Boato – Artigo publicado na revista Nature prova que medicamento cura a doença e que não precisamos tomar a vacina contra Covid-19.
Mesmo com muitos países bastante avançados na vacinação contra a Covid-19 e podendo relaxar as medidas de proteção, fake news sobre os imunizantes ainda seguem sendo compartilhados nas redes sociais.
Se isso não bastasse, histórias envolvendo medicamentos sem comprovação científica contra a Covid-19 também tem inundado a internet, colocando a vida de muitas pessoas desavisadas em risco.
Exemplo disso é a história que está circulando na internet. De acordo com ela, um artigo sobre a ivermectina que teria sido publicado na revista Nature seria a prova de que o medicamento poderia curar a Covid-19. Ainda segundo a história, essa também seria a prova de que não precisamos de vacinas e que a mídia mentiu para a população. Confira:
“FINALMENTE! É com muito orgulho que neste instante, com a maior segurança do mundo e sabendo estar dentro da verdade por meio do agora apresentado, eu afirmo ao mundo que… ESTÁVAMOS CERTOS! A maior autoridade em ciência do mundo, a “Nature”, publicou no dia de hoje (15/06/2021) *um estudo completo e detalhado sobre a eficácia da Ivermectina frente a Covid19*. Trata-se de um artigo de revisão clínica baseado em evidências que nos apresenta todos os pontos de atuação do medicamento. *A Ivermectina tem ação anti-inflamatória e anticoagulante, além de outras mais complexas. No entanto, somente pelo básico entendimento do assunto, o que está ao alcance de todos, podemos entender que temos uma poderosa e eficaz proteção contra este tão perigoso inimigo. Por está razão, acredito que não existe mais a necessidade do desespero pelas duvidosas vacinas, desde que a pessoa compreenda a grandeza do assunto postado aqui e agora*.
Se a Grande Mídia estivesse mesmo prezando por vidas humanas, faria matérias enormes sobre esta tão maravilhosa descoberta e assim guiaria milhões ao tratamento com Ivermectina, salvando incontáveis vidas e reduzindo assim a Covid19 a algo insignificante. O mundo, porém, não é cor de rosa, e o dinheiro sempre fala mais alto! Vacinas geram bilhões para muitos poderosos! Poderosos que são enaltecidos e protegidos pela mídia do mal, auxiliados pelas bigtechs. Todos estes tingem o nosso céu com uma verdade por eles fabricada; um teatro de falsas narrativas. Infelizmente grande parte ainda acredita. E para finalizar, não há nada, nem ninguém em ciência que possa estar acima da Nature, o orgão que publicou este artigo. São 151 anos de história, tendo hoje um prestígio praticamente divino. Será, portanto, que a Rede Globo, o Dr. Dráuzio Balela, Anthony Fauci, Amanda Klein, ou algum outro amante do pesadelo vai conseguir ter peito para falar agora alguma coisa? Seria uma cara-de-pau jurássica!”.
Estudo na Nature prova que ivermectina cura a Covid-19 e não precisamos de vacinas?
A história caiu como uma bomba nas redes sociais, em especial, no Facebook e deixou muita gente apreensiva. Apesar disso, a história não passa de balela. A explicação fica por conta do local da publicação e pela inconclusão de resultados do próprio artigo.
Como já sabemos bem, histórias falsas envolvendo o uso da ivermectina e outras substâncias no combate à Covid-19 não são novidade na internet. O número de desmentidos sobre o assunto no Boatos.org foi tanto que até chegou a render um especial sobre a situação.
Assim como já cansamos de mostrar por aqui, as principais evidências científicas apontam que a ivermectina não é a cura para a Covid-19. Se isso não bastasse, estudos e situações recentes indicam que o uso de medicamentos não eficazes contra a doença ainda podem desencadear casos de hepatite medicamentosa e intoxicação por conta da substância.
Ao pesquisar por mais detalhes sobre a história, descobrimos que o artigo, na realidade, não foi publicado na revista Nature. O estudo foi aceito e publicado por um jornal científico do Japão, conhecido como The Journal of Antibiotics. O jornal, na verdade, é publicado pelo Grupo de Publicação Nature, que é uma divisão da editora científica internacional Springer Nature. O principal periódico do grupo é a revista Nature. O periódico The Journal of Antibiotics possui um fator de impacto um pouco maior do que 2. Enquanto isso, a revista Nature possui um fator de impacto maior do que 42. Ou seja, são duas publicações completamente distintas que fazem parte do mesmo grupo.
Na busca por mais informações, também encontramos uma explicação sobre o artigo nos Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um canal de divulgação científica da instituição de ensino. De acordo com a leitura feita por três pesquisadoras, o artigo em questão não possui uma justificativa e os resultados não têm relação com o título. Segundo a leitura, o texto apresenta apenas resultados sobre a ação da substância e artigos que mostram o comportamento do SARS-CoV-2 ao infectar o organismo de uma pessoa.
O trabalho também recebeu críticas internacionais. Em sua página no Twitter, o epidemiologista Gideon Meyerowitz-Katz, que também produz textos para o jornal The Guardian, apontou inúmeras inconsistências no trabalho, como a falta de ética dos pesquisadores (que são associados a grupos pró-ivermectina no tratamento da Covid-19) e os resultados que não têm relação com a proposta do artigo.
Depois das críticas, os editores do próprio periódico The Journal of Antibiotics acrescentaram uma observação na página do artigo. De acordo com a nota, publicada no dia 22 de fevereiro de 2021, as críticas dos leitores sobre o artigo estariam sendo consideradas pelos editores e pela editora do jornal.
22 de fevereiro de 2021 – Nota do Editor: Os leitores são alertados de que as conclusões deste artigo estão sujeitas a críticas que estão sendo consideradas pelos editores e pela editora. Uma resposta editorial adicional seguirá a resolução dessas questões.
Por fim, a história de hoje também apresenta outros erros, como a indicação de que vacinas não funcionariam. Como já cansamos de falar por aqui, embasados por estudos científicos e orientações dos principais órgãos de saúde do mundo, se vacinar é de extrema importância, uma vez que o imunizante é a chance mais clara para conseguirmos controlar a Covid-19. Vale ressaltar que o artigo utilizado como fonte para a informação sequer diz isso ao longo do texto. E, é claro, a orientação vai contra tudo aquilo que a Ciência prega e já produziu sobre o assunto até aqui.
Em resumo: a história que diz que um estudo publicado na Nature seria a prova de que a ivermectina seria a cura para a Covid-19 e que não precisaríamos da vacina é falsa! O estudo, na realidade, foi publicado no The Journal of Antibiotics, um periódico que faz parte da mesma editora que publica a revista Nature. Entretanto, o fator de impacto das duas publicações é bastante diferente: pouco mais de 2 para a primeira e cerca de 42 para a Nature. Além disso, o artigo não traz resultados conclusivos. Na realidade, os resultados sequer possuem relação com a proposta do trabalho.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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