Boato – Hacker prova, durante entrevista, que poderia adulterar os resultados da eleições nas urnas eletrônicas.
Com a proximidade das eleições presidenciais no Brasil, que vão ocorrer no próximo ano, em 2022, as fake news sobre o assunto voltam a circular com força nas redes sociais. Além de causar pânico entre a população, esse tipo de história falsa também gera desconfiança entre os eleitores e incita as discussões sobre o projeto que pretende implementar o voto impresso no Brasil.
Nos últimos dias, uma entrevista com de um “hacker”, concedida a um deputado federal bolsonarista, causou um verdadeiro burburinho nas redes sociais. O hacker em questão preso em 2020, após invadir os sistemas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e divulgar dados administrativos de ex-servidores e ex-ministros do TSE.
No vídeo, o hacker afirma que conseguiu invadir o sistema do TSE e teve acesso a todos os dados dos eleitores, como nome, CPF, voto e dados biométricos. Além disso, ele indicou que o sistema de contagem de votos do TSE seria ligado à internet, o que possibilitaria uma invasão e a alteração de votos. Por fim, mensagens apontaram que isso seria a prova de que as urnas eletrônicas seriam facilmente adulteráveis. Confira:
Versão 1: “Em entrevistas na cadeia à assessores do Deputado relator da PEC do voto auditável, o hacker apontou diversas vulnerabilidades verificadas no sistema do TSE e que a forma de invasão no sistema não demandou um grande trabalho. Após essas declarações e centenas de indícios de fraude, você confia nas urnas eletrônicas?”. Versão 2: “BOMBA! Hacker afirma que foi fácil invadir o sistema do TSE. Nosso único inimigo em 2022, são as urnas eletrônicas”.
Versão 3: “URNA ELETRÔNICA Hacker afirma que ao roubar dados dos administradores do TSE teve acesso aos votos dos eleitores e explicou que as urnas, apesar em de não estarem conectadas na hora do voto, são conectadas para contagem e quem estiver na rede pode manipular os resultados!!!”. Versão 4: “VÍDEO BOMBÁSTICO! Hacker afirma que foi fácil invadir o sistema do TSE e poderia facilmente adulterar resultado das urnas eletrônicas”.
Hacker prova que urnas eletrônicas podem ser facilmente manipuladas?
A história gerou uma grande confusão nas redes sociais, especialmente, no Facebook e deixou muitos eleitores preocupados. Apesar disso, a teoria de que as urnas seriam facilmente manipuladas é mentira. A explicação está no próprio processo eleitoral e nas contradições apontadas na entrevista.
Não é preciso nem dizer que histórias falsas sobre fraudes nas urnas eletrônicas são constantes na internet. A equipe do Boatos.org já desmentiu inúmeras delas, o que rendeu até um especial (A Semana em Fakes) sobre o assunto.
Ao assistir o vídeo, observamos que, apesar da entrevista ter uma caráter sensacionalista e ter sido utilizada com motivos políticos, ela não prova em nada que as urnas eletrônicas podem ser invadidas. Durante a entrevista, o hacker apenas aponta como conseguiu invadir o site do TSE e acessou informações administrativas. O homem foi induzido a afirmar que invadir as urnas eletrônicas seria “bastante fácil”, mas a realidade é que ninguém conseguiu provar a hipótese.
O primeiro erro da história foi apontar que o hacker invadiu as urnas eletrônicas ou o sistema de votação. Não foi isso que aconteceu. Após a divulgação do vídeo, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) emitiu uma nota explicando o que ocorreu durante a invasão de 2020.
De acordo com o TSE, os ataques foram relativos ao sistema online do TSE, por meio da técnica SQL injection, assim como o hacker descreveu no vídeo, e uma tentativa de ataque de negação de serviço DDoS. O TSE ressaltou que os ataques estão sendo investigados pela Polícia Federal.
