Entenda o que é fato e o que é boato no caso das 12 mortes de mulheres em Goiânia
No final de maio de 2014, o Boatos.org fez uma postagem sobre o caso de um boato que se espalhava, principalmente, pelo aplicativo WhatsApp na cidade de Goiânia. A mensagem dava conta que um homem em uma motocicleta estaria matando mulheres na cidade.
De acordo com o texto, o modus operandi do bandido era muito semelhante. Ele fingia que iria assaltar as mulheres, pedia o celular e depois atirava nelas. Na época, a polícia negou veementemente que se tratava de um assassino em série que estava agindo na cidade.
No início de agosto de 2014, a adolescente Ana Lídia Sousa Gomes acabou sendo morta em circunstâncias parecidas com a da história. Ela seria a 12ª vítima assassinada do suposto serial killer. Após a morte dela, a polícia recuou na certeza de que se tratavam de assassinos diferentes e começou a cogitar a hipótese de que haveria uma pequena chance (preste atenção: PEQUENA) das mortes estarem interligadas.
Obviamente, a informação caiu como uma bomba na mídia. E a história foi crescendo ainda mais. De pequena chance, a informação, em alguns casos, acabou sendo tratada como totalmente confirmada. Preste atenção na diferença entre alguns títulos de matérias:
G1 – Polícia crê em múltiplos autores, mas não descarta ‘serial killer’ em Goiânia
Correio Braziliense – Com possível serial killer à solta, mulheres temem sair de casa em Goiânia
R7 (Cidade Alerta) – Assassino em série assusta mulheres em Goiânia (GO)
Vocês notaram como o telefone sem fio pode mudar o caráter de uma informação. Se isso acontece com profissionais, teoricamente, preparados para lidar com tratamento de informações, o que dirá com o que rola na internet. Desde que a notícia estourou na mídia, já foram citados boatos de novas vítimas, de supostos assassinos, sobre a placa da motocicleta e até de que o serial killer teria sido preso.
Muitos comentários acabaram chegando na postagem anterior do Boatos.org pedindo para que informação anterior de que a história do serial killer era falsa fosse apagada. Esse comentários também apontavam para a criação de eventos contra a violência na capital goiana.
A história acabou virando uma confusão. Para tentar esclarecer o que é fato e o que é boato, separamos algumas informações para você entender, cronologicamente, o que se passa no caso:
1 – A morte de uma assessora parlamentar em Goiânia:
Em janeiro de 2014, Ana Maria Victor Duarte, de 26 anos, foi morta na porta de uma lanchonete em Goiânia. Um retrato falado da polícia dava conta de que o suspeito era um homem em uma moto preta com capacete preto. Dois meses após a morte, a polícia ainda não havia encontrado o culpado pelo crime. A imagem do retrato falado do suspeito passou a ser usada como se fosse do serial killer de Goiânia.
2 – Boato do serial killer começa a se espalhar por WhatsApp:
Em maio de 2014, a história sobre o serial killer começou a causa pânico na capital goiana. Uma mensagem de voz entre mulheres apontava que o homem já havia feito 12 vítimas. A informação foi refutada pela polícia. O Boatos.org fez um post para desmentir a história. Porém, os assassinatos continuaram acontecendo.
3 – Adolescente é morta e polícia levanta hipótese de serial killer. Notícia ganha repercussão nacional. Mais boatos aparecem:
Em agosto de 2014, uma adolescente acabou sendo morta em Goiânia. Ela seria a 12ª vítima (mas não eram 12 já em maio?) do serial killer. A polícia cria uma força-tarefa para investigar os crimes e um delegado fala da pequena hipótese de ser uma mesma pessoa.
Como mostrado antes, a notícia estourou na mídia. E novos boatos começaram a aparecer. Vamos citar alguns:
– Um homem começou a ser apontado como o assassino. Ele chegou a pedir ajuda para a polícia e um delegado convocou uma coletiva para protegê-lo.
– Uma mensagem dava conta que o final da placa da moto era 6144. A polícia também não confirma essa informação.
– Foram citados mais alguns assassinatos na capital goiana e também circulou a notícia de que o serial killer teria sido preso. Como era de se esperar, também eram informações falsas.
O que é fato e o que é boato na história
Toda essa história (que tentamos organizar em algumas linhas anteriormente) mostra que há alguns fatos e muitos boatos no caso dos assassinatos em Goiânia. Vamos aos fatos:
O primeiro deles é que a cidade está em uma escalada horrível de violência. No mês de junho, foi registrado o recorde de assassinatos na cidade. Ou seja, não são apenas mulheres que estão morrendo. E, neste sentido, a população tem todo o direito de cobrar segurança. Uma das medidas foi a inclusão de 500 reservistas para atuar no policiamento na cidade.
A polícia confirmou, entre os homicídios, a morte de 12 mulheres. Todas elas em circunstâncias parecidas: o homem chega com a moto, atira e vai embora. O delegado Norton Luiz Ferreira, chefe de comunicação da Polícia Civil de Goiás, apontou que a polícia ainda não tem 100% de certeza de que os assassinatos realmente não estão relacionados.
“Há chances de serem assassinos distintos ou de ser uma mesma pessoa. Mas é impossível dizer”. Vale ressaltar que a polícia já disse acreditar que são criminosos distintos. Ou seja, há grandes chances de existirem vários assassinos.
De boatos, temos muitos exageros na história. Primeiro no número de vítima. Há quem diga que já passaram de 30 mulheres mortas. Além disso, em informações sobre os suspeitos. Elas quase levaram um inocente a se tornar culpado.
“Há veículos de imprensa que estão agindo com sensacionalismo. Mas o que tem prejudicado mesmo são as redes sociais. Há fotos de mulheres mortas se ligação com as investigações e apontamento de inocentes como culpado. Isso só confunde as investigações”, disse Ferreira.
Neste sentido, a mídia sensacionalista e os internautas em redes sociais estão mais atrapalhando do que esclarecendo. Também vale lembrar que há muita informação com características de hoax (sem fontes e alarmistas) circulando pelo WhatsApp. É preciso extremo cuidado com o trato das informações repassadas na web. Elas podem tornar a situação pior ainda.
Resumindo: sem a polícia ter conclusões sobre o assunto, falar em serial killer é, no mínimo, imprudente no momento. O melhor a fazer deixar os investigadores encontrarem os culpados para se chegar ao desfecho da história. Ou seja, até que se, realmente, comprove o contrário, a história não passa de um boato. Por isso, cuidado com as informações que você vir ou repassar. E aguardamos os próximos capítulos.
Nota do editor: antes que você reclame que ficamos em cima do muro neste caso. O Boatos.org trabalha com informações oficiais. Se antes, a polícia descartava a tese de homicídios e agora não o faz, não será este blog que vai apontar se há serial killer ou não. Recomendo fazer o mesmo nas redes sociais. Checar oficialmente antes de acusar alguém.