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Balela: O ser humano utiliza apenas 10% da capacidade cerebral

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Boato – As pessoas não utilizam o cérebro em sua capacidade total, 90% do órgão está inativo

Quem nunca teve um déjavu e ao comentar com alguém escutou aquela frase ‘Na verdade você já viu isso acontecer, só não lembra’. Ou então teve a sensação de que ao se concentrar bastante em um objeto, ele se movimentou mesmo que minimamente. E quem nunca soltou ainda que de brincadeira um ‘você só usa metade do cérebro’ para um amigo ou conhecido?

Todos esses casos são comuns no nosso cotidiano e reflexos de um mito que se espalha e está firme no imaginário das pessoas há pelo menos 114 anos: usamos apenas uma parte do nosso cérebro e quando conseguirmos usufruir do restante seremos sobre-humanos. Imaginem, quem não gostaria de ter super-poderes? Prever o futuro, realizar cálculos a aprender em velocidade recorde.

Talvez esteja aí a razão de essa balela ter se perpetuado por tanto tempo. A possível origem de que o ser humano utiliza parte do cérebro está na frase do filósofo e psicólogo William James. Segundo o pesquisador “utilizamos somente uma pequena parte de nossos possíveis recursos mentais e físicos”. A história dos 10% teria aparecido em 1936 no prólogo do livro Como ganhar amigos e influenciar pessoas do escritor norte-americano Dale Carnegie. Tem gente até que repassa esse mito usando Albert Einstein como fonte. Mentira também.

Vamos aos esclarecimentos. Primeiro, equipamentos de ressonância e tomógrafos já provaram que todas as regiões cerebrais são ativas e que cada uma delas tem funções específicas. Eles mostram a distribuição de nutrientes pelo cérebro quase em tempo real e as imagens não deixam dúvida, tudo é utilizado. Segundo, qualquer dano, por mínimo que seja, nessas regiões, compromete o funcionamento do órgão e de tudo aquilo pelo qual a região era responsável, vemos exemplos disso todos os dias em choques, derrames, pancadas e afins.

A confusão com os 10% (porque não 5, 20 ou 40?) está no próprio funcionamento do órgão. Nove em cada dez células do cérebro são neuroglias, tem como função central a nutrição e a assistência. O décimo restante são os neurônios, responsáveis pela capacidade do pensamento. Sem o funcionamento dos 90% de suporte não há os 10% que pensam.

Além disso, para comandar todas as capacidades psicomotoras do corpo o cérebro precisa de sua totalidade, caso o contrário não conseguiríamos realizar todas as atividades de forma satisfatória. Respirar, andar, correr, falar, dormir, como comandar tudo isso com só 10% da potência total?

Claro que a ideia de podermos ter muito mais do cérebro para desenvolver é deliciosa. O cinema tem mostrado isso. Em Sem Limites (2011), Bradley Cooper é um escritor mais ou menos, sem talento nenhum, que toma uma droga capaz de ativar a parte cerebral inutilizada e se transforma no poderoso chefão da vida. Aprende mais rápido, lê mais rápido, escreve, memoriza, até prevê acontecimentos. A narrativa ainda indica que as pessoas que se destacam tomam a mesma droga.

O filme é ótimo, a ideia também, mas não há realidade nisso. O cérebro tem sim a capacidade de aprendizado ilimitada, graças aos trilhões de neurônios capazes de fazer diferentes combinações melhorando a eficiência das sinapses. E claro, há métodos de fortalecer essas combinações, como aqueles joguinhos para memória, desafios de raciocínio lógico, escovar os dentes com mão esquerda e vários outros que a internet dispõe.

Mas, nada de ilusões, ao final do processo não seremos capazes de prever o futuro ou de fazer a xícara de café voar até nossa mão, nem de ler o pensamento do outro. Isso só X-men é que faz.