Boato – Paolo Zanotto, professor da USP e pesquisador da Fapesp, escreveu um texto condenando um estudo com cloroquina que resultou em mortes de pacientes. Ele chamou o estudo de “assassinato e conspiração”.
Com os serviços de saúde colapsando por causa do grande número de casos de Covid-19, uma medicação eficiente para tratar a doença seria um caminho não só para desafogar os leitos de UTI como também para salvar vidas. É por isso que estudos com medicamentos que já existem estão sendo realizados por todo mundo.
Dentre os “candidatos” (vale dizer que ainda não existe, de acordo com a OMS e Ministério da Saúde, remédios que “curem” a Covid-19), um tem chamado muita atenção no Brasil, principalmente, pelo uso político: a cloroquina. Neste sentido, um texto atribuído ao pesquisador da USP Paolo Zanotto condenando um estudo que foi interrompido em Manaus começou a circular na internet.
De acordo com uma mensagem que circula online, Zanotto teria escrito um texto falando que o “estudo científico” seria, na realidade, um plano contra o Brasil que envolve assassinatos e conspiração. Leia a mensagem que circula online (cortamos alguns trechos porque o conteúdo é muito extenso):
O Autor deste texto é o Dr Paolo Zanotto, professor da USP e reconhecido pesquisador da FAPESP. SERÍSSIMO O QUE ELE RELATA: UM PLANO CONTRA O BRASIL. TÍTULO: Assassinato, Conspiração disfarçado de estudo científico. O que a polícia, o MP, a imprensa e todos precisam saber.
O assunto cloroquina, hidroxicloroquina esteve na mídia recentemente e recebeu tratamento de partida Fla x Flu. Algo me intrigava como médico e comecei a ler toda a literatura científica disponível. Mergulhei então na pesquisa do mecanismo da doença e no mecanismo de ação da cloroquina e hidroxicloroquina. E não é que havia muitas evidências científicas antigas e consagradas do uso da medicação pra doenças virais?
Mas algo me chamou atenção. A insistência do MS em desautorizar a droga. Pior ainda foi quando começaram a fazer isso usando como referência o estudo fatídico do Amazonas. Vou lhes explicar o porque! A primeira estranheza foi o MS e a imprensa inteira começar a usar tal estudo como referência dos malefícios da cloroquina. Um pequeno adendo, a cloroquina é mais velha e mais tóxica que a Hidroxicloroquina. Mas no estudo do Amazonas foi ela mesma quem foi usada.
Mas sigamos com minhas interrogações e observações pra que acompanhem meu raciocínio como médico. A dose usada no estudo foi de 900 e 1200 mg por dia durante dez dias consecutivos. O que acarretou muitos efeitos colaterais e 11 mortes. Mas aí fiquei curioso, porque usaram essa dose tão alta? Como o Conep autorizou um estudo como esse com dose tão alta? Aí começam as grandes surpresas e constatações. […]
Quem é a assessoria de comunicação do MS? Ugo Braga conhecido militante do PCdoB, inclusive houve escândalo recente de sua renovação de contrato bilionário feita por Mandetta. Mas esperem aí, quem eram os pesquisadores que assinavam o estudo? Marcos Vinícius Guimarães de Lacerda, médico e militante político da esquerda ligado à Fiocruz. Os pesquisadores idem. E pra completar… […]
Dr. Paolo Zanotto escreveu texto “assassinato, conspiração disfarçado de estudo científico” sobre pesquisa com cloroquina?
Muita gente compartilhou a mensagem na internet e saiu apontando os dedos contra a tal pesquisa do Amazonas. Mas será mesmo que o Dr. Paolo Zanotto escreveu o texto intitulado “assassinato, conspiração disfarçado de estudo científico”? A resposta é não. Calma aí que a gente explica tudo para vocês.
Antes de falar da autoria em si, vamos falar do teor. Boa parte do que está escrito na mensagem já foi desmentido em outro texto do Boatos.org. Alguns pontos a serem relembrados: 1) O médico em questão não é um “militante político”. 2) O estudo teve, sim, autorização da Conep para ser realizado. 3) Não é possível afirmar que os pacientes morreram durantes os testes por causa de superdosagem. Ao contrário: as doses mais altas foram suspensas porque se descobriu que elas não surtem mais efeito do que doses menores no combate ao coronavírus.
Dito isso, vamos à parte que fala da autoria do texto. Ele não é do Dr. Paolo Zanotto (que é, de fato, um dos defensores do uso da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com Covid-19). O próprio médico desmentiu a informação em suas redes sociais. Leia o que ele escreveu a respeito do assunto:
Prezados, gostaria de informar que este texto é produto da Fakectory, não escrevi este lixo. O que aconteceu em Manaus está nas mãos do MPF e não me cabe comentar. Por favor compartilhem. #NoMoreFakectory
Resumindo: a história que aponta que o Dr. Paolo Zanotto, pesquisador da USP, chamou o estudo sobre a cloroquina realizado no Amazonas de “assassinato e conspiração” é falsa. Além de o texto ter informações erradas, ele não foi escrito pelo pesquisador em questão.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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