Boato – Pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19 têm três vezes mais chances de morrer por causa da variante delta (variante indiana) do que pessoas que não foram vacinadas contra a doença.
A vacinação avança, alguns lugares parecem voltar ao “novo normal” e, mesmo assim, há pessoas que insistem em publicar desinformação sobre a vacina. A última das histórias aponta para um suposto “risco das vacinas”: de que elas matariam “três vezes mais” no caso de infecções com a variante delta (também conhecida como variante indiana) da Covid-19.
De acordo com um texto publicado em um site em inglês e republicado em páginas que atacam as vacinas aqui no Brasil, as pessoas vacinadas teriam três vezes mais chances do que pessoas não-vacinadas de morrer por causa da variante delta da Covid-19.
A conclusão “brilhante” veio do número de pessoas infectadas e mortas no Reino Unido com a variante delta entre vacinados e não-vacinados. De acordo com o texto, 0,26% pessoas que receberam vacinas morreram com a variante delta enquanto 0,08% dos não-vacinados teriam morrido com a doença. Leia trechos do texto que circula online:
BAITA CONFUSÃO – Pessoas Vacinadas Tem Três Vezes Mais Probabilidade De Morrer De Variante Delta Do Que As Não Vacinadas, Apontam Dados Divulgados Hoje No Reino Unido. “Um relatório publicado hoje (25) pela agência governamental do Reino Unido, Public Health England, revela que indivíduos que receberam a vacina COVID-19 têm três vezes mais probabilidade de morrer da variante Delta do que pessoas não vacinadas”.
* Não pode e não deve ser proibido esconder essas informações do público. Afinal, tudo se sabe do coronavírus, e nada se sabe desse vírus super inteligente que se transmuta com frequência. E mesmo porque essas vacinas são experimentais e emergenciais (não escondem de ninguém) não se sabendo o que pode ou não fazer de danos ao nosso DNA e genoma a médio e longos prazos. Compartilhe essa notícia para que mais pessoas saibam.
Vacinados têm três vezes mais chances de morrer com a variante delta da Covid-19?
Não demorou muito para os artigos em português se espalharem com tudo na internet e chamarem atenção por aí. O que nem todos que leram, aceitaram os números e compartilharam os links dos sites se atentaram é que, além de a informação não ter lógica, os números apresentados estão completamente distorcidos.
Esse tipo de fake news contra vacinas que não passam de traduções de artigos de sites antivacinas em inglês são, infelizmente, comuns na internet. Aqui no Boatos.org já desmentimos diversas informações falsas desta natureza. Só nos últimos dias, desmentimos informações falsas sobre vacinação universal anulada pela Suprema Corte dos EUA, da proteína spike das vacinas mRNA ser um “veneno”, que as vacinas seriam experimentais e que vacinados não poderão viajar de avião.
Assim como nos outros casos, a informação que circula online é falsa. Antes de tudo, é preciso dizer que estudos mostram que vacinas contra a Covid-19 (pelo menos até o momento) protegem contra a variante delta. Estudos apontam que a vacina da Pfizer e da AstraZeneca garantem proteção contra a variante (apesar de alertas da OMS para um possível “escape” da variante se a pandemia não for controlada). Não há estudos com outras vacinas até o momento.
Ou seja: só o fato de você estar com alguma proteção contra a doença já diminui as suas chances de morte e inviabiliza a tese ridícula de que não tomar a vacina protege você mais contra a variante delta do que tomar. Não bastasse isso, os números em questão estão errados.
O texto em inglês chega ao “brilhante número” com base nos seguintes dados: 70 de 27.192 vacinados infectados morreram por causa da variante delta (0,26%) e 44 entre 53.822 não-vacinados infectados morreram por causa da variante delta (0,08%). Só que o site se “esquece” de algumas variáveis.
A mais importante é que o cálculo ignorou a faixa etárias das pessoas que morreram com a variante e o fato de que a maioria das mortes se deu com pessoas com mais de 50 anos e que este grupo tem um número muito maior de vacinados do que não-vacinados e que a maioria das infecções sem mortes se deu entre pessoas com menos de 50 anos (grupo que tem mais pessoas não-vacinadas).
Se ajustarmos calcularmos os casos e mortes por faixa etária, os números são outros. Nenhuma pessoa vacinada com menos de 50 anos morreu por conta da variante delta no gráfico em questão. Por isso, vamos focar em vacinados e não-vacinados com mais de 50 anos. De acordo com o mesmo gráfico usado pelo site que compartilhou a desinformação, os dados são os seguintes:
1) Pessoas completamente imunizadas que contraíram a doença com a variante delta com mais de 50 anos: 3.546. Pessoas completamente imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com mais de 50 anos: 50. Taxa: 1,41%. 2) Pessoas parcialmente imunizadas que contraíram a doença com a variante delta com mais de 50 anos: 3.953. Pessoas completamente imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com mais de 50 anos: 20. 3) Pessoas não-imunizadas que contraíram a doença com a variante delta com mais de 50 anos: 976. Pessoas não-imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com mais de 50 anos: 38
Com isso, podemos dividir as taxas de mortalidade em quatro modalidades. 1) Pessoas completamente imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com mais de 50 anos: 1,41%. 2) Pessoas completamente imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com menos de 50 anos: 0,5%. 3) Pessoas não-imunizadas que morreram pela doença com a variante delta com mais de 50 anos: 3,89%.
Os dados mostram que que, se levarmos em conta a divisão da faixa etária, os números são claros: quem não tomou vacinas têm mais chances de morrer com a variante delta (ou qualquer outra) do que pessoas que foram vacinadas.
Resumindo: a história que aponta que vacinados têm três vezes mais chances de morrer com a variante delta da Covid-19 do que não-vacinados é falsa. Não passa de mais um boato antivacinas que só faz atrapalhar o combate à pandemia.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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