Boato – Durante celebração em Nápoles, o sangue de São Januário conservado em ampola desde o século XIV se liquefez nas mãos do Papa.
Fazer crer está entre as missões e razões da religião. Desde os primórdios do mundo tem sido dessa forma e claro, com a Igreja Católica não é diferente. Entre as mais imponentes religiões do planeta, o Catolicismo é marcado por seus dogmas, santos, ensinamentos e erros.
Outra marca muito comum da religião (não só dessa, como de muitas) é a batalha constante que travam com a Ciência. O que uma não explica a outra afirma ser obra divina, o que mesmo assim uma afirma ser obra divina, a outra tenta constantemente mostrar que não é.
E nesse cabo de guerra que pende de um lado para o outro está mais um boato. A história de que o Papa Francisco fez um milagre com o sangue de São Januário, durante uma celebração em Nápoles, na Itália. Confira o texto na íntegra:
‘O milagre aconteceu em Nápoles (Itália), no último sábado, 21 de março. O sangue de São Januário, que é conservado em uma ampola de vidro desde o século IV, deixou o estado de coagulação e se tornou líquido novamente. O milagre se repete nas festas do santo, mas, diante de um papa, isso não acontecia desde 1848, com o Papa Pio IX.
As pessoas presentes gritavam: “Milagre! Milagre!”. Parecia um gol: o povo de Nápoles ama o futebol e vive a religiosidade da mesma maneira, com paixão. O Papa Francisco, como sempre, reagiu com humildade. Ao constatar o milagre, o cardeal Sepe exclamou: “Sinal de que São Januário gosta do Papa, que é napolitano como nós, porque metade do sangue se liquefez!”.
Já o Papa, com seu jeito simples e bem humorado, respondeu: “O bispo disse que a metade do sangue se liquefez, acho que o santo gosta de nós pela metade, precisamos nos converter um pouco mais para que ele goste mais de nós!”. O Santo Padre concluiu seu encontro agradecendo e fazendo um pedido: “Muito obrigado! E por favor, eu lhes peço: não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado”’.
Vamos aos fatos então. Sim o Papa Francisco esteve em Nápoles na celebração especial de São Januário. Sim o conteúdo presente na ampola segurada pelo Papa, que a igreja assegura ser o sangue do santo se liquefez (em parte).
Porém, não é a primeira vez que o sangue do santo católico se liquefaz. Pelo contrário, faz parte da crença e ritual napolitano que duas vezes ao ano o sangue do São Januário se liquefaça. No primeiro sábado de maio e em 19 de setembro. Quando não, isso é sinal de catástrofe. Não faz muito tempo, em 2012 houve comoção com a liquefação do sangue do santo.
O fervor sobre o ocorrido está no fato de que o sangue não se liquefazia na mão de um papa desde 1848. Em algumas versões da história foi dito que o milagre da liquefação do sangue não ocorreu desde essa época (completamente mentira).
As dúvidas sobre o porquê do sangue constantemente se liquefazer não são de agora. Não se sabe ao certo se o conteúdo da ampola é de fato sangue, porque a Igreja nunca permitiu que cientistas examinassem a substância.
Testes feitos em laboratórios, por estudiosos como o Dr. Luigi Garlaschelli (químico renomado da Universidade de Pávia) concluíram que o a mudança no estado do sangue poderia ser explicada pela tixotropia. Fenômeno que ocorre quando um fluido muda sua viscosidade de acordo com o tempo. Um exemplo conhecido são misturas de água e amido de milho.
Outros estudos criaram o mesmo efeito com substâncias variadas e acredita-se que já na Idade Média havia-se como manipular substâncias para reagirem dessa forma.
Sobre o milagre, a própria Igreja Católica afirmou que não se trata de um milagre, mas de um evento prodigioso.
Por fim, vale ressaltar que a fé das pessoas é indiscutível. A crença também. O que sim podemos realmente discutir é o respeito ao próximo, o direito de acreditar no que queremos e até onde ir com nossa fé (ou crenças) sem ferir os outros. Sobre o resto, mais pessoal, impossível.