Neste A Semana em Fakes, Edgard Matsuki, editor do Boatos.org, fala sobre fake news sobre “caos na Venezuela” que visam fortalecer uma retórica para as eleições de 2022.
Um vídeo mostra diversas cenas de conflito nas ruas e barricadas em meio a um protesto. Outro vídeo mostra motos e carros sendo queimados em um cenário caótico. Um terceiro conteúdo é um áudio que mostra o que seria uma “nova constituinte” que previa o fim da propriedade privada. Em comum entre as três histórias estão uma falsa relação com a Venezuela e uma possível estratégia para as eleições de 2022 no Brasil.
Tem se notado em redes sociais, a volta da narrativa utilizada em outros tempos (como nas eleições de 2018) de que o Brasil viraria “uma Venezuela” se o “candidato de esquerda” (no caso, Fernando Haddad) ganhasse as eleições. A retórica (que parece ter dado certo nas últimas eleições, mas não tem lastro algum na realidade) tem reaparecido em redes sociais junto com, para piorar, informações falsas relacionadas à Venezuela.
É claro que o cenário atual na Venezuela está longe de ser confortável. Observadores internacionais consideram o regime do presidente Nicolás Maduro uma ditadura e diversos países questionam, inclusive, a legitimidade das eleições no país. Porém, o que tem viralizado em relação ao país sul-americano nas redes sociais brasileiras é falso.
O vídeo sobre conflitos e “anúncio de uma guerra civil” na Venezuela é, na realidade, de conflitos antigos no país. Apesar de (como foi dito antes) a situação do país não ser exatamente “confortável”, não há relatos de conflitos e revoltas em grandes volumes no país (como o que ocorre com a Colômbia).
Falando em Colômbia, o vídeo dos carros e motos queimados é realidade do país vizinho à Venezuela. As imagens foram gravadas na cidade de Popayán durante protesto contra a reforma tributária no país.
Já o áudio que fala de “nova Constituição” na Venezuela não passa de um bocado de informações falsas que já haviam sido desmentidos em 2017 (coincidentemente, um ano antes das eleições de 2018 no Brasil).
Essa volta de boatos contra países comandados por governos dito de esquerda denota uma nova estratégia. Por isso, é preciso ficar atento com duas coisas daqui para frente: 1) Informações bombásticas sobre governos da América do Sul comandados pela esquerda (como Argentina, Venezuela, Peru etc.). 2) A retórica batida e falsa de que o “Brasil vai virar uma Venezuela se candidato “X” (ou “L” ou “C” ou “D” ou até “B”) ganhar as eleições do ano que vem.
Trends da semana
As palavras mais buscadas no Boatos.org nos últimos sete dias foram, em ordem decrescente, Venezuela, Wall street, Moeda, Unicef, Wall street journal, Coronavac, Ferrero, Bolsonaro, Roberto Klaus e Patinador cego.
Os desmentidos mais lidos do Boatos.org nos últimos 7 dias foram, em ordem decrescente, sobre uma denúncia de que moedas grudariam no braço de quem toma vacina, sobre uma falsa promoção da Ferrero Rocher para o Dia dos Namorados, sobre uma denúncia de que um estudo japonês apontava que nanopartículas de RNA ficaram no corpo humanos após a vacina, sobre um falso áudio atribuído ao médico Roberto Klaus do Albert Einstein e sobre um vídeo que mostraria carretas na “fazenda de Lula”.
No Twitter, no Facebook, no Telegram e no Instagram, a matéria com maior engajamento foi a que desmentia que um “estudo do TCU” apontava para supernotificação de mortes por Covid-19. Por fim, vídeo mais visto no YouTube foi o que desmentia um áudio atribuído ao “médico Roberto Klaus” do Albert Einstein.
Edgard Matsuki é editor do site Boatos.org, site que já desmentiu mais de 6 mil notícias falsas
Uma das novidades do Boatos.org para 2021 é a seção “A Semana em Fakes”. Periodicamente, faremos análises sobre os assuntos mais recorrentes em termos de desinformação na internet. Este conteúdo ficará aberto para republicação em outros veículos de mídia. No momento, publicamos o conteúdo no Portal Metrópoles, Portal T5 e Conexão Marília (caso tenha interesse, entre em contato com o Boatos.org para saber as condições). Para ver todos os textos da seção, clique aqui.