Boato – Morte das operárias que deu origem às homenagens de 8 de março é uma invenção do movimento feminista e da mídia.
Passamos mais uma vez pelo Dia Internacional da Mulher e como de costume, a mídia falou da data o dia todo, as empresas fizeram ações especiais para as funcionárias, os social media lançaram uma campanha mais intrigante que a outra. O fato é que, como outras datas comemorativas no ano, estouraram na internet histórias sobre a origem e o porquê do ‘8 de março’.
E a mais popular delas deu conta do seguinte: o Dia Internacional da Mulher é na verdade uma farsa e o motivo que contam para comemorar a data também. O tal motivo seria a morte de 145 mulheres na Triangle Shirtwaist Factory, uma fábrica dos Estados Unidos cujos donos trancaram e incendiaram para punir suas funcionárias em greve. Confiram a explicação reveladora:
‘A FARSA DO DIA 8 DE MARÇO
Via: Damas da verdade
Quando pensamos na data do “Dia Internacional da Mulher” logo nos vem à mente aquela história comovente das operárias queimadas vivas durante uma greve pelo patrão dentro de uma fábrica nos EUA. Essa é a história repetida incansavelmente pelas feministas, pela mídia e pelos professores todos os anos quando se aproxima o Dia Internacional da Mulher, usam o suposto fato como prova cabal da opressão machista e da crueldade capitalista. Talvez se parássemos para pensar que só em supor que um empresário (louco por lucro) colocaria fogo em toda a sua fábrica, destruindo seu patrimônio, parece um tanto controversa, mas vamos direto aos fatos.
Durante dez anos a pesquisadora canadense Renée Côté pesquisou em diversos artigos e fontes da Europa, Estados Unidos e Canadá e não encontrou nenhum rastro ou prova que a tal da greve de 1857 tenha realmente acontecido. Depois de pesquisar profundamente sobre o assunto a notícia era inexistente nos jornais da grande mídia da época.
O livro de Renée foi intitulado como “O Dia Internacional da Mulher – Os verdadeiros fatos e datas das misteriosas origens do 8 de março, até hoje confusas, maquiadas e esquecidas” e serviu como base de estudos para a brasileira Dolores Farias da UFCE (Universidade Federal do Ceará), que também reafirma que a data não passa de um mito. […]
A primeira menção sobre essa greve apareceu no jornal do Partido Comunista Francês, no dia 7 de Março de 1955 e sem nenhum dos detalhes que seriam usados para dramatizar a história posteriormente.
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Mas afinal, o que podemos concluir com isso? Podemos concluir que o que mais aprisiona as mulheres em nossos tempos não são os homens, mas sim o movimento feminista, que tem se aproveitado de mentiras como essa para sustentar seu ativismo insano e destruidor. Precisamos abolir o feminismo e suas raízes com urgência de nossas vidas.
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#SemanaDaMulher #8DeMarço #Feministas #Farsa’
O texto original diz muito mais. Menciona os males do feminismo anárquico, de como isso é uma ofensa a Deus e ainda fala do quanto a mulher é importante na família e etc. Qualquer semelhança com discursos ‘bolsonarísticos’ provavelmente não é mera semelhança.
O fato é que o texto se apropria de informações erradas – realmente passadas adiante por muitos veículos e o senso comum – e usa isso para banalizar o Dia Internacional da Mulher. Pois bem, parafraseando-o, ‘vamos direto aos fatos’:
– O incêndio que matou cerca de 150 mulheres em uma fábrica nos Estados Unidos não ocorreu em 8 de março de 1857. Ocorreu, na verdade, em 25 de março de 1911 e de fato mobilizou a sociedade norte-americana ao escancarar as péssimas condições de trabalho da Revolução Industrial. Em artigo do renomado History esclarece que as operárias mortas não estavam em greve e que a justiça de Nova York não provou que os donos da fábrica cometeram o crime de trancar as portas.
– Com o fervor dos movimentos trabalhistas e dos direitos da mulher que se iniciaram já no século XIX, datas para discutir essas temáticas surgiram antes do fatídico incêndio. Tanto que em maio de 1908, também nos Estados Unidos celebraram o Dia Nacional da Mulher. É possível encontrar mais sobre o assunto, nesse texto da Nova Escola.
– Em 1910 a Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca aprovou uma data anual de debate sobre os direitos da mulher. Em 8 de março de 1917 milhares de mulheres russas marcharam em protesto contra o czar Nicolau II. Essa data foi oficializada como Dia Internacional da Mulher apenas em 1921 e reconhecida pela ONU só em 1977.
– O livro de Reneé Côté, a pesquisadora canadense que de fato existe, discute sobre a mitificação do 8 de março em relação ao incêndio de 1911 e traz o viés socialista da data, que como descrevemos acima, de fato esteve ligada, desde o princípio a reivindicações do proletariado feminino.
Concluindo e recaptulando – não, o Dia Internacional da Mulher não tem a ver só com a morte de mulheres queimadas por causa de uma greve em uma fábrica nos EUA. Tem a ver com mais de dois séculos de discussões, protestos, movimentos e lutas pela igualdade e respeito da mulher no mundo todo.
Um cenário que ainda precisa melhorar muito – afinal estão aí as estatísticas de violência doméstica, estupro, morte, desigualdade salarial, acesso á educação, nas quais as mulheres ainda padecem. E no fim, colocar em dúvida a validade dessa data já é prova irrefutável do quanto ela é necessária.
Ps: Esse artigo foi uma sugestão do leitor André Nobrega Marques. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.