Boato – A cebola é muito perigosa. Ela é um ímã de bactérias, não deve ser guardada na geladeira e, ainda por cima, cura a gripe.
Antes da pandemia da Covid-19, a maior preocupação entre a população era o período em que os casos de gripe aumentavam no Brasil. E, justamente, neste período (que coincide com o início da vacinação) que surge um texto sobre “cebola e gripe”.
A mensagem remonta a época da gripe espanhola (pandemia que matou milhões de pessoas ao redor do mundo) e conta a história de uma família de fazendeiros que não sofreu com a doença porque havia espalhado cebolas pela casa e a tal cebola seria um “imã de bactérias”. A mensagem também aponta que, por isso, as cebolas não poderiam ser guardadas na geladeira. Leia o texto que circula por aí:
Confira desmentidos em vídeo
VIVENDO E APRENDENDO Taí uma coisa que nós fazemos e é tão perigosa! CEBOLAS! Eu nunca tinha ouvido essa! Em 1919, quando a gripe matou 40 milhões de pessoas havia um doutor que visitou muitos agricultores para ver se ele poderia ajudá-los a combater a gripe, pois que muitos deles que haviam contraído a doença haviam morrido.
Em uma visita na propriedade de outro fazendeiro, na mesma região, a médico surpreendeu-se em saber do bom estado de saúde que lá encontrou. Todos estavam muito saudáveis. Quando o médico perguntou ao fazendeiro o que eles estavam fazendo para se protegerem da gripe, a mulher deste prontamente respondeu que ela colocava uma cebola cortada (com casca) em pratos e distribuia-os nos quartos da casa.
O Médico não podia acreditar no que ouviu. Pediu ao fazendeiro para lhe entregar uma das cebolas que estava usando e pôs sob seu microscópio, quando então observou enorme números de bactérias da gripe ali acumulados. Levado a um pneumologista, este explicou que as cebolas são um ímã enorme para as bactérias, especialmente as cebolas cruas. Em suma, nunca mantenha cebolas fatiadas para serem usadas no dia seguinte, mesmo que colocadas em sacos fechados, herméticos ou na geladeira. Seu consumo deve ser imediato, vez que pode ser um perigo consumí-las a posteriori.
Além disso, os cães nunca devem comer cebolas. Seus estômagos não pode metabolizar cebolas. Lembre-se: é perigoso cortar uma cebola e consumí-la no dia seguinte. A cebola se torna altamente venenosa, mesmo depois de uma noite única, e cria bactérias tóxicas. Estas bactérias podem causar infecções do estômago adversos por causa de secreções biliares em excesso e intoxicação alimentar. Repasse esta mensagem a todos os que você ama e se preocupa! Autor desconhecido
Cebola cura gripe, é um ímã de bactérias e não deve ser guardada na geladeira?
Em 2022 (com o anúncio da vacinação contra a gripe no Brasil), a história voltou a circular. Só que, além de o causo ser uma balela, já desmentimos a história diversas vezes. Desmentimos a fake news em 2013, 2017, 2018, 2019 e 2020. Como o último desmentido que fizemos vale para hoje, relembre o que escrevemos:
2013: Vamos aos fatos: o texto não cita muitos detalhes fiáveis. Não diz onde aconteceu esta história, quem era o médico e quem era o pneumologista que comprovou a tese da cebola como imã de bactérias. Em uma época que o mundo estava sendo assolado por uma pandemia, com certeza essas pessoas ficariam famosas como, por exemplo, Oswaldo Cruz, que difundiu a vacina contra febre amarela no Brasil.
A mensagem também tem alguns erros de português e, principalmente, de concordância. Pior do que isso, o texto fala sobre “bactéria da gripe”. Na realidade, a gripe é uma doença causada por um agente viral, como pode ser visto no site do médico Dráuzio Varella. Isso mostra que o texto não foi escrito por um especialista. Ao buscar alguma referência sobre a eficácia da cebola contra a gripe, não se encontra nenhum resultado. Uma matéria da Veja cita, inclusive, que comer cebola para prevenir gripe é mito.
2017: Focando só na parte do “perigo da cebola”, podemos afirmar com base em três pontos que a história é falsa. O primeiro é que o texto não tem muita coerência. Qual a relação causa-consequência da história de 1919 e a cebola ser fatal? Mesmo que o conto fosse verdadeiro (e não é), uma coisa não tem nada a ver com outra.
O segundo ponto está no número de mortes causadas por uma cebola cortada e consumida posteriormente. Sabe quantos casos existem no mundo relatados? Se você falou nenhum, acertou. Se você acredita que isso significa que o perigo não é tão grande assim, também acertou. Junte isso a um texto que não tem autoria e que “pede compartilhamento” (características de boatos) e temos mais uma balela.
2018: Já deu para ver que a história é falsa e manjada. Agora vamos à autoria. A mulher que gravou o áudio não é uma infectologista do Emílio Ribas. Temos duas provas para isso (além da óbvia, que é o fato da história da cebola ser falsa e o nome dela estar errado). A primeira é que a história foi desmentida pela Sociedade Brasileira de Infectologia.
A segunda é que a gente sabe quem gravou o áudio. Trata-se da mesma mulher que espalhou histórias falsas como a que apontava que o Dr. Dráuzio Varella disse que mamografia causa câncer. Ou seja: é uma fonte manjada de fake news.
2018 (II): Como de “tradição”, não vamos perder muito tempo com boatos já desmentidos. As únicas diferenças dos desmentidos de 2013 e 2017 para o de hoje é a “moral da história” que circulou online e a primeira frase do texto.
2019: Voltamos para falar da “parte” que atribui a autoria do áudio à Dra. Juliana Miguita. Dois motivos nos levam à conclusão de que é falso. O primeiro está em uma busca sobre as redes sociais da médica (que trabalha no Hospital das Clínicas). Por algumas oportunidades (2018 e 2019), ela negou a autoria do texto.
O segundo motivo foi apresentado quando desmentimos que o mesmo áudio havia sido criado, na realidade, pela Dra, Marinella Della Negro. Relembre: “a gente sabe quem gravou o áudio. Trata-se da mesma mulher que espalhou histórias falsas como a que apontava que o Dr. Dráuzio Varella disse que mamografia causa câncer. Ou seja: é uma fonte manjada de fake news”.
Resumindo: é falsa a história que aponta que cebola é um aliado para curar a gripe, um ímã de bactérias e que a prova seria uma história da gripe espanhola. Trata-se de uma mensagem falsa que (com algumas variantes) temos que desmentir todos os anos.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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