Boato – Vídeo mostra animais mortos sendo jogados em triturador usado para fabricação de hambúrgueres e embutidos.
A indústria de carnes está no rol dos assuntos mais badalados quando se tratam de polêmicas, imagens chocantes e críticos (ou defensores) engajados. Não raramente, vídeos, fotos e/ou tutoriais sanguinários sobre o processo de fabricação da carne que chega a sessão de congelados do supermercado aparecem na Internet, e aí como diriam as vovós, “é aquele bafafá”.
O reboliço do momento é um vídeo compartilhado no Facebook e publicado no Yutube que mostra animais mortos sendo triturados por inteiro. Segundo o dono da postagem, a carne resultante dessa trituração é utilizada para fabricação de hambúrgueres e embutidos (salsicha, mortadela, presunto). Acompanhado da seguinte legenda:
‘Para os amantes de: HAMBÚRGUER, PATÊS, SALSICHAS, EMBUTIDOS, APRESUNTADOS, FAST FOOD’S entre outros. Como já se dizia, do Boi se aproveita até o berro. BOM APETITE’
O vídeo, que optamos por não mostrar aqui no Boatos.org, já rendeu mais de 87 mil compartilhamentos. Os comentários na postagem original se dividem entre a incredulidade e a certeza de que as imagens são montadas. A verdade é que as imagens são verdadeiras, mas a informação de que a carne dos animais triturados é utilizada na feitura de hambúrgueres e embutidos é errada, e falsa.
O processo de fabricação de hambúrgueres passa por três etapas principais – trituração, formação e envase. A matéria-prima do processo é a carne magra, ou seja, com pouca gordura (geralmente carnes menos nobres, conhecidas como carnes de segunda), a papada e a proteína texturizada de soja. Essa matéria-prima é picada e moída e depois triturada para que as partículas de carne fiquem ainda menores.
Na etapa de formação, a mistura passa por aparelhos industriais (orifícios e tubos) que resultam no formato circular, mas há também a formação manual, feita por guilhotina ou navalha. Por fim, o hambúrguer é mantido congelado em equipamento refrigerador a – 40 °C até o envase. O Envase (a embalagem) é individual (em polipropileno) e depois em caixas de papelão, mantidas então a 12 °C.
Desmistificado o verdadeiro modo de produção do hambúrguer, vamos às imagens. Os animais mortos que aparecem triturados por inteiro fazem, de fato, parte de um processo. Um processo de tratamento de carcaças e restos animais, chamado compostagem.
Trata-se de um método ambientalmente correto de destino para animais mortos e restos de parição, que a própria Embrapa indica. Consiste na trituração, esquartejo e/ou corte das carcaças em pedaços menores e mistura com esterco animal, material de areação (casca de arroz, palhadas de feijão, casca de amendoim, entre outros) e água. Com isso há fermentação do material orgânico e atuação de bactérias e fungos.
O processo de compostagem seria o ideal para criadores de animais, por se tratar de uma forma ecológica de destinação de restos animais, que serve de adubo natural e evita o comprometimento de lençóis freáticos, a poluição do ar (com gases tóxicos da decomposição) e odores desagradáveis.
Recapitulemos, então. Hambúrgueres não são feitos de animais mortos triturados por inteiro e animais mortos são triturados por inteiro para reciclagem de material orgânico de forma correta. Fica o esclarecimento para quem queira manifestar-se na próxima polêmica “carnívora” que aparecer na rede.
Nota do editor: o blog não visa defender a indústria que existe por trás dos abates e más condições de vida dos animais. Porém, é nossa obrigação esclarecer ruídos de informação como esse mostrado no boato.
PS: esse artigo foi uma sugestão da leitora Francieli Cremon. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site ou pelo Facebook.