A imprensa não tarda, mas falha. E o Boatos.org separou histórias falsas que viralizaram com ajuda da mídia, confiram a lista.
Um dos aspectos mais importantes na hora de ter certeza se uma notícia é verdadeira ou não é saber se saiu na imprensa tradicional. Aquela dos grandes grupos de comunicação que cobrem os acontecimentos nacionais e internacionais. Se estiver na boca do povo, mas não na mídia, cuidado porque há grandes chances de ser balela.
No entanto, com a pressa e o frenesi pelo instantâneo que as redes sociais acabaram despertando no mundo, há vezes que a imprensa falha. São os casos em que a própria mídia cai na balela por falta de checagem e aí fica mais fácil ainda espalhar um boato.
E acontece muito? Depende. Em quatro anos, desmentimos uns 20 boatos deste tipo. Desses, separamos duas listas com notícias falsas que circularam na imprensa embora não fossem verdadeiras. Confiram aí a parte 1 dessa sequência de “furos” (literalmente) da mídia:
1 – Queima de arquivo
A internet foi à loucura na última semana (mais do que o normal) quando um acontecimento inesperado ocorreu. Não, não estamos falando do cancelamento da série Sense8, mas do assassinato do delegado da PF, Adriano Antonio Soares, supostamente responsável pelo inquérito que investigava a queda do avião do ex-ministro morto Teori Zavascki.
A notícia sobre o assassinato do delegado foi publicada por diversos portais de renome. Foi o suficiente para a galera compartilhar o conteúdo já levantando altas suspeitas sobre coincidências e queima de arquivo. Acontece que a imprensa errou.
Adriano Antonio Soares era delegado da PF, mas não tinha responsabilidade sobre a investigação da queda do avião de Zavascki. O oficial era de Angra dos Reis só que o caso segue sendo investigado em Brasília/DF. O inquérito foi instaurado no Rio de Janeiro e movido para a capital brasileira. Na pressa, a imprensa publicou a informação errada e acabou criando um boato que, aliás, a própria PF esclareceu em nota. Leia mais sobre essa história aqui.
2 – Outra tragédia Richthofen
Também agitou as redes sociais a história de Andreas von Richthofen. O irmão caçula de Suzane, há 15 anos condenada por tramar e assassinar os próprios pais, foi destaque em portais como O Globo por ter sido supostamente apreendido na Cracolândia após uma operação policial.
A história com o caçula Richthofen espalhou feito pólvora. Porém, a imprensa deu um furo errado e acabou criando uma balela. Após algumas horas das primeiras notícias, a PM emitiu nota esclarecendo que Andreas Richthofen não foi encontrado na Cracolândia, mas que havia sido conduzido ao hospital após ter se machucado escalando uma grade a 15 km de distância do centro do crack paulistano.
Alguns portais se atualizaram (como o próprio O Globo), mas até o momento tem gente achando que essa história é real. Esse é o perigo de notícias falsas que saem na imprensa, se viu uma vez já vira verdade. Leia mais sobre o boato aqui.
3 – Por 2 mil euros, quem não quer?
Mais uma falha da imprensa brasileira foi a notícia de que a prefeitura de Vila Bormida, na Itália, estaria oferecendo 2 mil euros para quem se dispusesse a viver na cidade. A informação se espalhou igual folha com o vento. Esse “bolão fácil” foi replicado em diversos sites da imprensa tradicional brasileira, após ser publicado inicialmente no Daily Mail, o tabloide britânico que adora estar errado.
Acontece que a confusão começou com o prefeito de Vila Bormida que, no Facebook, publicou um comunicado sobre medidas para incentivar a mudança de pessoas para a cidade, mas sem muitos detalhes. A interpretação mal feita do Daily fez explodir a conta do prefeito, e a BBC foi quem esclareceu primeiro a história toda – os 2 mil euros seriam dados apenas como desconto a quem comprasse uma casa na cidade.
Logo, a história do sonho de ser pago para viver na Europa ficou só no sonho mesmo. Foi uma falha do jornal britânico, que a imprensa tupiniquim copiou e passou adiante. Leia mais sobre o caso aqui.
