Boato – Para identificar se você está sendo espionado através de um espelho de duas direções, basta fazer o teste de unha e ver a profundidade do seu reflexo.
Sabemos que o mundo digital trouxe muitos benefícios para a sociedade, mas ao mesmo passo, nossa privacidade está cada vez mais exposta. Dessa forma, o privado tem se tornado cada vez mais público.
Nos últimos dias, uma história bastante curiosa voltou a circular nas redes sociais e tem deixado muita gente paranoica. Publicações têm alertado para uma suposta prática que estaria expondo, principalmente, mulheres.
De acordo com as publicações, o uso de espelhos falsos (onde você consegue ver a sua própria imagem de um lado e, do outro, você consegue enxergar o que acontece do lado contrário) tem aumentado em locais públicos. Mas segundo a história, identificar espelhos “falsos” seria muito fácil. De acordo com o texto, bastaria encostar o dedo na superfície do espelho. Se houver um espaço entre o dedo e a imagem refletida, então, o espelho é verdadeiro. Já se o dedo encostar na imagem refletida, ele seria “falso”. Confira:
“MENINAS, UM ALERTA !!!…cuidados nunca é demais !!! VOCÊ SABE SE O ESPELHO EM LOCAL PÚBLICO QUE VOCÊ ESTÁ SE VENDO É O VERDADEIRO ??? ESPELHO DE 2 DIREÇÕES: COMO DETECTAR ??? INFORMAÇÃO POLICIAL Quando forem curtir um hotel, lojas de departamentos, pousada ou mesmo banheiro público, prestem atenção nos espelhos. Vocês podem estar sendo observadas, por isso não custa nada fazer o teste abaixo. Serviço de Utilidade Pública em Prol da Integridade Feminina: Quando as mulheres vão à banheiros, quartos de hotel, vestiários mudar de roupa, academias, etc., quantas podem estar certas de que o espelho, aparentemente comum, pendurado na parede é um espelho de verdade ou um espelho de duas direções ??? (daqueles em que você vê sua imagem refletida, mas alguém pode te ver do outro lado do vidro como os da Casa dos Artistas, A Fazenda e Big Brother).
Tem muitos casos de pessoas instalando espelhos de duas direções em locais frequentados por mulheres, para filmar, fotografar ou simplesmente ficar olhando. É muito difícil identificar positivamente o tipo de espelho apenas olhando para ele. Então, como podemos determinar com boa dose de precisão que tipo de espelho é o que estamos vendo? É MUITO SIMPLES: Faça apenas este teste: Toque na superfície refletida com a ponta da unha. Se existir um ESPAÇO entre a sua unha e a imagem refletida, o espelho é GENUÍNO. O espaço é equivalente à espessura do espelho, pois a parte que reflete é a parte do FUNDO do vidro, não a parte da frente.
Entretanto, se a unha TOCA DIRETAMENTE na imagem, NÃO havendo um espaço CUIDADO COM ELE, POIS É UM ESPELHO DE DUAS DIREÇÕES. A parte reflexiva é a parte da frente, não a do fundo do vidro. Então, lembre-se a cada vez que você vir um espelho, faça o “TESTE DA UNHA”, tem que haver um espaço !!! Aproveite para chamar a polícia, pois trata-se de crime previsto em lei. Mulheres, ensinem isto para suas amigas! Homens, ensinem isto para suas esposas, filhas, namoradas, amigas”.
Teste de unha identifica se há alguém lhe espiando em um espelho de duas direções?
A história fez verdadeiro sucesso nas redes sociais, especialmente, no Facebook e já ultrapassou a marca de 200 mil compartilhamentos em apenas uma publicação. Muita gente ficou preocupada, mas a verdade é que a história é falsa!
Uma simples olhada no texto já mostra que a informação não é confiável. A publicação segue aquele velho roteiro de fake news na internet, como o caráter vago, alarmista, os erros de português, pedido de compartilhamento e a falta de fontes confiáveis.
Além disso, dicas absurdas de como fazer os desmascarar determinada coisa já circulam há algum tempo na internet. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, como a que dizia que todo cofre de hotel é aberto com a senha de seis zeros, o 000000, e também a que indicava que chaves magnéticas de hotéis roubariam dados de hóspedes.
