Boato – O jornalista Diogo Mainardi escreveu texto sobre professor da Universidade de Maryland que falou sobre uma competição de remo entre Brasil e Japão.
Desde antes da internet, a comparação entre países está, por assim dizer, na boca do povo. Quem (pelo menos os mais velhos) não se lembra daquelas histórias do tipo “tinha um brasileiro, um argentino, um americano e um português”. Pois bem, os anos se passaram e algumas dessas histórias persistem ao tempo. Hoje vamos de uma assinada pelo jornalista Diogo Mainardi.
De acordo com mensagem que circula online, Mainardi teria contado uma história que teria sido apresentada por um professor da Universidade Maryland em uma palestra sobre brasileiros. O conto seria sobre uma competição de remo entre Brasil e Japão no qual nós fomos derrotados por causa da falta de eficiência. Leia o texto que circula online:
Foi realizada uma competição entre a equipe de remo do Japão e a equipe de remo brasileira. A competição se inicia, mas o resultado não é favorável para a equipe brasileira. Ela chegou com uma hora de atraso em relação aos japoneses.Indignados, os brasileiros fizeram várias reuniões para averiguar a causa da derrota. Assim ficou o resumo do relatório que fazia a comparação das equipes:
Japão: 1 Chefe de Equipe, 10 Remadores; Brasil: 10 Chefes de Equipe, 1 Remador. Descoberto o grande erro, a equipe brasileira foi remodelada para a próxima competição. Porém, perderam novamente e,dessa vez, o atraso foi de 2 horas.Mais uma vez foram convocadas reuniões e viagens para o estudo das causas. Segue o resumo: Japão: 1 Chefe de Equipe, 10 Remadores; Brasil: 1 Chefe de Equipe, 3 Chefes de Departamento, 6 Auxiliares de Chefia, 1 Remador
Outra vez o erro foi identificado e uma nova equipe foi montada.Tudo foi levado em conta: resizing, downsizing, GQT e ainda economistas opinando, conceitos de modernidade e globalização passaram a ser considerados.Porém, na hora da competição, o Brasil chegou com 3 horas de atraso. Mais reuniões, encontros, etc. Foi feito outro levantamento: Japão: 1 Chefe de Equipe, 10 Remadores; Brasil: 1 Chefe de Equipe, 3 Chefes de Departamento, 2 Analistas de O&M, 2 Controllers, 1 Auditor Independente, 1 Gerente de Qualidade Total, 1 Remador
Depois de muitos argumentos e discussões, chegaram às seguintes conclusões definitivas:1.O problema era, claro e evidente, a incapacidade do remador, que, com certeza, por culpa de influência do Sindicato e por causa de sua falta de treinamento generalista não era capaz de exercer sua atividade com eficiência. 2.A solução era privatizar ou terceirizar e/ou contratar um remador que não fosse da folha do clube. Agora o pior: Essa história veio dos EUA, e foi apresentada por um professor da Universidade de Maryland, sobre a administração no Brasil, como piada em sala de aula.
Diogo Mainardi fez texto sobre competição de remo entre Brasil e Japão?
Como era de se imaginar, o tal conto circulou muito pela internet. Obviamente, não vamos apurar se a história aconteceu (uma vez que está explícito no texto de que é ficção). Mas será mesmo que Diogo Mainardi fez o texto e será que o professor de Maryland apresentou o “case” em uma palestra para brasileiros? A resposta é não. Vamos aos fatos.
A primeira coisa que fizemos foi procurar pela origem do texto. E, como era de se imaginar, descobrimos que há versões muito antigas com a história sem a autoria de Diogo Mainardi (chegamos a encontrar até uma versão de 1999). Até 2018, só existia a versão do “professor de Maryland”.
Aí você vai me perguntar: então a versão que fala da palestra para brasileiros é verdadeira, certo? Errado. Ao procurar sobre a história, descobrimos que há uma versão em inglês. A única diferença foi que a versão contava sobre uma competição entre japoneses e norte-americanos e, no final, o trabalho foi terceirizado para indianos. A história não tem fonte e o título dela é “piadinha de sexta-feira”.
Não vamos entrar no mérito da história (só queria lembrar que os japoneses adoram a habilidade de estrangeiros para serem “os remadores”), mas o fato é que nem um professor de Maryland contou a história tampouco Diogo Mainardi a escreveu em qualquer um das suas colunas.
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