Boato – Atletas que bateram continência durante premiação nas Olimpíadas correm o risco de perder as medalhas por decisão do COI.
Apesar de estarmos distantes dos primeiros colocados no quadro de medalhas, os atletas brasileiros têm conseguido alcançar diferentes posições no pódio das Olimpíadas 2016. Vitória a vitória, lá vão os consagrados subir ao pódio para receber a esperada (e quase sempre sofrida) medalha olímpica.
Cheia de formalidades, a cerimônia de premiação tem regras – silêncio, 1º, 2º e 3º lugar a postos, medalhas entregues e bandeiras sendo hasteadas enquanto o hino do país do atleta de ouro é tocado. Um processo emocionante e bem simples, mas que está causando polêmica nos jogos do Rio de Janeiro.
Segundo uma notícia que tem sido compartilhada na internet, os atletas brasileiros que prestaram continência durante a execução do hino nacional nesta edição das Olimpíadas correm o risco de perder as medalhas conquistadas. A matéria afirma que um deputado petista pediu a exclusão dos desportistas que durante a premiação prestaram continência – uma atitude tipicamente militar, um sinal de respeito da classe. Confira:
O deputado federal petista Luiz Paulo Oliveira Nunes entrou com uma ação no Supremo Tribunal de Justiça Desportiva pedindo a exclusão do quadro de medalhas brasileiras os atletas que prestarem continência durante a execução do hino na cerimônia de entrega de medalhas.
Segundo o petista Oliveira Nunes, “bater continência é pagar pau pra milico. O Brasil perdeu 30 anos de sua história sob a tortura dos militares. Bater continência pra esta gente que tem as fardas sujas de sangue é zombar da dor de pais que até hoje não sabem onde foram enterrados seus filhos”.
Caso o STJD acolha a ação do deputado o Comitê Olímpico Internacional terá até 5 dias úteis para emitir parecer sobre a punição devida aos atletas. Existe um grupo de conselheiros do COI que acredita que a continência pode abrir espaço para outros gestos mais polêmicos. Para Andrew Hill, conselheiro do COI representante da Inglaterra, “este gesto abre precedente para os simpatizantes do Estado Islâmico fazerem saudações e alusões ao terrorismo. Não tem como liberar um e proibir o outro. Em Cuba o regime é militar. O que fazer se eles decidirem manifestar sua ideologia no pódio também? Melhor coibir todos”. […]
Atletas perderão as medalhas por que bateram continência?
Apesar da polêmica que essa notícia tem causado, tem muita gente revoltado com um “ultraje” que não existe. A história de que os medalhistas brasileiros que prestaram continência no momento do hino serão punidos é falsa. Originalmente publicada na página Pensa Brasil – sim, aquela que já desmentimos muitas e muitas e muitas vezes aqui – o boato sequer é difícil de desmentir. Por quê? Por que só tem informação inventada, diferente da maioria das histórias falsas que mistura elementos verdadeiros para disfarçar a coisa toda.
Neste caso, nada, exatamente nada bate. Não há um deputado federal do PT que chame Luiz Paulo Oliveira Nunes. Não há um conselheiro do COI (Comitê Olímpico Internacional) chamado Andrew Hill, não há nenhuma manifestação do Comitê que proíba a continência.
O COI de fato proíbe manifestações religiosas, políticas e militares nas cerimônias de premiação, mas não considera que a continência se encaixe nesses atributos. Ela é vista como um sinal de respeito à bandeira hasteada. E os espectadores também tem que obedecer algumas regras: o comitê proibiu a entrada de cartazes, faixas e qualquer material de manifestação política dentro dos locais de competição e em maio, quando ainda ocupava seu cargo, a presidente afastada Dilma Rousseff assinou a Lei da Olimpíada que vigora sobre essas proibições.
Ah, e não é a primeira vez que a história das continências vira boato na internet. Durante os jogos Pan-Americanos de Toronto (em 2015), se espalhou que Dilma estava proibindo atletas de baterem continência no momento do hino, e era balela, claro. Só para esclarecimento, muitos dos atletas brasileiros são militares, principalmente por fazerem parte do Programa de Atletas de Alto Rendimento, parceria das Forças Armadas, Ministério da Defesa e do Esporte que os apoia e financia.
Logo, não há petista com processo no STF pedindo a exclusão de medalhistas brasileiros por causa de continência na hora do hino. A atitude não é proibida e o COI não se manifestou negativamente sobre este gesto dos atletas. Isso é mais um dos vários boatos olímpicos de 2016.
PS: Esse artigo foi uma sugestão da leitora Milene Machado. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.