Ainda segundo o TSE, após a invasão não houve a divulgação de informações de eleitores, mas sim de informações administrativas do Tribunal. Além disso, o TSE também explicou que o incidente não causou nenhum tipo de atraso na divulgação dos resultados. Na realidade, o que ocasionou a lentidão foi a adoção do novo equipamento que fez a totalização dos votos.
Os incidentes reportados, relativos a ataque a sistema online do TSE (pela técnica SQL injection) e tentativa de ataque de negação de serviço DDoS, foram divulgados pelo próprio TSE nas eleições de 2020 e são atualmente objeto de investigação pela Polícia Federal. Diversamente do afirmado, não houve qualquer vazamento de informações de eleitores, mas apenas de informações administrativas do Tribunal. Também é falsa a afirmação de que os incidentes ocasionaram o atraso na divulgação de resultados. Como já esclarecido, a lentidão maior que a esperada ocorreu por causa do atraso do novo equipamento adquirido para a totalização dos votos.
O segundo erro está em apontar que o sistema eletrônico seria facilmente adulterado no momento da transmissão dos dados. Segundo o TSE, as urnas eletrônicas não possuem qualquer tipo de conexão com a internet. Se isso não bastasse, após o encerramento da votação, as urnas imprimem um relatório (o boletim de urna), onde mostram a quantidade de votos em cada candidato. Ao final da votação, os boletins ficam disponíveis na entrada de todas as seções eleitorais. Dessa forma, de acordo com o TSE, seria improvável fraudar resultados uma vez que o boletim de urna permite que a votação seja auditável.
Em relação às demais afirmações contidas no vídeo, trata-se de meras especulações, que demonstram desconhecimento sobre como funciona o processo de votação brasileiro. As urnas eletrônicas não têm qualquer conexão com a internet e imprimem o resultado da votação antes da transmissão de resultados ao TSE. Portanto, mesmo na improvável hipótese de acesso indevido às redes da Justiça Eleitoral e violação de todas as diversas barreiras de segurança, não seria possível alterar os resultados da eleição impressos pela urna eletrônica. Esclareça-se, ainda, que os equipamentos nos quais são executadas as totalizações do país existem fisicamente no TSE, com acesso restrito.
Além disso, durante um curso realizado pelo TSE, em 2020, com o então secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal, Giuseppe Janino, foi apontado que após o final das eleições, o resultado da urna é criptografado e assinado digitalmente. Após isso, ele é enviado para um ponto de transmissão privativo e enviado, via satélite, ao data center do TSE. De acordo com o Tribunal, após o envio, o sistema fará um checklist de segurança para conferir se o certificado digital dos dados correspondem com o indicado. Se a análise apontar algum dado corrompido ou programa malicioso, o sistema acusa a falha e interrompe a contagem.
Janino também explicou que a urna não mostra os dados de forma sequencial, mas sim de maneira aleatória (que são lidos de modo correto apenas por programas específicos do TSE). Caso contrário, seria possível identificar em qual candidato cada pessoa votou. Além disso, é importante destacar que as urnas eletrônicas são totalmente auditáveis, tanto pré quanto pós-eleição.
Se isso não fosse o suficiente, em junho de 2021, o TSE desmentiu que o ataque realizado em seu site, em 2020, tenha afetado a segurança das eleições. Segundo eles, o ataque não foi direcionado às urnas eletrônicas e não conseguiu acessar os dados dos eleitores.
Em resumo: a história que diz que uma entrevista com um hacker prova que as urnas eletrônicas são facilmente fraudáveis é falsa! No vídeo, é possível ver que o hacker explica como realizou o ataque ao sistema online do TSE. Entretanto, muitas suposições feitas ao longo da entrevista não passam de hipóteses sem comprovação. Se isso não bastasse, as urnas eletrônicas emitem boletins ao final da votação que são disponibilizados à toda a população. Por fim, os dispositivos são auditáveis tanto pré quanto pós-eleições e não possuem qualquer ligação com a internet. Ou seja, a história não passa de balela.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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