Boato – O ex-presidente da Bolívia Evo Morales cobrou, durante discurso a Chefes de Estado dos países produtores de petróleo, a devolução de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata por parte da Europa para América.
Em todos os espectros políticos e para todos os espectros políticos. Essa seria uma forma de classificar como circulam as fake news. A prova disso está na história de hoje, que circula há muito tempo e aponta para um suposto discurso do ex-presidente da Bolívia Evo Morales.
No texto, é dito que Evo Morales, em um discurso para “países produtores de petróleo”, teria dito que a Europa teria que devolver 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata pilhados da América. Leia trechos do texto que circula online (cortamos um pouco dele porque é muito grande):
EXCELENTE TEXTO EXTRAORDINÁRIO EVO MORALES! Apresentação do Presidente da Bolívia Evo Morales perante a reunião de Chefes de Estado dos países produtores de petróleo. Com linguagem simples, transmitida em tradução simultânea para mais de uma centena de Chefes de Estado e dignitários de países produtores de petróleo, conseguiu inquietar o público ao dizer:
«Aqui então eu, Evo Morales, vim encontrar os que celebram o encontro. Aqui, então, eu, um descendente daqueles que povoaram a América há quarenta mil anos, vim para encontrar aqueles que a encontraram há apenas quinhentos anos. Aqui, então, estamos todos. Sabemos o que somos, e isso é suficiente. Eu, vindo da nobre terra americana, declaro que a alfândega europeia me pede papel escrito com visto para poder descobrir quem me descobriu.
Eu, vindo da nobre terra americana, declaro que o irmão usurário europeu me pede o pagamento de uma dívida contraída por Judas, a quem nunca autorizei a me vender. Eu, vindo da nobre terra americana, declaro que o irmão advogado europeu me explica que toda dívida é paga com juros, mesmo que seja vendendo seres humanos e países inteiros sem pedir seu consentimento.
Estou descobrindo-os. Também posso reivindicar pagamentos e também posso reivindicar juros. Está registrado no Arquivo das Índias, papel após papel, recibo após recibo e assinatura após assinatura, que somente entre 1503 e 1660, 185.000 quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata chegaram a San Lucas de Barrameda vindos da América. Pilhagem? […]
Portanto, ao comemorarmos o V Centenário do Empréstimo, podemos nos perguntar: nossos irmãos europeus fizeram um uso racional, responsável ou pelo menos produtivo dos fundos tão generosamente adiantados pelo Fundo Indo-Americano Internacional? Lamentamos dizer não. […]
Nesta base, e aplicando a fórmula europeia de juros compostos, informamos aos descobridores que nos devem, como primeiro pagamento da sua dívida, uma massa de 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata, ambos valores elevados à potência de 300. Ou seja, um número cuja expressão total exigiria mais de 300 algarismos, e que excede em muito o peso total do planeta Terra.
Muito pesadas são essas pilhas de ouro e prata. Como eles pesam calculado em sangue? Argumentar que a Europa, em meio milênio, não conseguiu gerar riqueza suficiente para pagar esses juros modestos seria o mesmo que admitir seu fracasso financeiro absoluto e/ou a irracionalidade insana dos pressupostos do capitalismo. Tais questões metafísicas, é claro, não incomodam a nós índios americanos.
Mas exigimos a assinatura de uma Carta de Intenções que disciplina os povos devedores do Velho Continente e que os obrigue a cumprir o seu compromisso através de uma pronta privatização ou reconversão da Europa, que lhes permita entregá-la integralmente a nós , como o primeiro pagamento da dívida histórica… Depois de viver e sonhar, há o que mais importa: acordar. 185 mil quilos de ouro e 16 milhões de quilos de prata! Esse foi o empréstimo da América para a Europa no século 16… Nós não devemos nada ao FMI, eles nos devem”.
Evo Morales cobra devolução de dinheiro à América em discurso para “produtores de petróleo”?
A história já circula há muito tempo na internet e ganhou força em redes sociais. Só que, ao contrário do que muitos imaginam, Evo Morales nunca fez o tal discurso e tampouco para “para os países produtores de petróleo”.
A mensagem, o histórico e a ausência de informações sobre o assunto já nos causam desconfianças. O texto que circula online é vago, alarmista, tem erros de português e não cita qualquer fonte confiável que comprove algo sobre a fala.
Além disso, discursos falsos atribuídos a “grande líderes” circulam há tempos na internet. Aqui no Boatos.org, por exemplo, já desmentimos histórias falsas que apontam para discursos de Xi Jinping, Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu.
Para completar o “briefing”, ao buscar sobre a tal fala em fontes confiáveis, nada encontramos. Ao contrário, encontramos um desmentido sobre o assunto. Em 2017, um artigo do site Telesur debateu como a pós-verdade favoreceu a disseminação da história. O articulista aponta claramente que não houve o encontro e tampouco houve o discurso.
Para ajudar, descobrimos que o mesmo texto já foi atribuído a outras figuras da América do Sul. Há textos com o mesmo causo em nome de um cacique chamado Guaicaipuro Cuatemoc (que não existe). Ou seja: o texto surgiu com o nome de alguém que não existe e, assim como em tantos outros fakes, ganhou a “alcunha” de Evo Morales para viralizar.
Resumindo: é falsa a história que aponta para um discurso de Evo Morales pedindo a devolução do dinheiro saqueado pela Europa ao Brasil. Trata-se de um texto fictício criado originalmente por um personagem fictício e que depois ganhou o nome do ex-presidente da Bolívia.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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