Boato – A pesquisa publicada pela Revista Nature comprovou que homens que gostam de fazer amor “por trás” com parceiras têm homossexualidade enrustida. Segundo o estudo, a prática tem um significado de negação da anatomia feminina.
O tema homossexualidade já ganhou uma série de boatos na internet nos últimos anos, por ainda ser um assunto polêmico (mesmo em pleno século 21). Alguns deles até demoram para “bombar” nas redes sociais e voltam a circular com mais força anos depois, como é o caso da nossa história de hoje.
Em 2016, surgiu no Facebook uma pesquisa que aponta que homens que gostam de “amor por trás” com parceiras são gays enrustidos. Segundo o estudo, que voltou a circular pela web recentemente, gerando vários compartilhamentos, a prática onde o homem fica atrás da mulher tem um significado de negação da anatomia feminina, já que o inconsciente estaria imaginando homens no lugar das mulheres. Veja o texto original da publicação que viralizou entre os internautas:
Numa pesquisa feita e publicada na edição de Março da Revista Nature, Dra. Mary Collins deixa um aviso para as mulheres que são perguntadas várias vezes pelos seus parceiros. […]
Esta tese de doutoramento está cheia de polémicas. Ela fala sobre um tabu tão antigo como a idade da pedra. “As mensagens subliminares embutidas na prática em relações heterossexuais” é o titulo que revela categoricamente que homens que dizem ser heterossexuais e constantemente praticam este acto não sabem a sua orientação. […]
Nesta pesquisa concluiu-se que os homens ao não terem coragem de assumir os seus desejos são capazes de crueldade para que a mulher sinta a dor por eles. Segundo a pesquisadora as mulheres devem conversar com os seus parceiros para que estes possam honestamente assumir os desejos sem complexos de castração. […]
Pesquisa aponta que homens que gostam de “amor por trás” com parceiras são gays enrustidos?
A história circula há alguns anos pela internet. Primeiro, surgiu em blogs portugueses, circulou por páginas da Angola, Brasil e outros países e chegou a viralizar diversas vezes nas redes sociais. Mas será mesmo que essa pesquisa é verdadeira? A resposta é não! E podemos comprovar que ela não passa de um boato a partir dos seguintes fatos.
Para começar,a mensagem do post que divulgou o tal estudo carrega uma característica muito em fake news: a falta de verossimilhança. Se formos parar para pensar, a tese de que o homem que gosta de “amor por trás” com a parceira pode ser gay enrustido beira o absurdo e vai contra muito do que se diz sobre homoafetividade.
Afinal, gostar ou não de pessoas do mesmo sexo vai muito além da forma em que se pratica o ato. Se analisarmos direitinho, é possível entender que nem todo homossexual gosta da prática e nem todo mundo que gosta é necessariamente homossexual. O ponto principal aqui é a atração por pessoas e não a forma que é feita, como explica muito bem essa coluna publicada no Jornal da Paraíba.
Além disso, outro fato que nos levou a desconfiar da veracidade da notícia é que ao buscarmos pela tal pesquisa, descobrimos que ela não consta em nenhuma fonte confiável, sequer em sites que falam sobre comportamento. Ela foi divulgada apenas em blogs e redes sociais que não checam direito as informações.
Chegamos à mesma conclusão ao buscarmos também pelo nome da pesquisadora mencionada no texto da publicação, a suposta Dra. Mary Collins Scheer. Nada encontramos além da própria pesquisa em questão.
Ainda, apesar do nome estrangeiro, só achamos resultados em português sobre o assunto. Ou seja, se ela realmente fosse tão renomada, teria dezenas e, quem sabe, até centenas de artigos em inglês citando a tal pesquisadora, concorda?
Para finalizar, também procuramos pelo artigo que fala da suposta pesquisa na Nature, uma das revistas científicas mais renomadas do mundo, na qual ela supostamente foi publicada.Mais uma vez, não encontramos nada, como você pode ver aqui nesse link.
Resumindo: Não há fatos que comprovem que a tal pesquisa que diz que homens que gostam de “amor por trás” são gays enrustidos. A história que circula na internet surgiu do nada e não há qualquer estudo que relacione o ato sexual por trás com homossexualidade. Ou seja, mais uma vez, não se pode confiar em tudo o que se vê na internet.
PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164.