Boato – Segundo a Constituição brasileira, se um presidente sofrer impeachment antes de 2 anos e um dia tem que ter novas eleições.
A queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e escândalos como o da Petrobras fizeram uma palavra voltar a ser falada na internet: impeachment. Bastou o governo de Dilma enfraquecer para as vozes opositoras à dela começarem a pedir para a presidente caia.
No meio de tudo isso, uma dúvida começou a pairar no ar: se realmente acontecesse um processo de impeachment de Dilma, quem seria a pessoa a assumir o poder. A página do Facebook Revoltados Online começou a apontar para uma dessas possibilidades com o seguinte texto:
Impeachment Dilma ferrou, agora o povo já sabe Segundo a nossa constituição brasileira, se um presidente tomar um impeachment antes de 2 anos e 1 dia, o vice não assume… Tem que ter novas eleições
Na imagem em que aparece o texto, está a foto de Dilma e do vice-presidente da República, Michel Temer. Agora que levantaram a bola, a pergunta ficou no ar: será que realmente ocorreriam novas eleições caso Dilma sofresse o processo de impeachment?
Pois bem. A Constituição desmente o que diz os Revoltados Online. A resposta está nos Artigos 80 e 81 da Carta. Leia:
Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos, serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de aberta a última vaga.
- 1º – Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
- 2º – Em qualquer dos casos, os eleitos deverão completar o período de seus antecessores.
Traduzindo:
– Se Dilma sair do poder antes de dois anos, Michel Temer assume o poder.
– Se Dilma sair do poder depois de dois anos, Michel Temer assume a vaga.
– Se os dois saírem do poder (sofrerem impeachment) antes de dois anos, ocorrem eleições diretas em 90 dias.
– Se os dois saírem do poder depois de dois anos, haverá eleição indireta. Ou seja, assume alguém escolhido no Congresso.
Agora vamos às possibilidades:
O primeiro ponto é que é improvável que Dilma seja retirada do poder por meio de impeachment. A única hipótese para isso seria se fosse comprovada a participação direta dela em algum caso de corrupção (por exemplo, na Operação Lava Jato). Tentar um processo contra Dilma sem a mínima prova de culpa dela é, no mínimo, antidemocrático. Vai contra o desejo da maioria nas urnas nas eleições.
Contando com a hipótese remotíssima de Dilma sair, menor ainda são as chances de presidente e vice sofrerem um impeachment. Se já é difícil comprovar o envolvimento de um dos dois com a corrupção, dos dois é praticamente impossível.
Sendo assim, podemos afirmar que, sim, se um presidente sofrer um processo de impeachment, é o vice que acaba assumindo o poder. Vale lembrar que foi o que aconteceu quando Fernando Collor de Mello foi retirado do poder em 1992. Em seu lugar, entrou o vice, Itamar Franco.
PS: esse artigo foi uma sugestão do leitor Giliardi Freitas Martins. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.