Boato – Dra. Christiane Northrup está certa ao afirmar que vacina muda o DNA, transforma humanos em antenas 5G e pandemia é uma farsa.
Nos últimos meses, a população mundial tem nutrido enormes esperanças em uma vacina que possa colocar fim na pandemia da Covid-19. São milhares de cientistas e pesquisadores trabalhando em busca de um imunizante eficaz contra a doença.
Ao mesmo tempo que a vacina parece se tornar cada vez mais realidade, as fake news, por sua vez, andam cada vez mais absurdas e trazendo mais desinformação.
Nos últimos dias, uma história tem dado o que falar nas redes sociais. De acordo com a publicação, a dra. Christiane Nothrup teria acertado ao afirmar em um vídeo (que não iremos exibir aqui) que a vacina muda o DNA, nos transforma em antenas 5G, que o bilionário Bill Gates estaria por trás da pandemia e 99,9% das pessoas se recuperaram do Covid-19.
Dra. Christiane Northrup está certa ao alertar que vacina muda DNA e nos transforma em antenas 5G?
É claro que a informação fez grande sucesso nas redes sociais, especialmente, entre os negacionistas da pandemia e da vacina contra a Covid-19 no Facebook e no WhatsApp. O conteúdo da Dra. Christiane Northrup já conta com milhares de compartilhamentos. Apesar disso, a história não tem nada de real.
Há algum tempo, alguns profissionais de saúde negacionistas têm se manifestado nas redes sociais e conquistado fãs ao redor do mundo. Isso tem feito com que muitas pessoas compartilhem ideias absurdas na internet embasadas por posições pessoais de profissionais bastante irresponsáveis.
Como já temos falado bastante por aqui, é necessário bastante cuidado ao se consumir conteúdos na internet (especialmente, em tempos de Covid-19). Isso porque muitos profissionais da área da saúde têm disseminado opiniões pessoais sobre a pandemia como se fossem conhecimento científico. Infelizmente, o título de médico, enfermeiro ou qualquer outra posição na área da saúde não quer dizer muita coisa. A equipe do Boatos.org já desmentiu diversos absurdos ditos por alguns desses profissionais. Temos exemplos no Brasil, nos Estados Unidos, na Espanha e na Itália.
Como também já estamos cansados de repetir, muitos desses profissionais não se baseiam em conhecimento científico para estruturar suas opiniões. Sabemos que, hoje, para um tipo de conhecimento ou informação serem considerados válidos, eles precisam se submeter ao processo científico de validação, isto é, testes e pesquisas para identificar se são verdadeiros ou se fazem algum sentido. É assim que fazemos Ciência e construímos conhecimento científico (aquele que tem validade tanto na academia quanto na sociedade). E, infelizmente, muitos profissionais da saúde (e outras áreas) insistem em disseminar conteúdos não verificados ou que não possuem embasamento científico. Dessa forma, quando isso acontecer, nenhuma dessas informações devem ser levadas em consideração, mesmo se a fonte da informação for um médico ou o presidente da República.
Dito isso, também precisamos explicar diversas desinformações contidas ao longo do vídeo da Dra. Christiane Northrup. Portanto, vamos lá!
Fake #1: Vacina de RNA vai mudar o DNA das pessoas, contém metais tóxicos e DNA não humano (macacos, porcos e células fetais)
Mentira! Essa informação já circula há algum tempo nas redes sociais, especialmente, após o anúncio dos primeiros resultados dos testes das vacinas contra a Covid-19. Em agosto de 2020, a equipe do Boatos.org desmentiu essa informação. A vacina do tipo mRNA não consegue alterar o DNA, uma vez que não promove alterações no núcleo da célula (onde se encontra o DNA). O mRNA é um tipo de RNA que tem como função levar a mensagem do DNA ao ribossomo para a correta síntese proteica. A vacina do tipo mRNA contém o mRNA do gene que codifica a proteína Spike (utilizada pelo novo coronavírus para se ligar e entrar nas células humanas) que vai estimular o sistema imunológico a produzir uma defesa contra o vírus. Relembre o que escrevemos:
[…] E como essa vacina funciona no nosso organismo? Essa questão é facilmente respondida pelo canal de divulgação científica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). A doutora e professora de imunologia da UFVJM, Leida Calegário, explica que as nanopartículas de gordura que carregam o mRNA do vírus se fundem facilmente com as membranas das nossas células. O mRNA do vírus, então, entra na célula e se dirigem aos nosso ribossomos. A partir daí, o mRNA do vírus induz os ribossomos a produzirem proteínas do tipo spike (comuns em vírus, mas não fabricadas pelo organismo humano). Dessa forma, as proteínas Spike são reconhecidas pelo sistema imunológico como algo fora do normal. Esse processo induz o sistema imunológico a produzir uma resposta imunológica, não só por meio de anticorpos, mas também por meio do LTCD8+ (um tipo de linfócito citotóxico que é capaz de destruir células onde ele identifique a presença de proteínas estranhas, como a Spike, levando à eliminação do vírus), induzindo à memória imunológica (quando o organismo sabe identificar o invasor e eliminá-lo). Entretanto, vale ressaltar que esse tipo de tecnologia é nova e nunca foi usada antes.
