Boato – As big techs Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify anunciaram, por meio de uma nota oficial BRPT, que formaram a “Democracy Alliance” e que vão deixar o Brasil por causa do PL 2630, das fake news.
Nos últimos dias, o debate em torno do PL 2630, chamado de projeto de lei das fake news, tem sido intenso. De um lado, algumas plataformas estão se posicionando contra o projeto, como o Google, que publicou uma nota em sua página inicial, mas acabou retirando o texto do ar. O posicionamento tem o apoio da oposição ao governo Lula.
De outro, muitas pessoas estão apoiando que o projeto saia do papel e possa combater a onda de ódio e de desinformação que está afetando o Brasil há alguns anos. A mídia e o governo também têm se empenhado (cada um por seus motivos) pela aprovação. No meio desse debate, a tensão tomou conta do Congresso e a votação, que deveria ter acontecido no dia 2 de maio de 2023, acabou sendo adiada por falta de votos favoráveis ao PL 2630. Quem acha que o debate acabou se engana.
De acordo com uma história que está sendo compartilhada por meio de um PDF de nome “nota oficial BRPT” nas redes sociais, as chamadas Big Techs tomaram uma “decisão drástica”. Segundo um texto que começou a circular na internet, as empresas Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify decidiram suspender suas atividades no Brasil a partir do dia 4 de julho de 2023, às 0h01min, caso o PL das Fake News seja aprovado.
Ainda segundo o texto, que cita situações ocorridas pelo WhatsApp em 2015 e 2016 e decisões do STF, o posicionamento das empresas tem o objetivo de defender a liberdade de expressão e a democracia no Brasil. Há até um nome para a suposta aliança: “Democracy Alliance”. Leia o conteúdo do PDF (alerta: o texto é gigantesco):
Confira o desmentido em vídeo:
Mensagem: *O WhatsApp, instagram, Facebook, Telegram, Google, YouTube,play Store, Twitter e Sporfy, fizeram um comunicado oficial que no dia 04/07/2023 a meia noite não irão mais funciona no Brasil 🇧🇷 caso o governo lula continue com a censura nas redes sociais. Se isso acontecer será uma tragédia gigantesca, de proporções gigantescas, possivelmente irar causar danos incalculáveis. Aguardemos os desdobramento desses fato!*
Texto da nota: NOTA OFICIAL BRPT Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify Democracy Alliance 2 de Maio, 2023 NOTA OFICIAL O Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify uniram-se em uma iniciativa inédita para defender a liberdade de expressão e a democracia no Brasil. Desde a nossa chegada ao Brasil, em diferentes periodos ao longo dos últimos 23 anos, temos como missão oferecer aos brasileiros acesso livre à informação e comunicação, conectando os quatro cantos do país de maneiras nunca antes possíveis.
O WhatsApp, por exemplo, é usado diariamente por quase 175 milhões de brasileiros, de todas as esferas sociais, para fins pessoais e profissionais. Sempre atendemos aos requisitos da justiça brasileira, fornecendo todas as informações e dados tecnologicamente disponíveis. Nos últimos anos, observamos com preocupação uma escalada autoritária que ameaça a liberdade de expressão, imprensa e a democracia no Brasil. gostaríamos de resslatar très episódios específicos corroboram essa tendência:
- Em 2019, o Supremo Tribunal Federal censurou a revista Crusoe e o site O Antagonista após a publicação de uma reportagem que citava uma suposta ligação entre o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, e a empreiteira OAS. O ministro Alexandre de Moraes chamou a reportagem de “tipico exemplo de fake news” e afirmou que os sites extrapolaram a liberdade de expressão. No entanto, o Jornal Folha de São Paulo teve acesso ao documento autêntico assinado por um advogado da Odebrecht, confirmando a existência do material. O documento foi incluido nos autos da Lava Jato, em Curitiba, no dia 9 de abril e retirado três dias depois, após a noticia publicada pela Crusoe. O diretor da revista Crusoé, Rodrigo Rangel, disse que “reitera o teor da reportagem, baseada em documento, e registra, mais uma vez, que a decisão [de Moraes] se apega a uma nota da Procuradoria-Geral da República sobre um detalhe lateral e utiliza tal manifestação para tratar como fake news uma informação absolutamente veridica, que consta dos autos da Lava Jato”.
