Boato – Médico virologista Roberto Klaus, do hospital Albert Einstein, afirma que Coronavac não gera anticorpos, muda o DNA e tratamento precoce com ivermectina é a solução contra a Covid-19.
A vida do checador de informações não tem um minuto de paz desde que a pandemia da Covid-19 se instalou no mundo. Entra dia, sai dia, muitas informações falsas já desmentidas voltam a circular na internet com alguns novos detalhes.
A história de hoje não é diferente. A equipe do Boatos.org já desmentiu diversas fake news sobre vacinas e supostos medicamentos milagrosos contra a Covid-19. Mas histórias falsas sobre o assunto insistem em circular.
De acordo com uma história que está sendo compartilhada nas redes sociais, o médico virologista Roberto Klaus, do Hospital Albert Einstein, teria afirmado em um áudio que a vacina Coronavac não funciona (porque testes de pessoas vacinadas não detectaram anticorpos contra a doença e que elas seriam cobaias do imunizante), pode alterar o DNA e, por isso, não deve ser tomada. Além disso, segundo o áudio, o médico também orienta o tratamento precoce com ivermectina, vitamina D, zinco, sol e boa alimentação. Confira:
Confira o desmentido em vídeo:
Versão 1: “Medico do Albert Stein Sao Paulo Sr. Dr Roberto Klaus Virologista. Escutem com atenção. Principalmente quem já foi vacinado”. Versão 2: “BOLSONARO PRESIDENTE FALA ISSO DESDE MARÇO DE 2020 ! Dr. Roberto Klaus, médico virologista do Hospital Albert Einstein, São Paulo. ! ESCUTEM E VIRALIZEM!.
Roberto Klaus, médico virologista do Albert Einstein, disse que Coronavac não imuniza, vacina muda DNA e ivermectina é eficaz?
É claro que a informação caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no WhatsApp e no Facebook, e deixou muita gente desconfiada. Apesar disso, a história não passa de balela. A explicação fica por conta das inúmeras informações equivocadas no áudio e na inexistência do suposto médico.
Basta escutar o áudio para perceber que ele apresenta as principais características de fake news na internet, como o caráter vago, extremamente alarmista, os erros de português e a falta de fontes confiáveis. Além disso, nas últimas semanas, a equipe do Boatos.org têm desmentido diversas informações falsas sobre a vacina Coronavac e supostas curas milagrosas com remédios sem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Se isso não bastasse, o áudio apenas repete as mesmas besteiras já desmentidas (diversas vezes) pela equipe do Boatos.org. A primeira delas é a tese de que pessoas vacinadas (que apresentem resultado negativo em testes de anticorpos da Covid-19) não estão protegidas. Não faz muito tempo, desmentimos essa história por aqui. Como relatado na época, exames de anticorpos comuns não são recomendados para avaliar se uma pessoa está protegida ou não. Além disso, exames específicos para isso não estão disponíveis a qualquer um (é necessário encaminhamento médico).
A segunda delas é a tese de que a vacina Coronavac teria uma eficácia de 50,38% e isso significaria que metade das pessoas imunizadas não desenvolveriam qualquer tipo de anticorpo contra a doença. A informação, claro, é absurda. Na realidade, o número de 50,38% diz respeito a uma avaliação de todas as pessoas que contraíram a doença nos dois grupos (imunizados e placebo) analisados durante os estudos da vacina. Dessa forma, ao analisar os 252 casos de pessoas que acabaram adoecendo durante os estudos (com qualquer gravidade da doença), os pesquisadores puderam comprovar que a vacina Coronavac é 50,38% eficaz para prevenir a doença. E caso uma pessoa imunizada desenvolva a doença, provavelmente vai apresentar sintomas leves e não vai morrer.
O terceiro ponto, que questiona a segurança da vacina e afirma que as pessoas vacinadas são cobaias, também é totalmente absurda. A segurança da vacina foi constatada nas fases 1 e 2 dos estudos sobre o imunizante. Além disso, ninguém está sendo feito de cobaia. Todos os testes necessários para atestar que ela é segura e funciona já foram realizados e validados (inclusive, internacionalmente).
