Boato – Adolescente de Campinas teria fugido da escola e se escondido na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para cumprir o Desafio das 72 horas (game of 72), um jogo do Facebook que faz as crianças desaparecerem.
A internet está recheada de jogos, alguns saudáveis, outros não. E são esses últimos que representam verdadeira preocupação, principalmente para os pais, já que podem colocar a vida de adolescentes em risco. Não faz muito tempo, a nossa equipe produziu diversas matérias desmentindo histórias envolvendo um suposto desafio que ficou conhecido como Baleia Azul (que até agora não teve a comprovação de que era real). É óbvio que toda essa história de “jogo” causou pânico.
E quando o brasileiro já respira mais aliviado sobre a tal da Baleia Azul, outra onda de desafios aparece. Na segunda-feira (14), em Campinas (SP), a jovem Natália Paschoal fugiu da escola, deixando sua mochila e seu celular, e desapareceu. Na mesma semana, outra jovem da mesma faixa etária também havia sumido. Logo os internautas começaram a associar os sumiços a um jogo chamado “game of 72” ou Desafio das 72 horas , o que teria feito a polícia publicar um alerta para toda a comunidade. Confira:
ALERTA AOS PAIS Pessoal, existe um jogo que chama “Game of 72” desafio das 72 horas. Ele desafia jovens a desaparecerem por 3 dias para se tornarem famosos. E no jogo existem algumas regra: não deixar bilhetes, deixar o celular em casa e sumir sem deixar nenhuma pista. Este fenómeno já levou muitas famílias a contactarem as autoridades. No entanto, muitas vezes é difícil distinguir um desaparecimento simulado de um verdadeiro. Fiquem atentos!
Desafio das 72 horas (game of 72) é um novo jogo que faz adolescentes desaparecerem?
Para começo de história, vamos parar de chamar isso de jogo ou desafio? Isso aí é um crime (repete comigo: C-R-I-M-E). Usar termos como jogo ou desafio, nesse caso, estimulam a curiosidade, já que eles remetem a coisas divertidas e momentos de superação que te fazem sentir especial. É uma tremenda irresponsabilidade continuar chamando esse tipo de crime de jogo. E bem, a história sobre o tal “Desafio das 72 horas” é pura balela.
Um dos primeiros registros (se não o primeiro) sobre o tal “desafio” ocorreu em uma matéria do site Daily Mail, em 2015. Já nessa época, o site do tablóide britânico deixou uma grande pulga atrás da orelha, “vendendo” a informação como duvidosa.
O fato é que a matéria viralizou. Porém, não demorou muito para ela ser taxada de falsa pelo site de fact-checking Snopes. Segundo o site, as autoridades da cidade onde uma menina supostamente teria se escondido para completar o “jogo” teriam dito que, na verdade, ela usou a história como uma desculpa.
Ainda de acordo com as autoridades, a história nunca foi investigada. Hoje, acredita-se que ela estaria fugindo com alguém quando foi descoberta. Para proteger a identidade da outra pessoa, Emma (a menina que sumiu) inventou a história de um suposto “desafio”.
No Brasil, a história do “Desafio das 72 horas” ganhou força após o desaparecimento de duas adolescentes no distrito de Barão Geraldo, em Campinas (SP), na mesma semana. Internautas começaram a relacionar os sumiços com o tal “jogo”. A partir daí, páginas não-oficiais da polícia e de escolas começaram a publicar que a história se tratava de uma “moda”. Mesmo que as jovens tivessem desaparecido por isso, o fato é que é impossível dizer que se trata de uma “moda”. Seria um caso isolado.
Falamos “seria”, porque Natália não desapareceu por causa de qualquer desafio. Menos de 24 horas depois, dentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), ela foi encontrada sentada em um banco (se ela realmente estivesse participando de algum jogo, não estaria em um lugar onde fosse descoberta, correto?).
Para completar, o próprio pai de Natália desmentiu qualquer relação do sumiço com o “jogo”. Segundo ele, todos os dispositivos eletrônicos da adolescente foram verificados e a família não encontrou nenhum indício que pudesse sustentar essa teoria. O pai ainda explicou que os motivos que levaram ao sumiço da jovem são pessoais e a família não pretende discuti-los publicamente.
Resumindo: a história é antiga e já foi desmentida no exterior. Não há provas de que um tal “Desafio das 72 horas” realmente exista e é totalmente irresponsável dizer que ele é uma “moda” entre os adolescentes. Por fim, o sumiço das jovens de Barão Geraldo não tem relação com o “jogo”, então, é no mínimo indelicado continuar importunando as famílias com essa história.
PS: Depois dessa história ser tão divulgada, apenas esperamos que ninguém resolva “comprar” essa ideia, ainda mais no período de outono e inverno, onde as temperaturas costumam cair à noite. Sem falar em outros problemas, como assaltos, estupros, sequestros etc. Esse tipo de “desafio” não tem nada a ver com um jogo (e muito menos é divertido). Trata-se de um crime. Até a próxima!
PS: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema para o Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, no Facebook e WhatsApp no telefone (61) 991779164.