Boato – Maior infectologista do Brasil afirma que vacina não é solução, mas parte do problema e alerta sobre pressa e efeitos colaterais.
A segunda onda da Covid-19 já trouxe inúmeros problemas ao redor do mundo e fez com que vários países dessem um passo atrás na tentativa de conter, novamente, o avanço da doença. Há, inclusive, quem tenha optado pelo retorno do lockdown.
Apesar do grande número de infectados e mortos, do conhecimento obtido pela Ciência e pelos exemplos práticos das consequências da doença, as fake news sobre o assunto seguem firmes e fortes.
Exemplo disso é a história de hoje. De acordo com uma publicação que está circulando nas redes sociais, o “maior infectologista do Brasil”, teria alertado em um vídeo sobre a pressa, doses e efeitos colaterais da vacina “chinesa” (CoronaVac). Nas imagens, o médico orienta as pessoas a não se vacinarem se antes terem “absoluta certeza” sobre o imunizante e afirma que a vacina “não é a solução, mas parte do problema”. Confira:
“VEJA O QUE ESSE MÉDICO FALA SOBRE A VACINA DO C0R0N4. Todo mundo ansioso pela vacina e vem o Dr. Anthony Wong, a maior autoridade em infectologia do Brasil, e dá essa mensagem de alerta.Vamos compartihar o vídeo…”.
Maior infectologista do Brasil alerta para pressa, doses e efeitos colaterais da vacina chinesa?
A informação caiu como uma bomba nas redes sociais, especialmente, no YouTube e no WhatsApp, e tem feito sucesso na internet. Apesar disso, a história não passa de balela.
Entra dia, sai dia e não cansamos de alertar sobre vídeos e textos de profissionais da saúde alertando sobre possíveis malefícios das vacinas contra a Covid-19 ou sobre a doença não ser tão ruim assim. Como já falamos por aqui, infelizmente, não é só porque alguém possui algum título na área da saúde que essa pessoa se transforma, automaticamente, em uma referência no assunto. Nessa pandemia, o que mais temos visto por aí são profissionais da área da saúde disseminando fake news sobre a doença e sobre as vacinas. Assim como também já falamos por aqui, os médicos podem ter suas convicções, mas a partir do momento que elas vão de encontro com o conhecimento científico, elas perdem a validade e isso quer dizer que não servem para embasar ou sustentar nenhuma opinião.
Por outro lado, prudência é sempre necessária e bem-vinda, afinal de contas, a vacina contra a Covid-19 parece ser a solução definitiva mais próxima. Entretanto, é importante citar que todos os estudos e testes estão sendo realizados para comprovar a eficácia e segurança do imunizante. Além disso, nenhuma vacina será aprovada ou aplicada sem dados contundentes sobre os benefícios do imunizante.
Dito isso, partimos para as imagens. Ao longo do vídeo, existem alguns apontamentos problemáticos e equivocados. O primeiro deles é a afirmação de que a vacina foi feita de uma maneira muito rápida e, por isso, merecia atenção (como se a vacina fosse apresentar algum problema por conta disso).
De fato, as vacinas contra a Covid-19 estão sendo desenvolvidas de uma maneira muito mais rápida do que aquelas que a gente já conhece. Entretanto, isso não quer dizer que estão sendo mal feitas ou que as pessoas precisem ficar alarmadas. Ao mesmo tempo que temos um médico questionando a agilidade do processo, temos inúmeros outros afirmando que não existe nada demais nisso. A explicação, na realidade, é bastante simples: vivemos em um mundo capitalista, onde a coisa mais desejada atualmente é a vacina contra a Covid-19. Quem conseguir desenvolver uma vacina antes, com certeza terá um grande retorno financeiro. Dessa forma, o desenvolvimento da vacina se tornou uma verdadeira corrida. Além disso, também temos a explicação do aprimoramento da tecnologia. Muitas vacinas utilizam tecnologias já usadas em outros imunizantes, o que agiliza todo o processo. As que utilizam novas tecnologias não partiram do 0, uma vez que essas tecnologias já estavam sendo estudadas e testadas bem antes da Covid-19. Se isso não bastasse, o mundo todo está com os olhos voltados para o desenvolvimento das vacinas, com isso, os laboratórios e instituições de pesquisas têm recebido muito investimento por parte dos países e diversos pesquisadores estão envolvidos no processo de desenvolvimento, o que permite facilitar e agilizar todo o processo e também realizar concomitantemente algumas etapas.
O “maior infectologista do Brasil” também cita que seriam necessárias três doses do imunizante para proteger os cidadãos e que os voluntários sequer tomaram a segunda dose. De acordo com o Instituto Butantã, a aplicação da segunda dose obedece um intervalo de 14 dias após a tomada da primeira dose. A instituição de pesquisa também ressalta que o cronograma de vacinação dos voluntários está em dia e, como o estipulado, aqueles que receberam a segunda dose já o fizeram. Além disso, na realidade, os pesquisadores ainda não sabem se uma dose anual de reforço será necessária. Mesmo assim, isso não deve ocorrer em um curto prazo.
O médico ainda afirma que 5,37% de pessoas com efeitos colaterais é um número inadmissível. Na realidade, as reações adversas registradas em testes são completamente esperadas e normais. É para isso que os testes existem: para saber se algum componente da fórmula da vacina pode causar alguma reação grave ou se a vacina possui interações diretas com alguma condição específica. Se isso ocorrer, os pesquisadores podem promover mudanças e saber se precisam limitar algum público específico. Se isso não bastasse, os tais “efeitos colaterais inadmissíveis” apontados pelo médico, na verdade, foram reações leves apresentadas por voluntários da vacina CoronaVac. Dentre elas, está dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga. O imunizante apresentou números baixíssimos de efeitos colaterais de grau 3 (no caso da febre, por exemplo, apenas 0,1% dos voluntários que receberam a CoronaVac apresentaram o sintoma. Em contrapartida, em outras vacinas, esse número chegou a 18% dos voluntários). A título de comparação, a vacina contra a febre amarela, geralmente, apresenta dor no local da aplicação e dor de cabeça em cerca de 10% das pessoas vacinadas.
Se tudo isso não fosse suficiente, o tal “maior infectologista do Brasil” sequer é infectologista. De acordo com o currículo Lattes do médico, ele é pediatra com doutorado na mesma área. Por fim, mas não menos importante, se vacinar (quando tivermos um imunizante aprovado) ainda é a melhor opção (e, diga-se de passagem, bem melhor do que se infectar pelo SARS-CoV-2).
Em resumo: a história que diz que o maior infectologista do Brasil alertou, em vídeo, sobre a pressa na produção das vacinas, doses, efeitos colaterais e riscos do imunizante é falsa! Para começo de história, o homem apresentado como infectologista, na verdade, é um pediatra. Se isso não bastasse, o médico ainda cita diversas informações equivocadas, retiradas de contexto ou sem comprovação científica. A realidade é que todo o processo de desenvolvimento de um imunizante está sendo cumprido pelas vacinas em estudo. Além disso, nenhuma será liberada para aplicação sem aprovação do órgão regulador, no caso do Brasil, a Anvisa. Ou seja, a história não passa de balela.
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