Boato – Bruno Guimarães Buhler, da CORE-RJ, foi morto após ter gravado áudio no WhatsApp falando sobre a corrupção na polícia.
A situação no Rio de Janeiro em relação à segurança pública tem ficado cada vez mais delicada. Mesmo com reforço policial de tropas federais, as autoridades ainda não têm conseguido garantir a tranquilidade à população do estado (que também atravessa uma grave crise financeira).
Na última semana, um caso chamou atenção: a morte do policial civil Bruno Guimarães Buhler, integrante da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE), em uma troca de tiros no morro do Jacarezinho. A morte de Bruno tem três consequências: a comoção por parte de colegas da chamada “tropa de elite da Polícia Civil”, uma onda de violência no local que tem resultado em mortes e aulas canceladas e uma história que tem circulado na internet.
De acordo com um texto, Bruno não teria sido morto por traficantes. A morte dele teria ocorrido após um áudio que ele gravou no WhatsApp denunciando a corrupção policial. A história viralizou no Facebook, WhatsApp e foi publicada por alguns blogs. Leia duas versões do texto que circula online e escute o suposto áudio:
Saiba a verdade sobre o Bruno Guimarães Buhler *(CORE)*. Ele nao foi morto pelo tráfico do Jacarezinho. Ele foi executado pelos propios colegas após ter desabafado com esse áudio com tom de revolta no grupo da corporação.
DENÚNCIA GRAVE!!! VEJA QUEM REALMENTE PODE TER MANDADO MATAR O POLICIAL DO CORE! Antes de ser assassinado, ele fez várias denúncias contra a própria corporação. Assistam ao vídeo e cliquem depois no link abaixo para verem mais informações a respeito.
Não temos certeza de que a voz do áudio seja dele. Mas o link abaixo mostra uma carta que ele enviou a vários lugares denunciando o que estava acontecendo. Isso precisa ser investigado. Expressamos aqui os nossos sentimentos à família do nobre guerreiro Bruno Guimarâes Buhler, policial digno que foi assassinado após denunciar a podridão na sua corporação.
Bruno Guimarães Buhler (CORE) foi morto por causa de áudio no WhatsApp?
A história circulou muito online. Mas será mesmo que Bruno Guimarães Buhler morreu após gravar o áudio no WhatsApp? A resposta é não. Vamos aos fatos.
Para checar a história, entramos em contato com a CORE. De acordo com os responsáveis pela página no Facebook, o áudio não é de Bruno. “Boa noite, o Áudio não é do Bruno Buhler. A referida voz é de outro policial lotado em delegacia comum que, infelizmente, não irá se identificar”. Pedimos também uma forma de identificar a voz de Bruno e recebemos alguns áudios. De fato, a voz dele é diferente da que está registrada no áudio.
Depois de falar com a CORE, resolvemos recorrer a ótima jornalista Roberta Trindade, que trata de segurança pública no Rio (cariocas, sigam ela no Facebook). Ela nos passou um depoimento de um delegado que apontou que o áudio não tem relação alguma com a morte de “Xingu” (apelido de Bruno na corporação) e que o áudio foi gravado por outro policial do Rio de Janeiro (ele chega a citar a DP da pessoa que gravou o áudio). Leia trechos do texto:
Senhores, bom dia! Não tenho muitas vezes a velocidade para acompanhar as postagens nesse grupo. Sobre a morte do nosso irmão Xingu, eu cheguei a fazer um texto demonstrando a inveracidade de algumas postagens que foram feitas em um blog. Vou copiar o texto abaixo. Nesses últimos dias surgiu um áudio, que já é antigo, que está sendo atribuído a nosso irmão e dizendo que isso teria sido o motivo da morte dele por outros policiais.
Nunca li um absurdo tão grande! Ele foi morto quando prestava socorro a policiais militares que estavam sendo atacados, morto em combate, cumprindo a sua missão. Levou um tiro no braço que desviou e atingiu o pescoço. Foi socorrido pela equipe e atendido por mais de uma hora no hospital. Infelizmente não sobreviveu. Os responsáveis por sua morte estão sendo caçados há mais de uma semana, todos os dias! Um deles já foi baleado por equipes da CORE e confessou a participação.
Se policiais não têm responsabilidade com postagens na internet, se não usam a inteligência para tentar entender a postagem que repassa ou buscam checar a origem e a veracidade, fica difícil querer que o resto da população tenha essa cautela. Imagine o quanto isso é difícil para familiares e para seus amigos.
Para além disso, as próprias investigações sobre o caso já levaram a alguns suspeitos da morte de Bruno. Por sinal, com exceção dos textos que falam do boato, ninguém falou sobre o áudio.
Resumindo: a denúncia sobre corrupção policial (e em todos os setores da sociedade) merece ser apurada independentemente de qual policial saiu o áudio (inclusive, já houve prisões por causa de casos de corrupção). Porém, a história que aponta que Bruno foi morto por causa da denúncia é mais um boato que circula na internet. O áudio foi gravado por outro policial.
PS: Esse artigo foi uma sugestão de Patrícia Regina, Rubens Barros e de diversos leitores via WhatsApp. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook ou WhatsApp, no telefone (61) 99331 6821.