Boato – Israel decidiu cancelar contrato de aparelho de ultrassom que detecta câncer com o Brasil, depois do que Lula disse sobre a guerra
Análise
A fala de Lula, comparando os atos militares de Israel contra a Faixa de Gaza e os dos nazistas contra os judeus, ainda tem dado o que falar. Além de se tornar persona non grata em Israel, Lula também tem sido alvo de histórias falsas envolvendo a situação.
De acordo com uma publicação que está circulando nas redes sociais, após a fala polêmica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Brasil teria perdido uma enorme oportunidade. Segundo a história, Israel teria decidido cancelar o contrato de um aparelho de ultrassom que conseguiria detectar diversos tipos de câncer.
Ainda segundo a história, o contrato teria sido assinado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e a decisão do cancelamento teria sido tomada após a fala de Lula sobre a guerra. Confira:
“Israel inventou um aparelho que detecta câncer de mama e de próstata a partir da primeira célula. E faz a retirada sem cortes. Bolsonaro fez um contrato de importação desse aparelho, que começaria a vir a partir de agosto de 2024. Hoje, Israel cancelou todos os contratos”.
A história viralizou nas redes sociais, em especial, no X (antigo Twitter) e no Telegram e deixou muitos brasileiros revoltados com a situação. Apesar disso, a história apresenta algumas características de fake news na internet, como o caráter vago, extremamente alarmista, a falta de fontes confiáveis e a ausência de notícias sobre o assunto em veículos de comunicação confiáveis (que, convenhamos, se isso fosse verdade, estaria em todas as manchetes de jornais do país).
A partir daí, resolvemos investigar um pouco mais essa história e vamos te contar os motivos para duvidar dessa narrativa: 1) Do que se trata o aparelho ultrassom de Israel que detectaria câncer? 2) Bolsonaro fechou um contrato para trazer o ultrassom que detecta câncer para o Brasil? 3) Israel cancelou o contrato após a declaração de Lula?
Checagem
Do que se trata o aparelho ultrassom de Israel que detectaria câncer?
O aparelho, na verdade, não consegue identificar ou detectar o câncer. O serviço de ultrassom consegue destruir tumores benignos, como miomas, por meio de ondas sonoras de alta frequência. Com o auxílio de uma máquina de ressonância magnética, o aparelho consegue emitir até mil feixes de ondas em um mesmo lugar. Com o calor gerado, o ultrassom consegue queimar as células cancerígenas, sem afetar as células saudáveis.
De acordo com especialistas, o aparelho funciona muito bem em casos de tumores benignos, mas não consegue eliminar tumores malignos (funcionando apenas como um tratamento paliativo). A detecção do câncer continua sendo feita por meio de aparelhos de ressonância magnética.
Bolsonaro fechou um contrato para trazer o ultrassom que detecta câncer para o Brasil?
Não. O ultrassom que é capaz de destruir tumores benignos foi introduzido no Brasil em abril de 2011, pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), que disponibilizou a tecnologia ao Sistema Único de Saúde (SUS). Ou seja, a vinda do aparelho não teve nada a ver com Bolsonaro ou com qualquer outro governo federal.
Inclusive, em 2019, aqui mesmo no Boatos.org desmentimos a história de que Bolsonaro teria trazido o ultrassom que destrói células cancerígenas de Israel. Como explicamos na oportunidade, o aparelho foi trazido para o Brasil em 2011 e não tem nenhuma relação com Bolsonaro. De lá pra cá, não encontramos mais nada sendo dito sobre o tal aparelho ou sobre qualquer movimento de compra do ultrassom por parte do Estado.
Israel cancelou o contrato após a declaração de Lula?
Definitivamente não! Se não existia contrato, não haverá cancelamento. Ressaltamos que a compra do equipamento foi feita pelo Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em 2011, e não tem nenhuma relação com nenhum governo federal.
Conclusão
Fake news ❌
Israel não cancelou o contrato do aparelho de ultrassom que detecta câncer após fala de Lula. Para começo de história, o aparelho não detecta câncer. Ele consegue destruir tumores benignos e funcionar como tratamento paliativo para casos de tumores malignos.
Além disso, o aparelho foi trazido para o Brasil pelo Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), em abril de 2011, que comprou o ultrassom sem ajuda do governo federal (e muito antes de Bolsonaro). Dessa forma, se o contrato nunca existiu, o cancelamento também não existirá.
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610).