Boato – Patologista canadense Roger Hodkinson está correto ao dizer que o coronavírus (tratado como “vírus chinês”) é uma farsa e que não há nada que possa ser feito para o conter.
Infelizmente, o trabalho de checagem (e do jornalismo em geral) em tempos de pandemia se resume, em alguns casos, em explicar o óbvio e desmentir falas tão absurdas como perigosas. No caso de hoje, vamos falar de um texto que sites e perfis negacionistas (que ainda insistem em falar que a pandemia da Covid-19 não é grave) estão reproduzindo como “papagaios” (não queremos ofender os papagaios com isso).
Textos apontam que “a verdade” foi revelada por um patologista canadense chamado Roger Hodkinson. Em uma conferência, de acordo com as mensagens, o patologista canadense teria “revelado” as seguintes (des)informações: 1) A Covid-19 (que seria um vírus chinês) é a maior farsa já perpetrada”. 2) Não existe nada que possa ser feito para conter esse vírus. 3) As máscaras são inúteis e a OMS não as recomenda. 4) Os exames PCR são falsos. 5) O isolamento social é inútil. 6) A política está jogando com a medicina. Leia:
De acordo com o Dr. Roger Hodkinson, um dos principais patologistas do Canadá e especialista em virologia, a pandemia COVID-19 é a “maior fraude já perpetrada contra um público desavisado”. Hodkinson fez essas declarações contundentes durante uma conferência on-line para um Comitê de Serviços Públicos e Comunitários de Alberta.
Hodkinson é o CEO da Western Medical Assessments, uma empresa de biotecnologia que fabrica testes de PCR COVID-19, então “eu talvez entenda um pouco sobre tudo isso”, disse ele, acrescentando que toda a situação representa “a política brincando de medicina”, que é “uma brincadeira muito perigosa.”
Ele enfatizou que os testes de PCR simplesmente não podem diagnosticar a infecção e, portanto, os testes em massa devem cessar imediatamente. Ele também destacou que o distanciamento social é inútil, pois o vírus “se espalha por meio de aerossóis que percorrem cerca de 30 metros”. Quanto às máscaras, Hodkinson afirmou que:
“As máscaras são totalmente inúteis. Não há nenhuma base de evidência para sua eficácia. Máscaras de papel e máscaras de tecido são simplesmente símbolos para fazer as pessoas se sentirem virtuosas. Elas nem são usadas de forma eficaz na maioria das vezes.
É totalmente ridículo. Vendo essas pessoas infelizes e ignorantes – não estou dizendo isso em um sentido pejorativo – vendo essas pessoas andando por aí como cordeirinhos obedientes, sem nenhuma base de conhecimento, colocando máscara em seus rostos … Nada poderia ser feito para impedir a propagação do vírus além de proteger as pessoas mais velhas e vulneráveis.”
“Vírus chinês” é a maior farsa e não existe nada que possa ser feito para o conter?
A mensagem se espalhou muito, graças a pessoas que a reproduziram como uma verdade absoluta. Porém, as afirmações em questão não procedem. Para que vocês entendam, vamos explicar tudo por tópicos. Mas antes, vamos falar algumas coisas em âmbito mais geral.
A primeira é uma alerta que já fazemos há algum tempo: o fato de a fonte da informação ser um profissional de saúde não o abstém de desinformar. Não é de hoje que estamos sendo obrigados a desmentir publicações falsas que se agarram em falas de profissionais de saúde que não apresentam qualquer prova do que dizem.
Nesta semana, checamos um texto escrito por uma médica simpática ao presidente Jair Bolsonaro com uma dezena de informações falsas sobre a Covid-19. Manifestações de médicos negacionistas da Espanha, Itália e Alemanha também foram desmentidas por aqui. Em todos os casos, as informações iam totalmente contra o que a ciência e autoridades em saúde apontam em relação à pandemia.
A segunda informação que queremos passar é que a prova de que a fala não deve ser levada a sério é que o YouTube, ao ver a repercussão do vídeo desinformativo, o bloqueou da plataforma. Ou seja: até mesmo o YouTube já reconheceu o potencial danoso do vídeo. Além disso, sites de checagem como o Snopes e o próprio Royal College do Canadá (citado na história) mostraram que as informações do médico em questão estavam erradas. Dito isso, vamos checar os tópicos citados. A grande maioria das informações já foram mostradas em outros textos falsos sobre mais do mesmo.
