmo nível de educação que meu filho irá gozar. Se o menino se parece com o pai, não duvido que ele cresça para se tornar o homem de que nós dois nos orgulharemos. E o fazendeiro aceitou. O filho do fazendeiro cursou as melhores escolas e com o tempo, formou-se pela Faculdade de Medicina do Hospital St. Mary, em Londres, ele passou a se tornar conhecido em todo o mundo como o renomado Dr. Alexander Fleming, o descobridor da penicilina. Anos depois, o filho do mesmo nobre que foi salvo do pântano adoeceu com pneumonia … O que salvou sua vida dessa vez? …. Penicilina! E você sabe qual era o nome do nobre? Sir Randolph Churchill. E o nome do filho dele? ! Sir Winston Churchill !!! Alguém disse uma vez: “O que vai, volta multiplicado”.
Alexander Fleming salvou a vida de Winston Churchill com penicilina?
Bom, essa história daria um filme. Além de ser muito emocionante (e ter tido um final feliz), ela também mostra que estar no lugar certo e na hora certa podem fazer toda a diferença. Mas quando a coincidência é demais, até o santo desconfia, não é mesmo? E bem, a desconfiança tem embasamento: a história é completamente falsa. Quer saber mais detalhes? Então, continua lendo.
Essa história não é nova e volta e meia reaparece na internet, principalmente nas redes sociais. Em 2009, segundo a Sociedade Internacional Churchill, um homem chamado Ken Hirsch teria descoberto que a primeira versão dessa história foi publicada em 1944, por uma revista, com o título “Dr. Salva-vidas” e assinada por Arthur Gladstone Keeney.
E também de acordo com a Sociedade Internacional Churchill, a história não passa de balela. Eles inclusive escreveram um texto explicando o motivo da história não ser real: os dados não coincidem.
Entre eles, podemos citar o uso da penicilina que salvou a vida de Churchill depois que ele contraiu pneumonia. Segundo pesquisadores, não existem registros de que Churchill tivesse tomado penicilina em suas crises de pneumonia.
Pelo contrário, o ex-Primeiro Ministro do Reino Unido teria se tratado com sulfadiazina, na época, produzida pela farmacêutica “May and Baker” (e, por isso, Churchill se referia ao remédio como M&B).
No livro baseado em diários de Lorde Moran, médico de Churchill, ele conta que o político chegou a se consultar com Alexander Fleming, em 1946, devido à uma infecção estafilocócica que era resistente à penicilina.
Além disso, não existem registros de que o Lorde Randolph (pai de Winston Churchill) teria pagado pela educação de Alexander Fleming. Na verdade, Fleming se mudou ainda adolescente para Londres, para morar com o irmão mais velho e finalizar seus estudos na educação básica. Sua faculdade de medicina teria sido financiada por uma herança de um tio falecido.
Também não existem registros de um quase afogamento de Churchill naquela (e nem em outra) época. Muito menos que ele nadava em um lago próximo da casa da família Fleming.
Ou seja, a história não faz o menor sentido e está cheia de erros históricos. O fato é que Churchill não foi salvo pela penicilina (em suas piores crises de pneumonia, ele fez uso de sulfadiazina) e muito menos Alexander Fleming teve sua faculdade financiada pelo Lorde Randolph Churchill. Sendo assim, apesar de bonita, a história não passa de #boato. Até a próxima!
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