Boato – EUA desenvolveram a cura para a Covid-19 e conseguiram tratar, de forma definitiva, 40 pacientes em estado grave durante um teste do Hospital de Stanford.
Lembram que ainda ontem a gente falava sobre comportamentos irracionais durante situações de pânico? Pois bem, eles só pioram e, agora, estão colocando a vida de muita gente em risco.
Se esvaziar as prateleiras dos supermercados e estocar comida já estava sendo uma atitude bem ruim. Agora, algumas pessoas resolveram limpar as prateleiras de farmácias atrás dos medicamentos cloroquina e hidroxicloroquina, usados no tratamento contra a malária. O motivo seriam fake news que andam circulando na internet e estimulando a compra dessa medicação, como a história de hoje.
De acordo com uma publicação que viralizou nas redes sociais, pesquisadores dos Estados Unidos teriam encontrado a cura para o novo coronavírus depois de realizarem testes no Hospital Stanford. Segundo a história, o tratamento seria à base das medicações cloroquina e hidroxicloroquina. Ainda de acordo com a publicação, 40 pacientes com quadro grave de coronavírus teriam se submetido ao tratamento e obtido uma cura definitiva. Confira:
Áudio: “Senhores, acabou de ser divulgado em Stanford que 100% dos 40 casos testados com hidroxicloroquina e azitromicina associados zeraram o PCR para Covid-19, ou seja, eles curaram a doença. Então, esse protocolo já tá sendo usado no Hospital do Coração e na Prevent Sênior a partir de hoje. Isso, provavelmente, vai mudar completamente o curso da doença”.
Versão 1: “Notícia Boa !! Foi aprovado medicamento Cloroquina para tratamento do coronavírus , usado nos EUA em 40 pacientes com quadro grave da doença e obteve 100% de cura GLORIA DEUS !! Medicamento liberado no Brasil Esse Remédio é para malária, muito antigo e barato, já usado no Brasil. A Dra. Maria Amélia diretora da Unimed Adamantina está em reunião na Unimed SP e acabaram de falar sobre esse remédio. Fonte direta”.
Versão 2: Pessoal, o remédio para coronavírus!!! O Trump já confirmou e acabou de passar na CNN Hidroxicloroquina Saiu a Cura! hidroxicloroquina Acabou de apresentar na Fox News dos EUA: Pesquisador de Stanford fez os testes com 40 pacientes obtendo 100% de cura, sem efeitos colaterais. Toda amostragem de pessoas com corona foi curado
EUA encontraram a cura para o novo coronavírus após teste no Hospital de Stanford?
Muita gente ficou feliz com a notícia e, por isso, compartilhou a suposta informação sem uma devida checagem antes. E aí? Será que essa notícia de que os EUA teriam descoberto a cura da Covid-19 por meio da cloroquina e hidroxicloroquina? A resposta é não!
Vamos aos detalhes! Essa história circulou bastante nas redes sociais, mas tem desinformação em dois níveis.
O primeiro deles é que apesar de, de fato, a cloroquina e hidroxicloroquina apresentarem resultados positivos contra o novo coronavírus, ainda não é possível apontar essa medicação como cura definitiva. Apesar disso, o presidentes dos EUA, Donald Trump, aprovou o tratamento contra a malária para combater a Covid-19 no país.
É importante destacar que a Food and Drug Administration (FDA), o órgão similar à Anvisa, nos EUA, admitiu que mais testes são necessários para comprovar a verdadeira eficácia do remédio e liberar a medicação para o tratamento da Covid-19.
Até o momento, há duas pesquisas bastante promissoras nesse sentido. Uma pesquisa chinesa indicou que a hidroxicloroquina tem uma ação interessante contra o vírus. Porém, toda a pesquisa foi feita com células in vitro. Ou seja, não foi testada em humanos. Já uma pesquisa realizada na França usou 36 pacientes humanos e também mostrou resultados animadores. Entretanto, além do número de cobaias ser pequeno, não houve randomização (uma separação aleatória de grupos de pacientes, evitando que fatores externos influencie nos resultados da pesquisa).