A partir daí, fica fácil entender que não é possível que a vacina induza novas infecções por Covid-19, uma vez que a vacina possui apenas o mRNA de uma proteína específica do vírus e não seu RNA completo. O mesmo vale para a teoria de alteração de DNA e “seres geneticamente modificados”. O DNA humano continua intacto. A mRNA do vírus, contido na vacina, vai atuar somente na tradução da informação, ou seja, no ribossomo e não no núcleo das nossas células (onde fica o DNA). O mRNA do vírus vai produzir uma proteína estranha para que o sistema imunológico gere uma resposta imune, aprenda a combater o “agente estranho” e memorize esse processo de “defesa” para repetir em novos ataques. Uma mutação a nível de DNA precisaria de muito mais, como uma exposição à altas doses de determinados tipos de radiação, por exemplo.
Além disso, não existe qualquer indício de que a vacina do tipo mRNA contenha metais tóxicos e DNA não humano. Até porque, se isso fosse verdade, a vacina sequer seria aprovada para testes em humanos. Se isso não fosse suficiente, a tecnologia mRNA está sendo usada em apenas três vacinas: a Pfizer (EUA), a BioNtech (Alemanha) e a Moderna (EUA). As outras vacinas que estão sendo desenvolvidas utilizam outros métodos.
Fake #2: A vacina transforma corpos em antenas 5G
Mentira! Uma antena 5G funciona por meio de ondas de rádio em faixas de frequência mais altas, de 3,5 a 26 GHz. Por conta disso, possuem uma maior capacidade na transmissão de dados. Enquanto isso, uma vacina tem como objetivo “ensinar” o organismo a se defender de vírus e bactérias específicos. Ela contém um resquício do microorganismo e estimula o corpo humano a gerar uma resposta imunológica para se proteger. Essa resposta será memorizada e, em caso de uma contaminação real, o corpo humano já sabe como combater o invasor. Ou seja, a afirmação da Dra. Christiane Northrup no vídeo não faz o menor sentido e não conseguimos visualizar como uma vacina pode transformar um organismo em uma antena 5G. Vale lembrar que, naturalmente, o corpo humano emite radiação infravermelha (um tipo de onda eletromagnética), mas que é totalmente diferente de uma onda de rádio.
Fake #3: Vacina contém tinta Luciferase, desenvolvida pelo MIT, que é capaz de armazenar informações biométricas
Mentira! Não existe qualquer informação sobre as vacinas contra a Covid-19 conterem uma tecnologia desenvolvida pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Na realidade, o texto faz menção à uma tecnologia desenvolvida, em 2019, na instituição de pesquisa. Na oportunidade, pesquisadores do MIT conseguiram desenvolver uma nova forma de registrar o histórico de vacinação de um paciente. Segundo os pesquisadores, o achado pode ajudar na descentralização das informações, uma maior cobertura vacinal e ajudar regiões onde cartões de papel não são uma alternativa viável.
Ao contrário do que aponta o vídeo, a tecnologia não utiliza “tinta Luciferase” (que, no caso, seria uma “enzima Luciferase”, presente em animais marinhos e terrestres bioluminescentes), mas sim um corante feito de nanocristais chamados “pontos quânticos”. Como é possível ver, a tecnologia não pretende roubar informações dos pacientes. Muito menos, dados biométricos (que são medidos por impressões digitais e não por um implante). E o mais importante: a tecnologia está em fase de desenvolvimento e sequer aplicou testes em roedores (quem dirá em humanos!).
Fake #4: Fundação Bill e Melinda Gates pediram uma patente para obter os dados biométricos obtidos pelo MIT
Mentira! De fato, a Fundação Bill e Melinda Gates financiam a pesquisa. Mas eles não são os únicos. A pesquisa também conta com o financiamento do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos.
Vale lembrar que essa história de que Bill Gates estaria envolvido na pandemia da Covid-19 e que gostaria de controlar os cidadãos por meio de tecnologia já existe há bastante tempo. Durante a pandemia, a equipe do Boatos.org já desmentiu a informação de que a vacina produzida por Bill Gates teria um chip 5G e que poderia monitoras as pessoas.
Fake #5: 99,9% das pessoas se recuperaram após se infectar com Covid-19
Mentira! Basta olhar para os números e perceber o equívoco da Dra. Christiane Northrup. Dos quase 46.500.000 milhões pessoas infectadas, quase 44.700.000 se recuperaram. Enquanto isso, cerca de 1.500.000 acabaram perdendo suas vidas. Ou seja, 97% das pessoas se recuperaram. Vale destacar que, em algumas regiões, a taxa de letalidade é ainda maior.
Bem, se isso não bastasse, descobrimos que o vídeo também foi desmentido em outros países. O site Boom Live, por exemplo, listou 5 informações falsas citadas no vídeo. Já o serviço de fact-checking Factly destacou que a Dra. Christiane Northrup não informou nenhuma fonte confiável e todas as informações citadas por ela foram desmentidas por especialistas.
Em resumo: a história que diz que a dra. Christiane Northrup teria acertado ao alertar que vacina muda DNA e nos transforma em antenas 5G é falsa! O vídeo está recheado de desinformação e os dados citados no vídeo não possuem embasamento científico. Além disso, as informações citadas pela médica já foram desmentidas não só aqui no Boatos.org como em diversos serviços de checagem ao redor do mundo. Por fim, serviços de fact-checking da gringa também acabaram desmentindo o conteúdo do vídeo. Nada que é citado ali faz sentido! Ou seja, a história não passa de balela. Não compartilhe!
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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