Boato – Professor de Língua Portuguesa, Pasquale Neto afirma que termo ‘presidenta’ é completamente errado e utilizado apenas por pessoas burras.
Quando da primeira eleição da presidenta(e) Dilma Rousseff o uso da palavra desse termo no feminino, proferido durante toda sua campanha e reforçado em sua posse deu o que falar. Lá em 2010 defensores da Língua Portuguesa, críticos do PT e gente de tudo quanto é jeito deu pitaco sobre o uso correto da palavra.
Cinco anos depois, mais uma vez o vocábulo do nosso idioma está em alta nas redes sociais e agora com um personagem de peso envolvido. O professor Pasquale Cipro Neto (sim aquele famoso do Soletrando do Caldeirão do Huck) veio à tona para esclarecer de uma vez por todas que presidenta é errado. Segundo imagem compartilhada no Facebook, o professor fica indignado com uso da palavra ‘presidente’ no feminino e ainda ofende: ‘FALOU PRESIDENTA, JÁ SEI QUE É RETARDADO’.
Junto da imagem um texto esclarecedor tem sido compartilhado. Conforme a explicação de uma doutora renomada da Universidade Federal do Paraná, usar a palavra ‘presidenta’ é um absurdo. Confira:
‘UTILIDADE PÚBLICA.
COM MUITA ALEGRIA TENHO A GRATA SATISFAÇÃO DE REPASSAR
À PRESIDENTE E A TODOS OS BRASILEIROS, ESSE ESCLARECIMENTO
QUE FOGE AO ALCANCE DE CERTAS PESSOAS LIMITADAS.
ATÉ QUE ENFIM ALGUÉM CORRIGIU ISSO
(aula de português)
Uma belíssima aula de português!
Foi elaborado para acabar de vez com toda e qualquer dúvida se tem presidente ou presidenta.
A presidenta foi estudanta? Existe a palavra: PRESIDENTA?
Que tal colocarmos um “BASTA” no assunto?
Miriam Rita Moro Mine – Universidade Federal do Paraná.
No português existem os particípios ativos como derivativos verbais.
Por exemplo: o particípio ativo do verbo atacar é atacante, de pedir é pedinte, o de cantar é cantante, o de existir é existente, o de mendicar é mendicante…
Qual é o particípio ativo do verbo ser?
O particípio ativo do verbo ser é ente. Aquele que é: o ente. Aquele que tem entidade.
Assim, quando queremos designar alguém com capacidade para exercer a ação que expressa um verbo, há que se adicionar à raiz verbal os sufixos ante, ente ou inte.
Portanto, a pessoa que preside é PRESIDENTE, e não “presidenta”, independentemente do sexo que tenha.
Diz-se: capela ardente, e não capela “ardenta”; se diz estudante, e não “estudanta”; se diz adolescente, e não “adolescenta”; se diz paciente, e não “pacienta”.
Um bom exemplo do erro grosseiro seria:
[…]
Por favor, pelo amor à língua portuguesa, repasse essa informação.
DE HOJE EM DIANTE SÓ PUXA SACO IGNORANTE DIRÁ: PRESIDENTA’
Se você lê Boatos.org já vai encontrar de cara pelo menos duas características de balelas da web – o tom apelativo (e revoltado) e o clássico ‘pelo amor de Deus, passe adiante’. Entretanto, essa história toda é boato por várias razões. Vamos a elas:
– Mais importante de tudo e que já leva por terra essa explicação ‘esclarecedora’ sobre o termo é que Miriam Rita Moro Mine sequer é professora de Português. Essa mulher existe e é professora de ENGENHARIA CIVIL (caixa alta para destaque) na Universidade Federal do Paraná. Exato, a pós-doutora Moro Mine tem especialização em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental, não em Latim.
– Em 2013 essa explicação foi compartilhada por email e a pós-doutora Moro Mine veio à tona para esclarecer que ela não tinha nada a ver com a história. A professora esclareceu por conta própria que seu nome foi utilizado indevidamente. Aliás, encontramos esse texto em postagens de 2010.
– A explicação sobre o termo ‘presidente’ procede. No entanto, a palavra ‘presidenta’ não está incorreta e existe em dicionários brasileiros desde o século XIX. Você pode conferir no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, no Houaiss. Aliás, Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas (1880) utilizou o termo no feminino.
– A própria imprensa vem esclarecendo dúvidas sobre o uso correto da palavra desde 2010. É possível escolher – Revista Época, Exame.com, Carta Capital, Diário Catarinense. Na Época, inclusive, a fonte utilizada para explicar que o termo presidenta não está incorreto é nada mais, nada menos que… Pasquale Neto.
– Juscelino Kubitscheck em 1956 sancionou a Lei 2.749 que deu ‘norma ao gênero dos nomes designativos das funções públicas’.
Mesmo com todas as razões acima dispostas (que estão disponíveis online, basta procurar) mais de 43 mil pessoas compartilharam essa história do Pasquale com a explicação, elas continuam compartilhando e muitas continuarão. Por que a maioria dos internautas ainda não entendeu que utilidade pública é repassar conteúdo de forma sensata e verificar a veracidade antes de fazê-lo.
PS: esse artigo foi sugerido por M. B. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.