Depois de quase 600 textos escritos, editor do site lista quais foram, na sua opinião, as fake news mais marcantes de 2019. Texto é a quarta parte da retrospectiva do Boatos.org.
Estou cansado de desmentir fake news. Antes que a frase que abre esse texto gere qualquer dubiedade, quero deixar bem claro que o “cansado” não envolve qualquer desprazer ou chateação por escrever no Boatos.org. Estou cansado porque, em 2019, apurei quase 1000 fake news e escrevi quase 600 textos. Chororôs à parte, cá estamos para, dentre os quase 600 textos, estamos aqui para (assim como as minhas colegas Carol, Kyene e Raiane) escolher os cinco boatos mais impactantes do ano. Tive que deixar de fora muitos boatos que mereceriam estar na lista.
Faço “menções honrosas” à morte falsa do apresentador Gugu que, ironicamente, ocorreu duas semanas antes da morte real, do boato que falava que Jean Wyllys havia emprestado um carro para Adélio, que “inaugurou” um formato de fake muito popular em 2019, e balelas relacionadas a Glenn Greenwald, Greta Thunberg, Emmanuel Macron e tantas outras personalidades que “emergiram” em 2019 para “incomodar” muita gente por aí (inclusive do governo brasileiro). Dito isso, vamos à lista.
5) Homem que fez papel de diabo vencendo Jesus no Carnaval morreu #boato
O quinto lugar da nossa lista é um boato que conseguiu juntar muita coisa que sempre buscamos combater. A fake news expõe uma pessoa não tão conhecida, usa o preconceito (no caso religioso) como combustível e foi criado por um site que sempre publica fake news (e que, afortunadamente, acabou o ano de 2019 bloqueado pelo Facebook, Google e outros serviços).
Só isso já serviria para colocar essa história como uma das principais do ano. Mas essa balela entra na lista por ter sido o maior caso de sucesso do Boatos.org no Youtube. O vídeo que publicamos sobre o assunto teve 500 mil visualizações (mais visualizações do que qualquer artigo no Boatos.org neste ano) e mostrou que é possível fazer fact-checking no Youtube. Confira o vídeo do desmentido logo abaixo ou leia o artigo aqui.
4) Carlos Bolsonaro foi expulso de redes sociais (Facebook, Instagram e Twitter) por ordem de Gilmar Mendes #boato
O quarto lugar da nossa lista envolveu duas figuras emblemáticas da nossa política nacional: o ministro Gilmar Mendes, criticado por muitos por causa de decisões no STF, e Carlos Bolsonaro, o mais polêmico dos filhos do presidente e mostra um pouco da tensão política que vivemos em 2019 (mesmo sendo um período de entressafra eleitoral). No dia 12 de novembro de 2019, Carlos Bolsonaro suspendeu todas as suas contas em redes sociais (Twitter, Facebook e Instagram) e deu margem a muitas teorias da conspiração. Uma delas dava conta que a medida havia se dado após “ordem” do ministro Gilmar Mendes, algo que não procedia.
Coloquei esse desmentido na lista por dois motivos. O primeiro foi pelo fato de (assim como em tanta outras oportunidades) termos conseguido uma resposta rápida dos citados. Graças à nossa participação no Painel de Checagem de Fake News, conseguimos um rápido acesso à assessoria de Gilmar Mendes, que negou a informação. Também conseguimos uma resposta rápida do Twitter. O segundo foi (também como em tantas outras vezes no ano) termos sido o primeiro veículo a conseguir desmentir a informação (que já estava pipocando em redes sociais). Em um ano no qual diversos grandes veículos se debruçaram a desmentir fake news, ser o primeiro a publicar a informação correta dá um gosto especial. Para mais detalhes, clique no link.
3) Bolsonaro chama chineses para fazer estrada de ferro em Lucas do Rio Verde #boato
Em 2019, o nome Bolsonaro foi uma “constante” em fake news. O mais irônico era que a maioria das informações falsas sobre o presidente surgiu como uma “exaltação” de um “feito dele”. De todos os casos irônicos, o mais curioso foi esse.
Em maio deste ano, um texto exaltando Bolsonaro dava conta que ele “havia chamado os chineses para construir uma estrada de ferro”. Só mais um boato do gênero se não fosse um detalhe: em junho de 2018, o mesmo texto foi utilizado para atacar um “plano de dominação comunista” de chineses no Brasil. Ou seja: no governo anterior a fake news era sobre “dominação”, no atual é sobre “evolução”. Em tempo: a estrada do vídeo em questão não foi construída por chineses. Para mais detalhes, clique no link.
2) Dono da pousada de Brumadinho gravou vídeo “a gente vai embora” #boato
O ano de 2019 ficou marcado por alguns episódios tristes. O mais triste deles foi o desastre de Brumadinho. Além das centenas de mortos, feridos e desabrigados, o rompimento da barragem da Vale rendeu inúmeras notícias falsas na internet.
A mais impactante delas dava conta de um poema que havia sido declamado pelo dono de uma pousada que morreu na tragédia chamado “Quando a Gente Vai Embora”. Quem assistiu ao vídeo ficou com vontade de chorar só que a pessoa das imagens não era uma das vítimas da tragédia.
Essa história foi a segunda mais lida do ano no Boatos.org (teve quase 400 mil visualizações e só perdeu para uma história que envolvia o ataque de um cachorro à atriz Adriana Esteves), mas entra na lista como símbolo de uma série de boatos que tivemos que desmentir sobre o assunto. Para mais detalhes, clique no link.
1) Hackers estão colocando boneca Momo em meio a vídeos no YouTube Kids #boato
Em março, começou a circular na internet uma história que apontava que hackers estavam colocando vídeos da personagem momo (utilizada em um boato de 2018 que falava que ela seria um “demônio” e teria um jogo) em meio a vídeos do YouTube Kids (uma plataforma voltada para crianças).
Ficamos com medo da história se tornar uma “nova baleia azul” (quando uma fake news gerou uma atmosfera de pânico desnecessária). O medo só aumentou quando, por conta de apurações malfeitas, a mídia, de forma sensacionalista, começou a vender a história como real. Na época, fizemos o que todo jornalista deveria ter feito: tentamos subir o vídeo no YouTube. Como era de se esperar, não conseguimos.
Um dia depois do nosso desmentido, o youtuber Felipe Neto gravou um vídeo reforçando que a informação era falsa. Por ter evitado uma nova onda de pânico com algo desnecessário, esse foi o texto mais marcante deste ano na nossa modesta opinião. Para detalhes, clique no link.