Boato – Relato aponta que traficantes de órgãos estão usando a Burundanga, também conhecida como escopolamina, em cartões para desmaiar vítimas.
Existem boatos que já são clássicos na internet. Por mais que nós, do Boatos.org, acreditamos que ninguém mais vai cair em uma mentira batida, a tal história “vai lá” e, para a nossa surpresa, viraliza só por causa de uma pequena modificação. É o caso da história da burundanga, também conhecida como escopolamina.
Um texto que circula na internet conta um relato de uma pessoa sobre uma tentativa de roubo que teria acontecido no “último sábado”. De acordo com o texto que circula online, um homem sem uma perna deu um “cartão” para vítima e um papel para anotar um telefone. Depois disso, o narrador se sentiu mal. Quase desmaiando, foi para o carro e “não se lembra mais de nada”.
A narrativa mostra que a pessoa (em algumas versões no Barra Shopping, no Rio, mas nas mais recentes em frente à Praça da Matriz – Próximo à Fumec), foi ao hospital e descobriu que era vítima da Burundanga ou escopolamina. O texto fala de um “Dr. Raul” (sem sobrenome mesmo). Leia:
“O Médico do hospital (Dr. Raul ) comentou que já são vários os casos como este e me falou dos mortos que são encontrados sem órgãos, encontraram-se restos dessa droga nos dedos deles. Estão traficando órgãos com esta droga! Tenham cuidado e enviem a todos os familiares, amigos, vizinhos… Podem acabar salvar uma vida!”, diz a mensagem.
Você acha que acabou? Não! O texto ainda conta mais coisas. Para terminar, há uma explicação “técnica”: “A escopolamina ou burundanga, usada também em medicina, provém da América do Sul e é a droga mais usada pelos criminosos (geralmente agem em 3) que escolhem suas vítimas. Ela atua em 2 minutos, faz parar a atividade do cérebro e com isso os criminosos agem à vontade, fazendo com as vitimas o que querem: roubos, abusos, etc”. Leia o texto que circula online (reprodução do Facebook):
Burundanga está sendo usada por bandidos em tráfico de órgãos?
Confira o nosso desmentido em vídeo
A história circulou muito na internet e fomos obrigados novamente a fazer um texto sobre o assunto. Se falamos novamente, você já deve imaginar que a história é falsa. Para você entender tudo, vamos aos fatos.
Para começar, o próprio texto já entrega a mentira. Antiga na internet, a lenda urbana tem caráter alarmista, erros de português, informações vagas (falta data, nome das pessoas, por exemplo) e pedido de compartilhamento. Quem tem experiência com boatos online já sabe que a chance de ser uma balela é grande.
Para além disso, o próprio histórico do “conto da Burundanga” entrega a mentira. A mesma história, com direito ao “no último sábado” e ao Dr. Raul, circula na internet há anos. Na versão 2017, há apenas a inclusão do “tráfico de órgãos” e da “Praça da Matriz, próximo à Fumec”. Apesar da mesma história circular há anos (e não é só no Brasil. Há diversos relatos do mesmo conto do “sábado” em língua espanhola), sabe quantas notícias sérias temos sobre o assunto? Se você falou nenhuma, acertou.
Para terminar, há uma explicação técnica. No meio de toda essa balela, há uma verdade. Existe, de fato, a escopolamina. Provavelmente, você já ouviu falar do remédio Buscopan. Pois a tal “Burundanga” é o tal remédio. Essa bula comprova. Agora fica a pergunta: você já viu alguém desmaiar por causa do contato com Buscopan?
O máximo que pode acontecer é você ficar sonolento se beber (e muito) o medicamento. Há relatos (não confirmados) que a escopolamina é usada na Colômbia e Venezuela para assaltos. Só que neste caso, é o famoso “boa noite Cinderela” (a mistura do remédio com bebida que no Brasil é praticada com outro remédio). Nada a ver com papel, cartão e cheiro.
Resumindo: estamos aqui de novo para contar para vocês que a história da Burundanga usada por bandidos ou traficantes de órgãos na “Praça da Matriz” (ou qualquer outro lugar) no último sábado é falsa. É um incansável boato que vive circulando online.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61) 994325485.