- Entre 2015 e 2016, o WhatsApp foi suspenso quatro vezes em todo o território nacional, afetando diretamente mais de 150 milhões de brasileiros, dos quais pelo menos 13 milhões dependiam da plataforma para gerar algum tipo de renda própria. A ignorância tecnológica dos juízes responsáveis pelas decisões foi fundamental para o bloqueio. De forma figurativa para comparação, juízes pediam à Meta, à época, algo como exigir que os Correios violassem, lessem e guardassem copias de todas as correspondências que circulam diariamente, para fornecê-las prontamente sempre que uma investigação fosse demandada. Isso é, não somente impossível, mas também comprometeria a proposta de privacidade do WhatsApp, devido à criptografia das mensagens. Uma das medidas tomadas resultou na prisão do vice-presidente do Facebook na América Latina, tornando-se um dos episodios mais tristes da historia corporativa da Meta.
- No ano passado, o Supremo Tribunal Federal, instituição, em tese, responsável por garantir a aplicação da Constituição Federal, decretou censura prévia a um documentário que seria veiculado no Youtube por um canal independente de midia. De maneira autoritária, o STF ignorou principios básicos da Carta Magna, como a liberdade de expressão e de imprensa, que são direitos fundamentais e so podem ser restringidos em casos extremamente específicos e seguindo um processo legal justo Nenhum dos ministros, incluindo Benedito Gonçalves, que assinou a decisão liminar, assistiu ao documentário que ainda não estava concluido quando a proibição foi decretada pelos magistrados. A proibição prévia de conteúdo no Brasil não ocorria desde o período da ditadura militar e abre um precedente extremamente preocupante.
Por fim, após análise de dados pela Google Brasil, constatou-se mais um motivo de preocupação; uma possível conivência por parte dos maiores conglomerados de mídia do Brasil em relação à crescente autoritária. Recentemente, dois dos maiores jornais do mundo, o The New York Times e o The Wall Street Journal, noticiaram preocupação com a democracia brasileira em duas matérias intituladas “Ele [Alexandre de Moraes) é o defensor da democracia no Brasil. Mas será que ele é realmente bom para a democracia?” e “A repressão do Brasil à liberdade de expressão” (tradução livre), respectivamente. Causou estranheza o fato de que, nos últimos 15 anos, 100% das matérias veiculadas nas capas de ambos os jornais foram também publicadas nas principais páginas de pelo menos um dos seguintes sites (os maiores do Brasil em número de acessos): www.uol.com.br, gl.globo.com ou www.globo.com.
Esta marca a primeira vez na história desses sites em que uma noticia de destaque sobre o Brasil veiculada pelo The New York Times ou Wall Street Journal não recebeu destaque em suas paginas principais É importante destacar que a preocupação com o monopólio midiático no Brasil não é algo recente e não se limita apenas as empresas de tecnologia da informação, em 1993, a BBC produziu o documentário “Muito Além do Cidadão Kane”, que investiga o papel politico e econômico da Rede Globo, maior conglomerado de mídia do Brasil, e como ela influencia a sociedade brasileira. O documentário explora tópicos como a concentração de mídia, a manipulação de informações, a censura e as violações dos direitos humanos durante a ditadura militar no Brasil As ferramanetas de busca e as redes sociais, historicamente, desempenharam um papel fundamental no combate ao monopólio da informação dos grandes canais de mídia. Com a ampliação do uso das redes sociais, é comum que um número maior de individuos tenha acesso à informações e noticias provenientes de diversas fontes e perspectivas, permitindo que vozes e opiniões até então ignoradas pelos meios de comunicação tradicionais, passem a contribuir para a produção e disseminação de informações, o que, por sua vez, torna o processo mais democrático.
