Boato – Washington Post denunciou pagamento de propina do laboratório Sinovac ao governador de São Paulo, João Doria, por vacina contra Covid-19.
Nas últimas semanas, o mundo parou com a notícia de que algumas vacinas contra a Covid-19 estariam disponíveis, em breve, em alguns países. Na Inglaterra, por exemplo, a vacinação iniciou no dia 8 de dezembro de 2020.
Em contrapartida, no Brasil, as discussões sobre a aprovação das vacinas seguem com força e têm preocupado os governadores dos estados brasileiros. João Doria, governador de São Paulo, chegou a questionar o ministro da Saúde, acusando o Ministério de usar a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como ferramenta ideológica.
Dentro de toda essa confusão, uma história curiosa começou a circular nas redes sociais. De acordo com ela, João Doria teria aceitado propina da empresa chinesa Sinovac para que a vacina CoronaVac fosse utilizada no Brasil. Segundo a publicação, a prova seria uma matéria do jornal Washington Post que denunciaria toda a situação e um vídeo do jornalista Alexandre Garcia, lendo uma nota da Anvisa que, supostamente, poderia provar a farsa.
Além disso, algumas pessoas também estão usando uma fala do governador João Doria, onde ele afirma ter pressa para vacinar os cidadãos, por causa de um “senso de urgência para salvar vidas”. Confira:
Confira o desmentido em vídeo:
Versão 1: “Ih… ENZUH traz novidade, que você NÃO VERÁ na GRANDE MÍDIA!! hehe…DitaDORIA TOTALMENTE DESMORALIZADO! Denunciado pelo Whashington Post por RECEBER PROPINA da SINOVAC. (Esclarecendo: Whashington Post seria um equivalente ao Estadão … esquerda…)”. Versão 2: “O vagabundo corrupto do Dória quer ganhar milhões da China em propina para fazer a população de cobaia com a vacina com a desculpa que está preocupadissimo com vidas. A Anvisa manda o recado para o ditador”. Versão 3: “Esse safado, bandido, canalha, esta é querendo receber a “propina” oferecida pelo laboratório Chinês, ele não está preocupado coisa nenhuma….apenas com a propina oferecida pelo chineses….lá na China NINGUÉM tomou,ele querendo nos fazer de cobaias..”.
Sinovac pagou propina para Doria trazer vacina ao Brasil, mostra Washington Post?
A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, especialmente, no Facebook, no WhatsApp e no YouTube. A notícia pegou muita gente de surpresa. Porém, ao contrário do que aponta a publicação, a história não é real.
Como a publicação cita uma fonte confiável (o jornal Washington Post), o nosso primeiro passo foi checar a fonte. Porém, ao lermos a matéria, descobrimos que a situação não é bem assim e, na verdade, o que aconteceu foi que diversas pessoas começaram a misturar várias narrativas para tentar ligar o governador João Doria à propina da vacina CoronaVac.
A matéria do Washington Post usada para sustentar a história de hoje não fala nada sobre o laboratório Sinovac tentar subornar o governador João Doria. A reportagem, na verdade, fala sobre um caso antigo de suborno envolvendo o CEO e fundador do laboratório Sinovac, Yin Weidong, e um oficial responsável pela regulamentação de vacinas na China, Yin Hongzhang. O caso veio à tona e foi julgado somente em 2016. Na época, o Washington Post relatou que o CEO da Sinovac teria confessado pagar uma quantia de dinheiro entre os anos de 2002 e 2011 ao oficial da agência reguladora da China para acelerar as certificações de diversas vacinas da Sinovac. Após o julgamento, de acordo com o site Business Inquirer, o oficial da agência reguladora foi condenado a 10 anos de prisão. Enquanto isso, o CEO do laboratório foi inocentado.
Se isso não bastasse, lá pelas tantas do texto, o Washington Post cita que, apesar do problema do suborno, o laboratório Sinovac não está envolvido em escândalos relacionados à segurança das vacinas. Além disso, o site também destacou que não existe nenhuma evidência de que as vacinas aprovadas na China apresentassem problemas ou falhas.
E apesar da preocupação demonstrada na matéria do Washington Post, os testes com a vacina CoronaVac seguem. Os dados preliminares sobre a eficácia do imunizante devem ser divulgados apenas em janeiro. Isso porque os pesquisadores envolvidos no desenvolvimento da vacina precisaram esperar até que o número mínimo de voluntários dos testes se infectasse com a doença (eles ainda não sabem se os infectados pertencem ao grupo que recebeu placebo ou o imunizante). Isso só ocorreu no final de novembro de 2020.
Ou seja, a reportagem do Washington Post citada na história, na realidade, fala sobre um caso antigo de suborno envolvendo o laboratório Sinovac e a agência reguladora da China, sem ligação direta comprovada com João Doria ou com a vacina CoronaVac. Mais do que isso, não há evidências de que as vacinas aprovadas com propina apresentassem qualquer problema de ineficácia.
Ao buscarmos por mais informações sobre o assunto, não encontramos nenhuma prova de que houve algum caso de suborno na produção da CoronaVac ou na comercialização entre o laboratório e o governo de São Paulo. Não há sequer possíveis informações sobre isso em outras fontes confiáveis.
É importante ressaltar que, mesmo com a vontade do laboratório e do governador, a vacina precisa ser aprovada pela Anvisa para poder ser utilizada. Ou seja, subornar um governo estadual não seria lá uma grande ideia (na realidade, seria bem ruim, já que outros processos federais seriam necessários até a liberação – e a vacina poderia ser recusada em alguma dessas etapas).
Já sobre os conteúdos utilizados como provas da história de hoje, o vídeo, que mostra o jornalista Alexandre Garcia lendo uma nota da Anvisa, nada tem a ver com o caso. A nota da agência, na realidade, apenas rebate a informação de que a Anvisa teria recebido dados da Fase III dos testes da CoronaVac. Além disso, explica o procedimento para a aprovação de um novo imunizante no país.
Sobre a declaração de João Doria, a fala não possui nenhuma relação com propinas ou subornos. Na oportunidade, o governador de São Paulo falava sobre o plano de vacinação contra a Covid-19 no estado, estabelecendo datas. E bem, é claro que todos os governantes estão em busca de uma solução rápida para a situação, seja por motivos políticos (já que as eleições estaduais estão próximas), seja por motivos econômicos. Ou seja, a pressa não é nenhuma particularidade de João Doria.
Em resumo: a história que diz que o laboratório Sinovac teria subornado o governo de São Paulo para liberar a vacina CoronaVac e o jornal Washington Post teria denunciado todo o caso é falsa! A matéria usada como prova, na verdade, fala sobre um caso antigo envolvendo o laboratório Sinovac e a agência reguladora da China. Tudo teria acontecido entre 2002 e 2011 e o suborno tinha como objetivo acelerar a aprovação de diversas vacinas no país. Porém, não há evidências e muito menos provas de que as vacinas tiveram algum problema ou foram ineficazes. A reportagem não cita o governador João Doria e muito menos relaciona o caso antigo com a compra da vacina no Brasil. Se isso não bastasse, as outras “provas” apresentadas pela história de hoje sequer possuem relação com o assunto. Ou seja, a história não passa de balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99458-8494.
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