Boato – O número de mortes diárias por Covid-19 caiu por causa de investigação de Nelson Teich e Sérgio Moro, depois que os ministros anunciaram uma auditoria sobre os óbitos divulgados.
Em mais uma série do debate “todos contra o isolamento social” que tomou conta da internet, contrariando as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, surgiu, ao que parece, uma espécie de teoria da conspiração sobre uma suposta queda nos números de óbitos em decorrência da Covid-19 divulgadas pelas autoridades de saúde no país.
De acordo com uma publicação que está circulando as redes sociais, especialmente no Facebook, o número de mortes diárias pela Covid-19 teria caído por causa de uma suposta investigação de Nelson Teich e Sérgio Moro.
Após os ministros da Saúde e da Justiça terem anunciado uma auditoria sobre os dados divulgados pelos estados, São Paulo teria diminuído drasticamente a quantidade de óbitos e até a Globo supostamente parou de divulgar as mortes por coronavírus.
A postagem foi compartilhada em toda parte, principalmente por grupos de pessoas pró-governo e contrários ao isolamento social horizontal, que defenderam: “Mais uma vez, Bolsonaro tem razão”. Confira, a seguir, as duas versões da mensagem que está rodando online:
Versão 1: Após anúncio do Ministro Sérgio Moro que a PF irá investigar as mortes por Covid 19, cai o número de mortos em todo País. Versão 2: Nelson Teich está auditando todos os números divulgados pelos Estados sobre o Covid-19 Resultado: 1-Números de SP começaram a cair como mágica 2-A Globo parou de divulgar os números de óbitos 3-Estados e Prefeituras avisaram que vão reabrir suas economias
Número de mortes diárias por Covid-19 caiu por causa de investigação de Nelson Teich e Sérgio Moro?
A notícia sobre a suposta auditoria que resultou na queda de óbitos causados pelo novo coronavírus viralizou rapidamente e deixou muitos internautas chocados com a possibilidade de fraudes nos números reais da pandemia. Mas será mesmo que o número de mortes diárias por Covid-19 caiu por causa de investigação de Nelson Teich e Sérgio Moro? A resposta é não! E o porquê você confere a seguir.
Para começar, as duas versões da mensagem que está sendo compartilhada carregam todas as características de fake news: são vagas (não trazem mais informações que possam comprovar a tese), alarmistas (têm o intuito de tirar as pessoas do isolamento social), possuem erros de português e não citam fontes confiáveis que possam confirmar o que está sendo dito.
Em segundo lugar, esse papo de “fulano fez auditoria” já é manjado, principalmente depois que Bolsonaro foi eleito. Você deve se lembrar, por exemplo, do boato que desmentimos sobre Bolsonaro supostamente ter feito uma auditoria e descoberto R$ 23 milhões do PIS/PASEP escondidos por Lula e pelo PT.
Isso sem contar as inúmeras balelas relacionadas ao coronavírus com fundo político. Foi só fazer uma rápida busca para descobrimos que a suposta queda no número de mortes pela Covid-19 no Brasil não se deu por conta de “dados inflados”.
E aí chegamos à tese de que Sérgio Moro e a Polícia Federal (PF) estavam investigando esses dados, mas que já foi derrubada na semana passada. A página Fato ou Fake, do portal G1, por exemplo, divulgou que o ministro da Justiça e a PF desmentiram a informação.
O Ministério da Justiça informou que Sérgio Moro “não se manifestou sobre esse tema”, enquanto a Polícia Federal afirmou que “qualquer informação que circule nas redes sociais em nome da Polícia Federal que não tenha partido” destes canais é de “total responsabilidade de quem a divulgou”.
Fora o fato de que a suposta queda no número de óbitos pela Covid-19 não tem lógica, já que os dados mais recentes sobre a letalidade da doença no país no mês de abril mostram o contrário. Entre os dias 14 e 18 de abril, por exemplo, as mortes no Brasil chegaram a uma quantidade de 200 por dia, segundo as secretarias municipais de saúde.