4 – A maldade com o golfinho
Em 2016, ganhou mundo, literalmente, a triste história de um golfinho que teria sido morto por seres humanos após ser retirado da água por causa de selfies. O caso, que teria acontecido na praia de Santa Teresita, na Argentina, ganhou os tabloides do mundo e chegou aqui no Brasil, causando revolta nas redes sociais.
Diversos sites conhecidos e respeitados deram a história como verdadeira, mas havia muitos detalhes por trás da morte do golfinho que a imprensa “perdeu” no meio do caminho. Acontece que o golfinho foi de fato encontrado na praia e retirado do mar, mas já estava morto. A multidão que se formou tentou, sem preparo algum, salvar o animal e até o retornou para a água.
A confusão começou quando um homem tirou fotos do ocorrido e postou no Facebook. Um site sensacionalista argentino criou o conto e uma OnG comprou a história que acabou sendo repassada em diversos lugares do mundo. O resultado: um golfinho morto, todo mundo julgando o acontecimento pelo motivo errado e a imprensa “vendida” nessa história. Leia mais sobre o boato aqui.
5 – A solidariedade da França
Outra balela bem tosca que a imprensa acabou repassando de graça aconteceu sob o triste contexto do acidente que vitimou o time Chapecoense em novembro de 2016. Após a comoção generalizada que ocorreu com a queda do avião que transportava o time, comissão técnica e jornalistas, muitas homenagens foram prestadas ao time catarinense ao redor do mundo.
Entre minutos de silêncio, edições especiais em programas de esporte e doações, alguns monumentos brasileiros mudaram as cores de iluminação para verde a fim de mostrar solidariedade ao time de Chapecó. Aconteceu em Brasília e no Rio de Janeiro, mas as pessoas começaram a repassar que até a Torre Eiffel tinha feito o mesmo.
Falso, já que na verdade a imagem era uma montagem de outra ocasião onde a torre ganhou cores verdes. A foto verdadeira tinha sido tirada quando a torre francesa ficou verde por causa do País de Gales durante a Eurocopa 2016. Mesmo assim, a Torre Eiffel em tons de verde foi colocada em galerias de foto de portais brasileiros ilustrando as repercussões do acidente. Que erro. Leia mais sobre o boato aqui.
6 – Travolta e Cruise, o affair
Dos boatos mais comuns e mais nonsense da internet, estão aqueles que ficam discutindo a sexualidade dos outros. Que gente desocupada faça isso até que dá para entender. Porém, ver sites brasileiros se ocupando do mesmo assunto não é legal.
Em 2015, vários sites brazucas e até mesmo o jornal O Dia do Rio de Janeiro repercutiram a história de que Tom Cruise e John Travolta eram amantes há 30 anos. A origem da notícia foi a revista Star, dos EUA, que segundo sites de análise acerta só 9% das balelas que conta.
Acreditar e repercutir conteúdo tão duvidoso, gerado através de “uma fonte anônima” e sem respaldo algum é mais que falha né? É espalhar boato conscientemente. Leia mais sobre a história aqui.
7 – Três seios para uma massagista triste
Para finalizar a primeira etapa dessa lista de furos da mídia, escolhemos o caso curioso, engraçado e até meio esquisito da massagista norte-americana que queria ter três seios. A garota de 21 anos supostamente chamada Jasmine queria ter três seios para deixar de ser atraente e para conseguir um espaço na MTV.
Um tabloide britânico comprou a história e diversos sites no Brasil repercutiram a foto da moça mostrando os três seios. Acontece que especialistas em cirurgia plástica dos EUA, caçadores de hoaxes como Snopes e até mesmo médicos cirurgiões do Brasil afirmaram que um procedimento do tipo jamais seria possível.
No fim, Jasmine que, na verdade se chamava Alicia, já tinha histórico de criadora de balelas na internet e a moça também tinha uma prótese portátil de três seios. Sites do Brasil caíram no conto do seio extra só porque viram em um site gringo. E o boato ganhou o país. Leia mais sobre a história aqui.
Continua na próxima semana…