Boato – Homem com HIV passa pelas casas pedindo por um copo de água e estupra as mulheres distraídas enquanto atendem ao seu pedido.
Cá estamos novamente tratando de um boato que surge do nada, com informações sem precedente nenhum e que se espalha mais rápido que fofoca de rua. Novamente estamos aqui para desmentir uma história que começa por falta de responsabilidade, noção ou maturidade e que pode resultar em problemas bem sérios, até mesmo em tragédia.
Não faz um mês desmentimos o boato sobre um alerta no Facebook que anunciava pesquisas fraudulentas nos shoppings. Bandidos disfarçados de pesquisadores, essa era história, inventada claro.
Nesse mesmo texto comentamos do perigo de se espalhar boatos dessa natureza e demos o triste exemplo da mulher que foi morta depois de ser acusada de bruxaria em uma postagem da internet. Fabiane Alves de Jesus não completou um ano de falecimento ainda e as pessoas estão fazendo bobeira do mesmo tipo por aí.
A palhaçada do momento, a asneira da vez, a estupidez de agora (chamem como quiser) é a circulação da foto de um homem com o seguinte recado: ‘Pessoal, esse cara tem HIV e está passando pedindo água e na sequência está cometendo estupros. Favor divulgar’.
A foto e a mensagem começaram a se espalhar através do aplicativo WhatsApp. Agora a imagem e o alerta estão sendo divulgados no Facebook, em diferentes perfis, de pessoas de todo o país. Para piorar, cada postagem rendeu milhares de compartilhamentos, algumas já chegaram a mais de 500 mil.
Agora vamos às inverdades desse boato. Sim, boato, não tenham dúvida. A mais importante de todas: não foi registrado nenhum caso do tipo nas polícias de cada estado por onde a história se espalhou. Alguns departamentos já até desmentiram a balela publicamente.
Outra falha grotesca da história: não há informação nenhuma que respalde o alerta divulgado. Que homem é esse da foto? De onde ele é? Em que cidade ele passa pedindo água? Se o suspeito tem aterrorizado cada cidade em que a foto foi compartilhada, o homem deve ter poderes mágicos para estar em lugares de diferentes estados em tão pouco tempo. Um supervilão, talvez, alguém chame o Superman para resolver.
Mais absurdo ainda é compartilhar uma foto desconhecida atribuindo a essa pessoa a realização de um crime. Em situação parecida uma mulher foi linchada e morta em maio. E se o homem está vivo? E se não tem ideia do que está acontecendo e resolve pedir água amanhã? E se essa pessoa tem família? E se matam ele como fizeram com a jovem do Guarujá?
São tantas possibilidades provenientes de uma história sem pé nem cabeça, que poderíamos ficar divagando aqui até amanhã. Sem comentários então para o desrespeito de atribuir ao suposto criminoso a sorologia positiva para HIV, deixando no ar que o estuprador é muito pior porque tem o vírus.
Só a título de curiosidade, a discriminação contra a pessoa que vive com HIV ou AIDS é crime (Lei nº 12.984/2014). Além disso, inventar mentiras e enganar a população dessa forma também é crime, rende de cinco a dez anos de cadeia.
De todas as perguntas que deveriam ser feitas antes de se compartilhar a foto de uma pessoa sob acusação tão grave, duas se sobressaem. E fosse você na foto? Quantas pessoas terão que morrer na rua sendo confundidas com criminosos (existentes ou não) até que comecemos a compartilhar conteúdo na internet com responsabilidade? Pensemos enquanto esperamos que apareça o próximo boato absurdo para ser desmentido.
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