Boato – Mulher com forte odor foi internada e descobriu que pegou bactéria, presente apenas em mortos, por causa do marido, que trabalha em necrotério
Análise
Se você acessou as redes sociais nesses últimos dias, com certeza se deparou com uma história horripilante sobre uma mulher com forte odor na região íntima. A publicação fez um enorme sucesso na internet e deixou muita gente preocupada. De acordo com a história, uma mulher procurou o hospital, após sentir um cheiro forte e coceira na região íntima.
Segundo a publicação, ela já havia procurado outros médicos, mas não conseguiu resolver o problema. Ainda segundo a publicação, a mulher foi internada e, por meio de exames, descobriu que contraiu uma bactéria presente apenas em pessoas mortas. De acordo com a história, o marido da mulher trabalhava em um necrotério, praticava necrofilia e foi o responsável pela transmissão. Confira:
“Paciente sexo feminino 43 anos vem a unidade com coceira e odor tão fétido na vagina que era possível sentir na entrada do consultório. Paciente veio em desespero informando que já havia passado por vários médicos e feito uso de vários medicamentos mas o quadro persistia e piorava. Informa que tudo começou com odor forte cheirando a morto, o cheiro foi aumentando e junto começou a coceira e dor em local (vagina). O odor era tão forte que ela se sentia constrangida em sair de casa. Resolvi internar e começar a investigação.
Quando descobrimos o motivo veio um susto enorme. Na vagina tinha uma bactéria proveniente de pessoas mortas. O marido dela trabalhava em um necrotério, aonde praticava necrofilia e depois tinha relação com ela. O marido foi denunciado pelo o hospital (ficou preso poucos dias e está respondendo em liberdade) ela se divorciou e ficou traumatizada como o quadro está fazendo acompanhamento psiquiátrico atualmente”.
Checagem
A partir disso, resolvemos investigar essa história um pouco mais a fundo e vamos te explicar, de forma detalhada, os motivos para desconfiar dela: 1) A história da mulher infectada com uma bactéria presente em mortos por marido que trabalhava no necrotério é real? 2) O que reforça que a história da mulher infectada pelo marido que trabalhava no necrotério seja falsa? 3) Há uma bactéria só presente em mortos?
A história da mulher infectada com uma bactéria presente em mortos por marido que trabalhava no necrotério é real?
Não existe nenhuma prova sobre isso. Além disso, a história apresenta alguns pontos suspeitos. Como descobriram a necrofilia do marido? A história dá a entender que a mulher ficou internada durante todo o tratamento. Então, como ela descobriu? Até porque, quem sofre de parafilias (preferências e comportamentos sexuais que se desviam dos interesses e comportamentos socialmente aceitos), costuma esconder isso à sete chaves, seja por vergonha ou medo.
Como a mulher foi internada por causa do odor? Sabemos que o Sistema Único de Saúde (SUS) atende milhares de pessoas todos os dias. Além disso, os leitos em hospitais públicos são bastante disputados. É totalmente incomum que uma pessoa seja internada apenas por causa de um forte odor.
E o marido? Ele também se infectou ou não? A história afirma que apenas a mulher começou a exalar um forte odor na região íntima. Mas em nenhum momento fala sobre o marido. Se ele transmitiu a bactéria, com certeza ele também apresentaria os sintomas.
Se isso não bastasse, o site Metrópoles e a página de fact-checking e-Farsas também colocaram a história em dúvida. O site Metrópoles entrou em contato com a médica responsável pela divulgação do caso. A médica atendeu a reportagem, mas informou que estava ocupada e retornaria a ligação, o que não ocorreu.
Já o site de checagem e-Farsas destacou que essa narrativa é uma lenda urbana que já circula há décadas na internet. Além disso, o e-Farsas também ressaltou que não existem bactérias presentes apenas em pessoas mortas.
O que reforça que a história da mulher infectada pelo marido que trabalhava no necrotério seja falsa?
Se você já tem mais de 30 anos, com certeza já conhece essa história. A narrativa circula na internet antes mesmo das redes sociais serem populares. Existem registros dessa história já no início dos anos 2000 (e não só no Brasil). Eu mesma lembro de ver essa história circulando em comunidades do Orkut. A história até apresenta detalhes diferentes, mas segue o mesmo enredo: uma mulher descobre que está infectada por uma bactéria presente apenas em pessoas mortas. E, no final, descobrem que o marido ou o namorado dessa mulher pratica necrofilia.
Além disso, existe uma coisa muito estranha na história de hoje. A mulher foi contaminada por uma bactéria e, ao que tudo indica, está há meses atrás de uma solução. Se ela já passou por diversos médicos, como nenhum deles pediu exames mais detalhados depois que o primeiro ou segundo tratamento não funcionou? É, no mínimo, estranho.
Há uma bactéria só presente em mortos?
Como falamos, não. Quando uma pessoa morre, as próprias bactérias presentes no corpo humano iniciam o processo de putrefação (decomposição do corpo). Segundo a perita criminal Amanda CSI, todas as pessoas possuem bactérias, que convivem em um processo de simbiose, dentro dos nossos corpos.
Nesse processo, tanto os humanos quanto as bactérias se beneficiam. Diariamente, o nosso corpo fornece o que as bactérias precisam e, em contrapartida, as bactérias fornecem aquilo que o nosso corpo necessita.
Entretanto, quando uma pessoa morre, esse processo é interrompido. O corpo da pessoa deixa de fornecer aquilo que as bactérias precisam e, por consequência, as bactérias começam a se multiplicar e a produzir gases que não serão mais transformados pelo corpo (que agora está morto).
O médico legista Marcelo Rocha Campos também explicou que não existem bactérias exclusivas de cadáveres. Além disso, ele destacou que infecções vaginais, como a vaginose bacteriana, geralmente ocorrem por um desequilíbrio da microbiota vaginal normal das mulheres. Isto é, algum evento causa o desequilíbrio das bactérias que já existem no nosso corpo.
Conclusão
Boato sem comprovação 👎
Não existem provas de que a história da mulher, que foi infectada por uma bactéria que só existe em pessoas mortas, por causa do marido é real. Essa história é uma lenda urbana e circula na internet do mundo inteiro desde o início dos anos 2000 (apenas com detalhes diferentes) e existem muitos detalhes que colocam em xeque a história. Na nossa avaliação, boato sem comprovação.
Ps: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo e-mail [email protected] e WhatsApp (link aqui: https://wa.me/556192755610).