Boato – Descobrimos que fomos enganados o tempo todo. As máscaras sempre foram inúteis para prevenção da Covid-19 e já foi definido que o vírus saiu de laboratório chinês em Wuhan.
Infelizmente, muitas das fake news que surgiram durante a pandemia acabaram sendo derivadas de interpretações erradas de estudos sobre a Covid-19. Esse movimento funciona da seguinte da forma: quando um estudo (mesmo que questionado) aponta para uma informação que reforça um posicionamento, ele é compartilhado como “verdade absoluta” e viraliza.
Depois de algumas notícias (que já vamos mostrar que são controversas), começam a surgir teses de que “agora, a realidade veio à tona”. E ela seria a seguinte: 1) Está definido que o coronavírus surgiu em um laboratório na China. 2) Foi descoberto que as máscaras não protegem contra a Covid-19.
Máscaras foram inúteis no combate à Covid-19 e está definido que coronavírus saiu de laboratório chinês?
As duas teses se espalharam pela internet. No Twitter, por exemplo, figuras conhecidas por espalhar fake news sobre a pandemia comemoraram (principalmente na questão das máscaras). Só há um detalhe: não é possível cravar que estas informações (sobre a origem da Covid-19 e sobre as máscaras) estão corretas. Pelo contrário: estas teses ainda são refutadas pela ciência e por investigações.
Vamos falar parte a parte. Primeiro, vamos ao assunto mais nebuloso: a origem do coronavírus. A informação que tem embasado a tese de que “se descobriu que o vírus surgiu no laboratório de Wuhan” veio por meio de um relatório do Departamento de Energia dos Estados Unidos.
Agora, dois detalhes “esquecidos”: 1) o relatório em questão está classificado como “baixa confiança” e não há apresentação de nenhuma evidência que aponte para isso (o ônus da prova é de quem acusa). 2) A maioria das agências dos EUA ainda defendem que a origem do vírus foi “natural’.
No momento, não há um consenso sobre a origem da doença. A OMS, inclusive, aponta que continua investigando. Com isso, podemos dizer com certeza que é leviano afirmar, no momento, que temos evidências para afirmar que o coronavírus surgiu de um laboratório de Wuhan. Ainda não é possível sustentar esta acusação (o quadro pode mudar, mas é o temos no momento).
Agora, o segundo (e mais importante) ponto. A base para a teoria de que as máscaras não protegem foi uma meta-análise (estudos de outros estudos) publicada na revista Cochrane (uma publicação de renome no meio científico). Então, está certo? Não é bem assim.
Primeiro porque, como mostra este conteúdo, não é possível cravar que o próprio estudo disse que “máscaras são inúteis”. O que foi dito é que “não há certeza de que as máscaras retardam a propagação de vírus respiratórios” e que “o uso de máscara faz pouca ou nenhuma diferença em quantas pessoas têm gripe ou Covid-19”.
Além disso, a metodologia do estudo (apesar de publicada em uma revista de renome) está sendo criticada pelo meio científico. Por exemplo, o médico infectologista e professor de medicina Alexandre Zavascki apontou, nesta publicação no Twitter, diversos erros na metodologia (como, por exemplo, viés em estudos analisado e o grande número de estudos pré-pandemia) e apontou, inclusive, que estudos focados apenas na Covid-19 mostraram a eficácia das máscaras.
Vale lembrar que há diversos estudos que divergem do posicionamento de que as máscaras não são eficazes (não esqueçamos que o uso de máscaras é algo recorrente em países asiáticos desde antes da pandemia) e que a própria OMS mantém a recomendação de uso do item para prevenção da Covid-19.
É importante citar que a eficácia das máscaras (assim como de tantas outras medidas) perpassa por algo muito importante: o uso correto delas. Ou seja: quanto mais as máscaras forem utilizadas corretamente e por um número maior de pessoas, mais a sua função é cumprida. E o que vimos em muitos momentos da pandemia foi o mau uso do item (pelo menos aqui no Brasil).
Ou seja, em relação às máscaras, podemos dizer que (apesar do estudo em questão) não é possível também afirmar que as máscaras foram inúteis na pandemia. Para a OMS, ela é útil, sim (se utilizada corretamente).
Resumindo: não é possível nem certo afirmar que a “realidade mostra” que o coronavírus surgiu na China e que as máscaras foram inúteis. Quem defende a tese se baseia em dados limitados e que vão contra o consenso (pelo menos até o momento) destes dois fatores da pandemia.
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