Boato – Navios estão tirando água sorrateiramente do Rio Amazonas.
É muito comum receber diariamente notícias de roubos e furtos que acontecem mundo afora. Tão comum que, em muitos casos, nem nos surpreendemos mais. Só que às vezes algumas bizarrices nos pegam de surpresa! Você acredita que estão roubando água do rio Amazonas? Pelo menos há quem diga isso.
É isso aí! Há algum tempo está circulando nas redes a seguinte história:
HIDROPIRATARIA NO RIO AMAZONAS
“Navios-tanque estão retirando sorrateiramente água do Rio Amazonas”.
Empresas internacionais até já criaram novas tecnologias para a captação da água. Uma delas, a Nordic Water Supply Co., empresa da Noruega, já firmou contrato de exportação de água com essa técnica para a Grécia, Oriente Médio, Madeira e Caribe.
Na foto abaixo, um dos navios da empresa transporta pelo oceano um gigantesco “bag” de água doce.
Vários portais vêm replicando o mesmo texto há, pelo menos, quatro anos. Segundo as informações da notícia a denúncia está na revista jurídica Consulex 310, de dezembro do “ano passado” (no caso, 2009), num texto sobre a Organização Mundial do Comércio (OMC) e o mercado internacional de água.
Conforme esta revista, a captação da água é feita, geralmente, no ponto em que o rio deságua no Oceano Atlântico. Estima-se que cada embarcação seja abastecida com 250 milhões de litros de água doce, para engarrafamento na Europa e Oriente Médio.
A matéria segue falando de outras denúncias, sobre como é feito o processo de captação e como os órgãos ambientalistas estão preocupados com a situação. É possível ler o texto na íntegra, aqui.
Só que essa história de hidropirataria no Amazonas, não passa de delírio e quem explica é Antonio Felix Domingues, coordenador de articulação e comunicação da Agência Nacional de Águas (ANA). Em um artigo publicado no Estadão, Antonio desmistifica o caso e prova que esse tipo de roubo é inviável economicamente.
De acordo com Domingues, qualquer viagem de transporte para um dos chamados “países com sede”, localizados no Caribe ou no Oriente Médio, demoraria vários dias. O custo da água atingiria mais de US$ 3 por m³. Esses custos tornam a atividade inviável para distâncias superiores a 500km. E a água ficaria mais cara do que no processo de dessalinização.
E essa foto que acompanha o texto? Não se trata de roubo. É um processo que se chama água de lastro. De acordo com Domingues, cerca de 5 bilhões de toneladas de água são transportada anualmente entre regiões.
Portanto, como o próprio Antonio diz, a hidropirataria é um delírio que, em vez de contribuir com a valorização da água, acaba desviando a atenção de problemas de reais, como o fato de 40% da população ainda não ter acesso à água tratada, problema que deveria ser objeto de preocupação. Resumindo: mais um boato.