Fake #1: A Covid-19 (que seria um vírus chinês) é a maior farsa já perpetrada
É óbvio que essa informação é falsa. Se a Covid-19 é uma farsa, como explicamos 1,4 milhão de mortes no mundo e mais de 170 mil mortes no Brasil? Foram pessoas voluntárias “da farsa”? É lógico que o vírus existe e, por não termos uma medicação que cure (nem cloroquina, nem cocaína, nem nada), o que podemos fazer é evitar que o vírus se espalhe.
Fake #2: Não existe nada que possa ser feito para conter esse vírus
Essa é outra falácia que vai ao encontro de falas cretinas do tipo “todos vão morrer um dia”. Apesar de não existir uma medicação que cure a Covid-19, há sim medidas que as pessoas, médicos, cientistas e autoridades devem tomar. Médicos já conhecem alguns procedimentos que ajudam reduzir o número de mortes, cientistas estão correndo para descobrir uma vacina contra a doença, autoridades deveriam seguir autoridades em saúde e dar instruções claras para a população, que, por sua vez, devem manter distanciamento social, usar máscaras, evitar aglomerações, higienizar mãos e não compartilhar fake news.
Em um mundo no qual “ninguém fizesse nada” para “conter o vírus” (assim como muitos sugerem para termos a imunidade de rebanho), os hospitais estariam colapsados, a letalidade do vírus (dada a falta de hospitais) estaria maior, grande parte da população já teria pego a Covid-19 e o número de mortes seria estarrecer. Seria, de fato, um genocídio da população. Para piorar, sequer temos a garantia que a imunidade de rebanho chegaria (dada a possíveis mutações do vírus).
Fake #3: As máscaras são inúteis e a OMS não as recomenda
Não é verdade que as máscaras são inúteis. Apesar de ainda não existir estudos que atestem o nível de proteção que ela nos dá, é fato que ela ajuda a desacelerar a infecção contra a Covid-19. Na situação em que vivemos, desacelerar a infecção até que consigamos uma vacina já é muita coisa. Não é verdade que a OMS não a recomenda. De acordo com esta página, a OMS recomenda que governos incentivem as pessoas a usar máscaras em locais onde há muitas pessoas infectadas na comunidade (caso do Brasil).
Fake #4: Os exames PCR são falsos
Essa informação há foi desmentida por aqui. Veja o que escrevemos: “Também temos a informação equivocada de que os testes do tipo PCR erram o diagnóstico em 85% dos casos. Há algum tempo, essa história tem circulado nas redes sociais e já foi desmentida na Espanha. Os testes do tipo PCR são os mais confiáveis (padrão ouro) para se identificar a presença do RNA (isto é, material genético) do vírus no organismo. Ou seja, ele é usado para identificar se a pessoa está com a doença ou não”.
Fake #5: O isolamento social é inútil
Outra falácia batida. Cá estamos para falar mais uma vez que o isolamento social (que nunca foi feito de forma efetiva no Brasil) tem utilidade no combate à pandemia. Além de ajudar na desaceleração da disseminação do vírus até que se encontre uma vacina ou cura, o isolamento é primordial para que muitas pessoas não se infectem ao mesmo tempo e não colapsem os serviços de saúde.
O médico ainda faz mais uma declaração, de acordo com os textos que circulam online: “A política está jogando com a medicina”. Ela está correta, mas, ao contrário do que é sugerido, são pessoas que apoiam informações erradas com as dele que estão politizando a pandemia. Em tempo: chamar a Covid-19 de “vírus chinês” (assim como o presidente dos EUA Donald Trump) é um dos maiores certificados de politização da pandemia.
Resumindo: não é verdade que o coronavírus é uma farsa, que nada podemos fazer e que o isolamento, máscaras e PCR não servem para nada. O discurso em questão está tão errado que até o YouTube já retirou o vídeo da plataforma.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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