Boato – Grande maioria dos caminhoneiros do Brasil vai participar de uma greve geral no dia 30 de março de 2019. Os caminhoneiros vão parar o Brasil.
A grande greve dos caminhoneiros ocorrida em maio de 2018 pegou muita gente de surpresa. Por um lado, autoridades não acreditavam no poder de mobilização. Por outro, muitas pessoas não acreditavam no impacto na economia que o desabastecimento causado pela greve pode gerar. No meio disso, caminhoneiros provaram (na prática) que têm em mãos uma arma para negociação.
A prova de todo esse processo é que, de lá para cá, não faltaram alarmes falsos sobre uma greve geral dos caminhoneiros. No ano passado, desmentimos boatos de conteúdo antigo compartilhado como novo, tentativas de mobilização malsucedidas, ameaças de greve utilizadas como “arma de negociação” e até ameaça de uma greve por motivo que nada tem a ver com a classe.
A situação (principalmente com a eleição de Bolsonaro, candidato de muitos da classe) havia se acalmado, mas esquentou em março de 2019. Mais ou menos no meio do mês, mensagens começaram a surgir em grupos do WhatsApp e em postagens do Facebook falando sobre uma paralisação no dia 30 de março. Leia alguns exemplos:
Versão 1 [texto acompanhado de vídeo descrito como atual, mas que é de 2018]: Atenção!!! Dia 30 de Março os caminhoneiros irão fazer outra paralisação!!! Versão 2 [Mensagem chamando para uma paralisação com base em decisão do STF sobre crimes de Caixa 2]: Paralização dos caminhoneiros contra o STF.
Versão 3 [Mensagens em grupos chamando para paralisação no dia 30]: #somostodoscaminhoneiros Paralização 30/03/19 06:00 HRS: Versão 4 [Mesma temática]: #somostodoscaminhoneiros Direitos não se pede de joelhos se exige de pé.
A história estava apenas em redes sociais e parecia apenas “desejo de protesto” e/ou mobilização para uma atividade pontual (um protesto ou uma paralisação) até ganhar outra dimensão após publicações na mídia. Depois de uma matéria que falava das “mobilizações das paralisações” e que o “governo estava monitorando”, mais textos começaram a estourar.
É importante dizer que as matérias, por si só não estavam erradas. Havia mobilização (nada extraordinário e nada diferente de tantas ocasiões na quais o Boatos.org desmentiu e acertou que não se tratava de uma greve) para protestos e paralisações e o governo disse estar ciente. As mesmas matérias levantavam que a possibilidade de greve era pequena, mas ai a pauta já estava colocada.
Textos de opositores de Bolsonaro, pessoas “com medo da greve” e (outros) da própria classe começaram a pipocar falando que não seria mais uma paralisação e sim uma “greve dos caminhoneiros”. Leia alguns exemplos:
Versão 5: Dia 30 de março vai ter greve dos caminhoneiros novamente, vai parar tudo Versão 6: Dia 30 eu apoio greve; impeachment Bozo Já. Versão 7: Dia 30/03/2019 todos em casa(exceto hospitais, postos de saúde e polícia) para a GREVE GERAL DOS CAMINHONEIROS E DO BRASILEIRO!
Caminhoneiros farão greve geral no dia 30 de março e vão parar o Brasil?
O cenário está posto. Tem gente com medo de uma greve, caminhoneiros fazendo pressão para parar e muita gente aproveitando para ver o “circo pegando fogo no governo”. Mas será mesmo que teremos uma grande greve dos caminhoneiros a partir do dia 30 de março? Até podem ser feitos protestos e alguma paralisação pontual, mas tudo indica que não terá a força do que ocorreu em maio de 2018. Vamos aos fatos.
Temos três motivos principais para acreditar nisso. O primeiro deles está no fato de que, em nenhum momento, a mídia falou que a greve está confirmada. Tudo que foi dito até agora está na seara de “temos conversas por WhatsApp”, “o governo está monitorando e não quer que a situação de 2018 se repita” e “não há perspectivas de um movimento como o do ano passado”. Não há nada sobre “greve confirmada”.
Segundo ponto: apesar de reconhecer que a classe está insatisfeita (até, de certa forma, colocar isso na mesa de negociação), nenhuma das grandes entidades que lideraram as negociações da greve de 2018 confirmaram que haverá greve. Ao contrário. Em alguns casos, lideranças se posicionam contra a greve. Em outros, as lideranças dizem (mesmo com a insatisfação) não acreditar que há greve. O serviço de fact-checking do UOL (UOL Confere) endossa a informação.
Terceiro ponto: o governo tem se mobilizado para negociar com a classe. Isso, no mínimo, gera um enfraquecimento do movimento grevista. Na última semana, uma das reivindicações da classe foi parcialmente atendida: o fim do reajuste diário do diesel. O novo piso do frete mínimo, outro desejo da classe, deve, de acordo com a ANTT, sair em julho.
Além disso, o governo tem organizado reuniões com lideranças dos caminhoneiros para analisar demandas da classe e até tem feito “alguns agrados” como, por exemplo, o programa Minuto do Caminhoneiro na Voz do Brasil e o “Cartão do Caminhoneiro”.
Só para complementar: ao contrário de como acontece em outros movimentos de trabalhadores, as representações dos caminhoneiros não são formadas, em grande parte (para não dizer na totalidade), sem influência de partidos contrários a Bolsonaro. Isso enfraquece a hipótese de uma “paralisação com fundo político”.
Resumindo: apesar de não poder colocar como “chance zero”, o temos até agora é muita especulação, pouco apoio de lideranças e força insuficiente para que o Brasil “pare” com uma greve dos caminhoneiros no dia 30 de março. Se não ocorrer um “fato novo” (pouco provável), não é preciso se apavorar e correr para os postos de gasolina.
Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.