O site E-farsas também desmentiu a notícia, já que não é possível encontrar nenhum comunicado ou pronunciamento da PF ou do Ministério da Justiça (comandado por Moro) em seus canais oficiais. Além disso, nas redes sociais, até há menções do ministro da Justiça às palavras “Covid-19” ou “Coronavírus”, mas nenhuma delas relacionadas à investigação.
A Agência Lupa, por sua vez, chamou a atenção para uma divergência na suposta queda de mortes pelo coronavírus mencionada no boato. A publicação começou a circular nas redes sociais desde, pelo menos, 14 de abril, exato dia em que o Brasil registrou o maior número de óbitos em decorrência do vírus: 204 pessoas.
O número se repetiu no dia seguinte e, no dia 16, caiu para 180. No entanto, em 17 de abril, voltou a subir e bateu um novo recorde, de 217 mortes. Sendo assim, apesar da queda em um desses dias, não é possível dizer que houve redução na quantidade de mortes por Covid-19 no país.
Sobre a suposta auditoria do novo ministro da Saúde, Nelson Teich, também não houve nenhuma menção a esse assunto. Em sua primeira entrevista em coletiva de imprensa nessa quarta-feira (22) desde que assumiu o cargo, Teich falou apenas sobre o bom desempenho do Brasil no combate à pandemia, na comparação com países que já atingiram o pico, como Estados Unidos, Itália, Alemanha e França, quando considerado o número total de mortes pela Covid-19 em relação ao total da população.
Também falou sobre as novas medidas de isolamento social que serão apresentadas, provavelmente, em escala vertical, para não prejudicar a economia do país e, também, sobre melhora na logística de distribuição de equipamentos e materiais, como os testes, por exemplo, que ficará sob a responsabilidade do general Eduardo Pazuello, nomeado pelo ministro como novo secretário-executivo da Saúde. Ou seja, nada sobre auditoria.
E, por fim, chegamos à grande questão: por que o número de mortes caiu? Apesar de ainda ser muito cedo para falar, existem duas hipóteses: a primeira delas seria o resultado das medidas de isolamento social. Afinal, esse é justamente o objetivo da medida, de achatar a curva e evitar mais contaminações pelo vírus, como aconteceu no estado de Minas Gerais, por exemplo.
Além disso, medidas tomadas muitos dias antes (em relação ao número de casos, uma média de duas semanas, e no caso de mortes, um pouco mais) impactam só depois, o que pode ter a ver com a redução que estamos vendo hoje. Inclusive, infelizmente, como a quantidade de pessoas que estão respeitando o isolamento social caiu, isso deve impactar (negativamente) os números mais à frente.
A segunda hipótese para a suposta queda no número de óbitos pela Covid-19 seria a subnotificação. No momento, nos estados que estão com um crescimento de casos e mortes causadas pelo novo coronavírus (principalmente Amazonas, Ceará e Pernambuco), infelizmente, o serviço de saúde está começando a colapsar. Até porque, com o aumento de casos, os testes ficam na fila e demoram mais tempo para serem processados, o que impacta fortemente no resultado.
Foi o que explicou o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, à revista Veja: “Ao concentrar a explicação apenas nos números oficiais de casos e óbitos, pode haver a construção de uma narrativa que os óbitos estão diminuindo, quando, na verdade, é pela falta de testes. Apesar do número de exames estar aumentando, ainda não é o ideal. À medida que tenhamos mais testes disponíveis, talvez esse número de casos de Covid-19 seja mais real”, disse.
Resumindo: Se a suposta redução nas notificações de óbitos pela Covid-19 foi motivada pela primeira hipótese ou mix das duas, o fato é que a queda do número de mortes pela doença não teve a “mão de Moro ou de Teich” e tampouco tem a ver com “supernotificação” de casos no período de governo do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. O boato está sendo espalhado na internet com a finalidade de causar polarização política e, ainda, para convencer as pessoas a contrariarem as medidas de isolamento social.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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