Boato – Já está definido. A URSAL já deixou público que vai fraudar as urnas eletrônicas para que Bolsonaro perca no 2º turno das eleições para Haddad.
Há poucas horas, falamos aqui no Boatos.org de um boato que usou como base outros dois boatos (o do Decálogo de Lênin no livro de Haddad). Talvez pela falta de criatividade, talvez pelo excesso de fake news que já circularam por aí, mas o fato é que essa situação se repete.
A receita da história na qual vamos tratar agora usou o boato da fraude das urnas eletrônicas e o somou com a tese (furada) da URSAL (União das Repúblicas Socialistas da América Latina cunhada na interwebs e popularizada por Cabo Daciolo).
De acordo com um vídeo e mensagens que circulam no WhatsApp a URSAL (!) divulgou um plano de fraudar as urnas eletrônicas nas eleições 2018. Na postagem, a URSAL teria falado que as urnas eletrônicas já foram programadas para terem erros, que mesários já estão comprometidos com a vitória de Haddad e que empresas venezuelanas vão fazer a apuração. Leia o texto e assista ao vídeo:
Confira o desmentido em vídeo:
Camaradas, estamos recebendo muitas mensagens de companheiros preocupados com uma possível vitória de Bolsonaro, alegando que mesmo as manipulações nas urnas e falsas acusações de nazismo não serão suficientes para detê-lo. Então em virtude disso vamos explicar como funciona essa questão.
As urnas são programadas com os candidatos. Este ano não manipulamos os números, ou seja, não fazemos votos de um candidato ir para o outro. O que fazemos é deixar partes do código com erros propositais para as urnas de localidades onde Bolsonaro tem mais votos terem problemas e então terem que ser substituídas, anulando todos os votos daquela seção. Mas isso é o de menos.
Depois, fizemos uma exaustiva campanha para colocar, principalmente onde Bolsonaro é mais forte, diversos mesários comprometidos com a URSAL. Permitimos que se use camisas dos candidatos. Com isso, quando vemos alguém com camisa do Bolsonaro, roupa verde e amarela ou alguém que pareça votar no Bolsonaro, fazemos a biometria dar problema, mandamos ele assinar na lista e votar, mas sem que ele saiba não contabilizamos seus votos.
Após isso, na hora da contagem, temos agentes da URSAL em diversos locais do Brasil para tentar dar um fim nos BU que tenham votos significativos para o candidato da direita.
Depois, as informações dos boletins de urna são enviadas para uma empresa venezuelana ligada ao Maduro e a Sebin, e ela organiza os votos e envia para o TSE (é um serviço terceirizado), por isso a demora na divulgação da eleição presidencial, é o tempo em que enviamos para a Venezuela os votos e o tempo que ela manda de volta para o TSE. É essa a parte crucial do processo.
Nessa contagem, vamos pausando o envio dos dados e eliminando votos do Bolsonaro, até que o Haddad consiga vencer. Essa terceirização impede qualquer suspeita de fraude pois a manipulação não se dá nos servidores do TSE, os dados já são enviados para lá adulterados. Então fiquem tranquilos camaradas, estamos nas mãos do Maduro
URSAL vai fraudar urnas eletrônicas no 2º turno das eleições 2018?
Por incrível que pareça, as informações circularam muito na internet e deixaram muitas pessoas de cabelo em pé. Mas será mesmo que o “plano maligno” da URSAL e das urnas eletrônicas foram revelados? A resposta é não. Vamos aos fatos.
O desmentido é dividido em duas partes. Uma mais lógica e outra mais técnica. A lógica é apontar que o pressuposto de toda mensagem está prejudicado por só um motivo: a URSAL não existe. Já explicamos tudo sobre a origem e história desta fake news aqui. Como a tese é longa, os convido para ler os detalhes no link abaixo (spoiler, o termo surgiu de um artigo opinativo e cresceu em sites conspiracionistas):
Dossiê URSAL prova plano de criação da União das Repúblicas Socialistas da América Latina #boato
Aí você deve me perguntar: “E como você me explica essa página da URSAL no Facebook”? É óbvio que é uma página que não representa organização alguma. O primeiro motivo é que, depois do comentário de Cabo Daciolo, dezenas (quiçá centenas) de páginas do tipo foram criadas por pessoas que queriam “zoar” da teoria da conspiração. Essa é só mais uma delas.
O segundo motivo é que, como mostra o vídeo, a página da URSAL tem menos de 10 mil curtidas. Imagine só o “poder de representatividade de uma página” com esse número de seguidores? O terceiro é que seria muita burrice alguém postar um “plano público” como esse (se fosse verdade) no Facebook.
Agora, vamos à questão técnica. Para tanto, vamos recorrer à explicação do TRE-MG (que tem feito um belo trabalho contra as fake news) sobre o assunto. Os técnicos do órgão desmentiram ponto a ponto da balela. Leia:
Sobre uma suposta publicação em uma página do Facebook intitulada “URSAL – União das Repúblicas Socialistas da América Latina”, o TRE esclarece que não há possibilidade de alguma urna eletrônica ser programada com partes de “código” com erros propositais. Isso porque o software da urna é desenvolvido pelo TSE e assinado digitalmente e não pode ser alterado depois de instalado no equipamento.
Outra mentira que está na publicação é de que uma determinada urna, por causa desse código com “defeito”, teria os votos anulados. No caso extremo de haver um defeito insanável na hora da votação, há a possibilidade de substituição por outro equipamento, recuperando-se os dados gravados da urna que apresentou falha.
Sobre mesários “comprometidos” com a Ursal, outra falácia: de acordo com o Código Eleitoral, os mesários são nomeados 60 dias antes das eleições, de preferência, entre os eleitores da própria seção eleitoral que não sejam filiados a partidos políticos ou ligados a candidatos, entre outras restrições para manter a lisura do processo. A escolha dessas pessoas pode, inclusive, ser questionada por partidos políticos e coligações. Além disso, os mesários não têm possibilidade de contabilizar ou não determinado voto.
Com relação aos agentes que possivelmente dariam “um fim” aos boletins de urna, outra mentira: em cada seção eleitoral, após o término da votação, são impressas cinco vias obrigatórias do boletim. Uma é afixada na porta da seção eleitoral para que qualquer cidadão possa ter acesso; uma é destinada ao representante da fiscalização partidária; uma fica com o presidente da mesa receptora de votos para ser comparada com o boletim de urna divulgado pelo TSE na internet e duas são entregues à Junta Eleitoral com os demais documentos da seção eleitoral. Destas, uma é afixada no local da apuração e outra permanece arquivada no cartório eleitoral após as eleições. Além das 5 vias obrigatórias do boletim de urna, podem ser impressas até 5 vias adicionais, se requeridas pelos fiscais de partidos, coligações, imprensa e Ministério Público quando presentes no encerramento da votação na seção eleitoral.
Sem mais, já podemos cravar: a informação que aponta que a URSAL está planejando uma fraude nas urnas eletrônicas no 2º turno das eleições é falsa. Além de a URSAL não existir e o conteúdo ser uma “zueira”, a parte técnica foi desmentida pelo TRE-MG. Não acredite.
PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164.