Vale ressaltar que toda pesquisa científica passa por um roteiro. São diversas etapas que precisam ser respeitadas para que o trabalho possa ser considerado válido. Nesse sentido, é importante revisar a literatura, formular uma hipótese e analisar os dados com base em uma metodologia. Depois disso, ainda há a publicação do material e a revisão por pares (outros pesquisadores da mesma área vão revisar o passo-a-passo seguido pelo pesquisador inicial e avaliar se houve algum equívoco durante o processo). Muitas pesquisas, especialmente quando se trata de um objeto novo (como a Covid-19), são preliminares, isto é, pretendem realizar algumas análises para comprovar se determinado medicamento pode atacar determinada célula, por exemplo. Para depois aprofundar, cada vez mais, os estudos. Ou seja, não é porque um medicamento conseguiu atacar células in vitro de um determinado vírus que ele pode ser considerado a cura da doença.
Nesse sentido, sair por aí comprando cloroquina ou hidroxicloroquina, neste momento, não faz o menor sentido. Ainda não existem pesquisas que possam comprovar que o remédio funcione em um tratamento contra a Covid-19. É importante destacar que a cloroquina ou hidroxicloroquina é uma medicação bastante utilizada para tratar doenças crônicas, como a lúpus, a artrite reumatoide e o reumatismo. Se muita gente resolver sair comprando o medicamento, pessoas que realmente precisam desses remédios poderão ter uma piora no quadro de suas doenças. Além disso, a cloroquina apresenta uma alta toxicidade, podendo levar à cegueira e até à morte se consumida em grandes quantidades. Ou seja, a automedicação não é recomendada (nem nesse caso e muito menos em outras situações).
Podemos relembrar aqui outro caso bastante parecido que colocou a vida de muitas pessoas em risco. Em 2015, o professor da USP Gilberto Chierice ganhou notabilidade na mídia por distribuir fosfoetanolamina sintética para algumas pessoas com câncer. Muita gente largou o tratamento convencional contra o câncer por acreditar que a substância poderia curar o câncer. Depois de muita discussão, o governo brasileiro autorizou uma pesquisa para compreender a eficácia da substância no tratamento contra o câncer. Em 2017, os resultados foram categóricos: a ação da substância não era suficiente para combater as células cancerígenas. E, infelizmente, nesse período, muita gente já havia deixado a quimioterapia de lado para se dedicar, exclusivamente, ao tratamento com fosfoetanolamina e tiveram piora em seus quadros.
Voltando à nossa história, o segundo ponto é mais claro. Não foram os pesquisadores dos Estados Unidos que “descobriram” a cura. Apesar da publicação apontar que a pesquisa foi desenvolvida nos Estados Unidos (em alguns casos, há um áudio atribuindo o estudo ao pesquisador Cláudio Lottenberg, do Hospital Albert Einstein), os testes foram realizados na França. A única coisa que Donald Trump fez, além de causar pânico na população, foi pedir para que a FDA aprovasse às pressas o uso da medicação para que ela fosse testada nos Estados Unidos.
Em resumo: a história que diz que os Estados Unidos descobriu a cura para a Covid-19 por meio da cloroquina ou hidroxicloroquina é falsa! As pesquisas ainda são preliminares e precisam de muitos outros testes para comprovar se a medicação realmente pode curar a Covid-19. Além disso, os testes foram realizados na França e não nos EUA. Até o momento, temos boas expectativas de encontrar um tratamento adequado para a doença, mas é só. Ou seja, a história não passa de balela. Não compartilhe fake news, fique em casa (se possível) e apoie a Ciência. Até a próxima!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
Confira a lista de todas as fake news sobre o novo coronavírus
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