Boato – A OMS disse que pessoas que não apresentam sintomas não transmitem a Covid-19. Isso mostra que o isolamento social e uso de máscaras foram inúteis no combate ao coronavírus.
Desde quando o coronavírus chegou ao Brasil, alguns leitores do Boatos.org têm reclamado das críticas que temos feito ao posicionamento de Jair Bolsonaro sobre o assunto (que insiste em uma tese esdrúxula de que “devemos seguir a vida normalmente”). As críticas têm sido feitas porque o presidente não se ajuda. E hoje vamos falar de mais uma “conclusão dele e de seguidores”.
Tudo começou com uma fala de Maria van Khervoke, chefe do programa de emergências da OMS (Organização Mundial da Saúde). Durante entrevista coletiva, ela deu a seguinte declaração: “A partir dos dados que temos, ainda parece ser raro que uma pessoa assintomática realmente transmita adiante para um indivíduo secundário”.
A fala gerou um tsunami de superinterpretações sobre o assunto. A primeira delas foi que a OMS teria dito que “assintomáticos não transmitem o coronavírus”. A segunda é que a OMS disse que “pessoas que têm o vírus e não apresentaram sintomas não transmitem o coronavírus”. A terceira é que o “isolamento social foi inútil e que o melhor era só ter isolado quem tem sintomas”. A quarta (compactuada pelo presidente) é de que devemos abrir a economia desde já.
Isolamento social foi inútil porque OMS disse que assintomáticos não transmitem Covid-19?
Então, a fala da pessoa da OMS (como mostramos na primeira parte do texto) é real. Mas será mesmo que as conclusões que estão sendo tomadas (que pessoas sem sintomas não transmitem a doença e que devemos acabar com o isolamento social) são reais? Não, não são. Vamos aos fatos.
Para entender o que aconteceu, precisamos entender o contexto em que foi feita a fala (que muitos especialistas em saúde consideraram totalmente infeliz) da representante da OMS (como aponta, por exemplo, a microbiologista Natalia Pasternak).A fala não foi feita após com base em um estudo robusto e sim uma resposta da entrevista. E aí chegamos ao primeiro ponto para derrubar: a tese de que pessoas sem sintomas, necessariamente, não transmitem a Covid-19.
A própria Dra. Maria van Khervoke fez publicações no Twitter fazendo algumas ressalvas em relação à própria fala. A primeira é de que é preciso fazer uma diferenciação entre assintomático e pré-sintomático. Enquanto o assintomático é aquela pessoa que passa pela Covid-19 sem apresentar sintomas, o pré-sintomático é aquela pessoa que ainda não apresentou sintomas, mas que irá apresentar. E aí está: o pré-sintomático tem maiores chances de transmitir o coronavírus do que o assintomático.
Ou seja: você ter a Covid-19 e não apresentar sintomas não significa que você é assintomático. E sabe quando você vai descobrir se foi assintomático ou se teve sintomas (adivinha)? Quando você estiver curado. Por isso, enquanto você estiver com a Covid-19 não deve furar (independente da condição) a quarentena.
A cautela foi reforçada pela própria OMS, que tratou de (tentar) corrigir as distorções da fala apresentada pela representante. A Organização Mundial da Saúde afirmou que pessoas sem sintomas (incluindo assintomáticos e pré-sintomáticos) podem, sim, infectar outras pessoas (cerca de 40% das infecções ocorrem dessa forma). A única questão é saber o quanto a pessoa nessas condições infectam as outras.
Vamos ao outro ponto: tem gente falando que a declaração da representante da OMS denota que o isolamento social foi inútil. Essa é uma distorção gigantesca do que foi dito. Em nenhum momento, a Organização Mundial da Saúde disse que o isolamento não ajuda a combater o coronavírus (ao contrário, reforçou que o isolamento social e máscaras são importantes).
Para além da questão relacionada aos assintomáticos e pré-sintomáticos, os números não deixam mentir em relação à eficácia do isolamento social. Uma pesquisa, por exemplo, apontou que o lockdown na Europa salvou 3 milhões de pessoas. A Nova Zelândia venceu (por enquanto) a doença por causa das medidas de isolamento.
O Brasil poderia estar em uma situação pior se não tivesse (como pediu o presidente) adotado nenhuma medida de isolamento, mas poderia estar em uma situação mais confortável se as regras para que se evite aglomeração fossem mais respeitadas.
Por todos motivos apresentados acima (não há estudos suficientes quem comprovem a infecção por assintomáticos, não é possível saber se a pessoa é assintomática ou pré-sintomática e o isolamento tem se mostrado, sim, eficaz quando bem feito), a tese de que “devemos todos voltar agora”, defendida por Bolsonaro, beira o ridículo. O Brasil só deveria pensar nisso quando o número de casos começassem a cair (o que, por causa da péssima gestão em saúde por parte do governo, deve demorar) e não agora, quando, nem chegamos ao pico da pandemia.
Resumindo: a história que aponta que isolamento social foi inútil e que a OMS disse que pessoas sem sintomas não transmitem a Covid-19 é falsa. Trata-se de uma distorção de uma fala (infeliz) de uma representante da Organização Mundial da Saúde e que foi corrigida pela mesma (e por outras pessoas).
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99177-9164.
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