Boato – O irmão Antônio pede que vocês compartilhem o vídeo que mostra uma menina com escoliose chorando. Ela precisa de R$ 18 mil para cirurgia e o WhatsApp vai dar R$ 1 por cada vez que o vídeo for repassado.
Quem acompanha o Boatos.org diariamente já deve ter percebido que o ritmo de postagens aumentou nesta semana, que é anterior ao primeiro turno das eleições presidenciais. Porém, a nossa dedicação às fake news de política não significa que esquecemos de “outras editorias”. E, agora, vamos falar de um clássico dos boatos.
Circula no WhatsApp um vídeo que mostra uma menina contando o drama que ela enfrenta por estar com escoliose. Junto ao vídeo, há um áudio de um homem que se apresenta como “irmão Antônio”. Ele pede que as pessoas compartilhem o vídeo da garota para que o WhatsApp pague R$ 1 por vez que a filmagem for repassada e que a menina consiga os R$ 18 mil para a cirurgia. Leia a transcrição do áudio:
Confira o desmentido no vídeo
Meus irmãos. É o irmão Antônio. Eu recebi essa mensagem. Essa coisa trágica aqui de uma criança que estava paralisada e ela precisa de R$ 18.000 para fazer a cirurgia. A criança se não fazer a cirurgia logo ela vai perder a vida. E é R$ 1 é R$ 1 de cada um de vocês que passaram essa mensagem para frente. Não é você que vai pagar não é o zap que vai pagar. O zap vai pagar R$ 1. Eu gostaria que todos vocês colaborassem, por favor, por caridade. Vamos passar para frente aí. Gente vamos ajudar essa criança a fazer essa cirurgia, se não ela vai desencarrar. Então, vamos ajudar ela.
Menina com escoliose vai ganhar R$ 1 do WhatsApp por cada vídeo compartilhado?
Sempre querendo fazer o bem, as pessoas saíram compartilhando em massa a tal história. Mas será mesmo que a menina com escoliose vai ganhar R$ 1 por cada compartilhamento de vídeo? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Antes de falar do boato em si, vamos explicar qual a real história por trás do vídeo. Ela é de uma garota chamada Cauani, que mora na cidade de Tijucas (região metropolitana de Florianópolis). De acordo com essa reportagem do jornal A Razão, ela foi se tratar e ouviu dos médicos que ela teria que esperar “se entortar toda para depois fazer cirurgia”.
Na mesma matéria, o jornal disponibilizou uma conta bancária para ajudar a menina e a família a se manter em Curitiba (cidade em que encontraram um tratamento). Foi o jornal que gravou o apelo da menina.
Pois bem. Em vez das pessoas divulgarem a conta para realmente a Cauani ser ajudada, elas começaram a publicar o vídeo em conjunto com o áudio do “irmão Antonio” que dizia que era só compartilhar para doar dinheiro. Obviamente, não é só compartilhando que você vai ajudar.
Esse tipo de boato que fala que redes sociais vão ajudar crianças doentes por número de compartilhamentos já foi desmentido diversas vezes por aqui. Mais do que isso, a versão “irmão Antônio” já foi utilizada em boatos como o que pedia para compartilhar a foto de uma criança com dois pênis e do bebê com rosto cortado.
Mais recentemente, o mesmo áudio foi usado junto com uma foto de uma menina com a barriga gigante (não chegou a ser desmentido aqui, mas a história também é falsa). Como as explicações são sempre as mesmas, vamos repetir o que falamos das vezes anteriores:
O primeiro e mais óbvio está no fato de a mensagem seguir o enredo clássico de boatos online: cheio de informações vagas, alarmista, sem datas e fontes confiáveis e pedidos de compartilhamento. Além disso, a história é mais do que manjada e já foi desmentida diversas vezes pelo Boatos.org, inclusive, em vídeo. Confira:
Como você pode ver, as redes sociais não doam por compartilhamento (seria uma sandice pensar que alguém iria calcular a doação pela quantidade de exposição que a criança teve). E mais, no caso do WhatsApp, as mensagens são criptografadas e nem mesmo os administradores do aplicativo conseguiriam contabilizar quantas vezes a imagem foi compartilhada.
Mas não é só isso: a tese dos R$ 18 mil é de outra fake news com outra imagem. Na época, a história apontava que um bebê com cirrose de Fátima do Sul ganharia R$ 1 por foto compartilhada. Por sinal, os pais da criança comentaram o episódio e, como você deve imaginar, chegamos à conclusão que não passava de #boato.
Resumindo: a história que aponta que uma menina com escoliose vai ganhar R$ 1 por cada vez que o apelo dela é compartilhado no WhatsApp é falsa. Se quiser ajudar, pegue o número da conta da família e deposite um valor.
PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164.