O resultado? Um mundo mais conectado, informado e livre. A nossa percepção é de que, sob o pretexto de “preservar a democracia”, figuras importantes do cenário politico e judicial brasileiro têm adotado uma atitude autoritaria e, progressivamente, vem cerceando a liberdade de expressão, e enfraquecendo a democracia no Brasil. A nossa missão sempre foi a de impulsionar a democratização do acesso à informação e conectar pessoas de diversas culturas, visões e ideias em todo o mundo. Estamos comprometidos em criar um espaço onde a diversidade de idelas é valorizada e as vozes anteriormente negligenciadas são ouvidas Acreditamos que, ao promover um ambiente de abertura e colaboração, podemos criar um mundo mais justo e igualitário para todos De maneira conjunta e com PESAR, informamos que no dia 4 de Julho de 2023, à 00h01, SUSPENDEREMOS as atividades no Brasil de todos os produtos e serviços ofercidos por esse grupo como forma de trazer atenção ao grande público, ao que consideramos, um rápido processo de destruição da democracia brasileira, a segunda maior do mundo ocidental. Como um grupo comprometido com a liberdade e a democracia, acreditamos que é nossa responsabilidade agir para protege-las onde quer que estejam ameaçadas. Juntos, continuaremos lutando por uma sociedade justa, igualitária e livre em todo o mundo. Atenciosamente: Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify
Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify anunciaram que vão deixar o Brasil em nota oficial BRPT?
A informação tem gerado um certo pânico e, claro, está sendo utilizada politicamente em algumas redes sociais, em especial, no WhatsApp. Apesar disso, a história não é verdadeira. Uma análise no conteúdo e uma olhada no posicionamento das redes sociais já mata a charada.
Ao olhar o texto, já é possível ficar muito desconfiado. A mensagem segue o velho roteiro das fake news na internet. Ela apresenta caráter vago, extremamente alarmista e tem muitos erros de ortografia. Queremos, inclusive, nos aprofundar neste ponto.
Ao analisar a suposta nota oficial atribuída às chamadas gigantes da internet, não pudemos deixar de reparar na quantidade de erros ortográficos presentes no texto, como falta de acentuação e pontuação. Isso destoa dos conteúdos que são normalmente publicados pelas empresas, visto que todas as empresas têm capacidade de pagar bons profissionais para a redação e revisão dos conteúdos.
Outro ponto bastante estranho no texto é a citação de casos que não geram consequências para as plataformas, como a decisão do STF em proibir a exibição de um documentário no YouTube (que não foi produzido pela plataforma). Ou ainda o longo relato sobre a situação política no Brasil, com juízo de valor e, nitidamente, enviesado para o lado da direita. Vale destacar que em nenhum outro momento essas empresas fizeram algo parecido e esse tipo de posicionamento não é comum entre elas.
Já desconfiados, resolvemos buscar por mais detalhes sobre a história. Como desconfiávamos, não existem notícias sobre o tal êxido em veículos de comunicação confiáveis. Se, de fato, as empresas em questão resolvessem “deixar o Brasil” e anunciassem isso, a informação não ficaria apenas em um PDF no WhatsApp. Viraria manchete em tudo que é veículo de comunicação.
Por fim, resolvemos procurar pelo posicionamento dos citados na história. Os perfis de Google, Meta (incluindo Instagram, Facebook e WhatsApp), Twitter, Telegram e Spotify não fazem qualquer menção à Democracy Alliance ou mesmo que vão deixar o Brasil. Ou seja: a história brotou do nada.
A Meta, inclusive, entrou, por meio da assessoria de comunicação, em contato com o Boatos.org e negou a autoria do documento. De acordo com a empresa, a Meta tomou conhecimento sobre uma carta falsa sobre o PL das Fake News que teria sido assinado por empresas de tecnologia. A Meta afirmou que não assinou nenhum texto parecido e que não irá suspender suas atividades no Brasil.
A Spotify, após contato do Boatos.org também desmentiu a autoria do conteúdo. A assessoria relatou que “A “Nota oficial” atribuída ao Spotify sobre suspender os serviços no Brasil a partir de 4 de julho é falsa”.
Entramos em contato com as outras redes sociais (Google, Twitter e Telegram) e iremos atualizar o posicionamento oficial (apesar de já saber que o documento é falso) assim que retornarem os nossos contatos.
Em resumo: a história que diz que Google, Meta, Twitter, Telegram e Spotify teriam escrito uma carta onde afirmam que vão suspender suas atividades no Brasil a partir do dia 4 de julho de 2023, caso o PL das Fake News seja aprovado é falsa! A carta surgiu em um contexto completamente aleatório (sendo compartilhada apenas pelo WhatsApp) e não existem manifestações nas páginas oficiais das empresas. Além disso, algumas das redes sociais já desmentiram a autoria do documento.
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 99458-8494.
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