Se você parar para ler com atenção o texto, vai ver que ele não faz o menor sentido. A explicação fica por conta das aulas de química e física do ensino médio. O processo de fabricação de um espelho normal, geralmente, consiste na junção de 3 camadas de materiais distintos. A principal dela é uma superfície refletora de metal superpolida, geralmente, de prata que vai refletir a luz (e a imagem). Ela fica no meio do espelho. A segunda é uma camada escura (de tinta preta) que fica posicionada atrás da camada refletora. A função dela é impedir que a luz que vem da camada refletora “vaze”, garantindo que a imagem seja refletida. Por fim, temos a camada de proteção, geralmente, de vidro ou cristal que fica posicionada na frente da camada refletora. Sua função, assim como indica o nome, é proteger a superfície metálica contra riscos que podem distorcer a reflexão dos raios de luz.
Vale ressaltar que alguns espelhos são produzidos com a aplicação de uma película refletiva em cima do vidro ou com a camada protetora (de vidro ou cristal) em uma espessura mais fina. Isso ocorre para baratear a produção.
Já o espelho unilateral (ou espelho semi-transparente) nada mais é do que um vidro revestido por uma camada fina (e quase transparente) de algum metal, geralmente, o alumínio. Dessa maneira, ele possui uma superfície espelhada que reflete 80% da luz, mas que deixa passar 20% dela para o outro lado. E o que esse espelho funcionar é o jogo de luz. Para isso, um lado precisa estar bem iluminado e o outro não. Dessa forma, o lado bem iluminado vai ver o próprio reflexo, enquanto o lado mais escuro vai conseguir enxergar o outro lado sem ser visto. Isso ocorre, porque o lado mais escuro fica “mascarado” pelo reflexo muito mais brilhante do lado iluminado.
Por conta disso, o teste de unha não funciona! De acordo com o Centro de Referência para o Ensino de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), quando tocamos um espelho comum com um objeto fino, como a ponta de uma caneta, fica mais fácil perceber que o objeto não toca a própria imagem (evidenciando a presença da camada de proteção do espelho). Porém, quando fazemos isso com o dedo, se torna muito difícil perceber que o dedo não toca a imagem. Além disso, a espessura da camada de proteção do material refletivo pode causar confusão, já que vidros ou cristais de menor espessura vão dar a impressão de que o objeto realmente encosta na imagem refletida. Ou seja, não é só porque você tem a impressão de que está encostando na própria imagem, que o espelho é “falso”.
Aliás, o termo espelho “falso” é bastante equivocada. Se uma superfície reflete a luz em uma direção definida e, consequentemente, reflete uma imagem, ela é um espelho. Não existe espelho “falso”. Ou é ou não é.
Se isso não bastasse, um vídeo do projeto Física, Brincando e Aprendendo (FiBrA), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mostra exatamente o funcionamento do espelho unidirecional. De acordo com a explicação, ambos os lados podem ser visto com uma simples brincadeira de luzes. Ainda segundo o vídeo, para que ambas as pessoas consigam ver através do espelho unidirecional, é necessário que a intensidade das luzes se equilibre. Ou seja, para descobrir se o espelho é unidirecional, basta apagar as luzes ou diminuir a intensidade delas. Dessa forma, será possível ver as imagens embaralhadas, identificando se há algo ou alguém do outro lado. Ou até mesmo colocar as mãos acima dos olhos e encostar o rosto no espelho.
Além disso, ainda temos a questão do posicionamento do espelho. Um espelho unidirecional (ou semi-transparente) precisaria ser colocado dentro da parede (não podendo ficar pendurado). Também existe a questão do valor investido na compra e instalação desses espelhos. Um espelho unidirecional é muito mais caro e demanda muito mais tempo, dinheiro e investimento para a sua instalação.
O texto ainda fala em uma “lei contra espelhos falsos”. Procuramos bastante na internet, mas não encontramos nenhuma lei brasileira específica que impeça o uso do material.
Por fim, o texto já circula há algum tempo na internet, mais especificamente, antes da virada do século! Em 1999, o serviço de fact-checking dos EUA, Snopes, chegou a desmentir a informação. Em 2002, o também serviço de fact-checking Break The Chain voltou a esclarecer a questão. Segundo o site, a policial citada na versão em inglês do texto nunca disse que o teste de unha funciona.
Em resumo: a história que diz que o teste de unha poderia identificar se um espelho é “falso” não é verdade! Essa história já circula há um bom tempo na internet (antes da virada do século!) e começou a ser compartilhadas nos Estados Unidos, antes de vir para o Brasil. Além disso, o teste da unha não é preciso, uma vez que a qualidade dos espelhos pode variar. Por fim, para descobrir se um espelho é unidirecional ou não, basta equiparar a intensidade da luz com a do outro lado, como apagar as luzes ou encostar o rosto com as mãos acima dos olhos no espelho.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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