Já a quarta informação equivocada, que diz que a vacina foi desenvolvida rápida demais, não faz o menor sentido. Como já cansamos de explicar aqui, a vacina só ficou pronta em tempo recorde, porque teve um enorme investimento (dada à urgência da situação) e por causa de pesquisas (sobre outros vírus) que já estavam sendo realizadas e serviram como base para o desenvolvimento das vacinas. Isso resultou em milhares de pesquisadores dedicados ao desenvolvimento do imunizante, o que agilizou todo o processo.
O quinto equívoco aponta que as vacinas são perigosíssimas, porque não sabemos nada sobre a vacina (que seriam “gênicas” e poderiam alterar o DNA). Não é nem preciso lembrar que já desmentimos inúmeras histórias sobre isso. Como já falamos por aqui, nenhuma vacina tem o potencial de alterar o DNA, uma vez que não atuam sobre o código genético humano. As vacinas do tipo mRNA, grande alvo de fake news, não acessam o DNA humano. Apenas simulam um ataque do SARS-CoV-2 com a proteína Spike. Como ela não é originalmente fabricada pelo organismo humano, o sistema imunológico entra em ação para combater a suposta invasão. Com isso, nosso sistema imune gera uma resposta imunológica, aprende a se defender e produz anticorpos contra à doença.
O sexto ponto citado no áudio aponta que ingerir ivermectina, vitamina D, zinco, tomar sol, ter uma boa alimentação e aderir ao tratamento precoce seria a melhor alternativa para combater a Covid-19. A tese é totalmente absurda! Como já estamos cansados de explicar, a ivermectina não possui eficácia contra a Covid-19 (e isso já foi comprovado por estudos científicos e pela própria farmacêutica que produz o medicamento). Além disso, também já desmentimos a ideia de que a vitamina D e o Zinco poderiam combater a doença. As substâncias, além de não funcionarem contra a Covid-19, também podem ser prejudiciais se ingeridas em altas quantidades.
Em relação à boa alimentação e hábitos saudáveis, apesar de ajudar no bom funcionamento do organismo (e isso inclui o sistema imune), eles não conseguem evitar e muito menos curar a contaminação por Covid-19. Já sobre o tratamento precoce, nem precisamos repetir que ele não existe, não funciona e, caso seja feito, pode colocar a saúde da pessoa em risco.
O sétimo e último ponto reforçado pelo áudio é de que as pessoas precisam parar de escutar a mídia. A “dica” é totalmente inválida. Tudo o que é dito sobre a Covid-19 em veículos de comunicação confiáveis é respaldado pelo conhecimento científico e por falas de médicos e pesquisadores envolvidos com a situação. Dessa forma, a mídia faz um trabalho de divulgação científica, com orientações pertinentes e informações confiáveis sobre a situação da Covid-19 no mundo.
Por fim, mas não menos importante, o crédito de toda a história é atribuído ao suposto “médico virologista” Roberto Klaus, do Hospital Albert Einstein. Para começo de história, a virologia não é uma área da Medicina, mas sim da Biologia. Logo, a formação de médico virologista não existe. O especialista da área na parte médica seria o infectologista. Além disso, ao buscar na lista de profissionais do Hospital Albert Einstein (que aparece escrito de forma errada nas versões da história), não encontramos ninguém com o nome Roberto Klaus.
Ao procurar por mais informações sobre o tal médico, também não encontramos nenhuma menção a ele no site do Conselho Federal de Medicina (CFM). Na internet, não achamos nenhum médico com esse nome. O máximo que conseguimos encontrar foi um perfil fake, no Facebook, com o mesmo nome (que, por sinal, usa a foto do médico ortopedista e traumatologista português João Gamelas). Por meio de sua assessoria, o hospital Albert Einstein foi taxativo: “Não há registro desse médico em nossa base de dados”. Não é preciso dizer mais nada.
Em resumo: a história que diz que o médico Roberto Klaus, do Hospital Albert Einstein, afirmou que a vacina Coronavac não funciona, não imuniza, altera o DNA humano e o tratamento precoce seria eficaz é falsa! Tudo o que é dito no áudio é mais do mesmo: mais baboseira sobre a mesma baboseira. A equipe do Boatos.org já desmentiu todas as informações falsas contidas no áudio. Para completar, o tal médico Roberto Klaus sequer existe. Ou seja, a história não passa de balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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