Boato – Vídeo mostra uma ladra ativista de uma ONG que foi presa em um aeroporto no Brasil por roubar a biodiversidade da Amazônia. É isso que as ONGs querem.
Já há alguns dias, mensagens falsas querendo reforçar a tese (para dizer, no mínimo, não comprovada) de que a ONGs querem o solo do Brasil começaram a circular na internet. Depois que Bolsonaro falou isso em um evento da ONU, a quantidade de provas (falsas, claro), coincidentemente, se multiplicaram pelas redes sociais. A última que circula na internet fala de uma suposta “ladra ativista de ONG”.
Uma mensagem, que é acompanhada de um vídeo de um programa do Discovery chamado “Aeroportos – Área Restrita” que retrata uma mulher sendo levada à sede da Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos (São Paulo), aponta que a pessoa é uma “ladra ativista de ONS protegida pela esquerda com acesso à Amazônia para roubar a nossa biodiversidade”. Leia a mensagem que circula online:
Ladra Ativista de ONG com acesso á Amazônia, blindada pela Esquerda, se disse “pesquisadora” e estava traficando nossa bioverdiversidade dentro de DIVERSAS MALAS enormes…Espécimes mortas e já traficou animais vivos. Esse é o real interesse na Amazônia, biodiversidade e claro, o sub-solo.
Ladra ativista de ONG foi presa em aeroporto por roubar biodiversidade da Amazônia?
A história se espalhou em muitos locais na internet e foi acompanhada de diversos adjetivos contra as ONGs. Só que mais uma vez uma mentira circula na internet. O caso em questão nada tem a ver com ONGs internacionais, esquerda, ativistas e, muito menos, Amazônia.
Como falamos antes, o histórico recente de fakes que tentam descredibilizar a atuação de organizações em defesa ao meio ambiente (bom é tacar a motosserra, né?) tem sido vasto. Hoje mesmo, desmentimos uma foto de uma suposta pepita de ouro gigante que teria sido tirada da Amazônia. Outro dia desmentimos uma história que falava sobre “pedras preciosas da Amazônia”. Por isso, que achamos estranho o fato de essa história bombástica aparecer.
Para além disso, a mensagem (e o vídeo também) seguem aquele roteiro clássico das fake news. Ela é vaga, alarmista, com erros de português (destaque para o “bioverdiversidade”) e não cita nenhuma fonte confiável que comprove que a mulher é de uma ONG.
Após esse briefing, fizemos o básico: procuramos pela “denúncia-bomba” relacionada à tal “ladra ativista”. É claro que nada encontramos em um primeiro momento. Resolvemos aprofundar a busca e chegamos a um caso de 2016.
Na ocasião, uma francesa foi detida no Aeroporto de Guarulhos (São Paulo) levando sapos para o exterior sem a devida autorização. A mulher, que é uma pesquisadora especializada em sapos, estava carregando 11 espécies diferentes de sapos e apresentou uma licença antiga. De acordo com essa publicação no site do governo federal, ela foi multada em R$ 39,5 mil.
O G1 também fez uma publicação sobre o assunto. O site apontou que a francesa era uma pesquisadora da Unicamp e que tinha autorização para coletar as espécies, mas não para levá-las ao exterior.
Os indícios apresentados fizeram a gente chegar até a mulher que foi detida em 2016. Obviamente, não vamos a identificá-la (assim como o seriado de TV e as reportagens também não identificaram). Porém, uma coisa podemos garantir: a mulher não é ligada a ONGs (ela é uma pesquisadora ligada a universidades) e os sapos não são da Amazônia.
Ao contrário do que o texto dá a entender, a mulher não tem “acesso livre” à Amazônia. Na realidade, os espécimes em questão foram encontrados em região de Mata Atlântica na região Sudeste do Brasil. Por sinal, essa matéria do O Tempo confirma que não é preciso ir à Amazônia para encontrar sapos. A região da Mata Atlântica é uma das que mais têm espécimes no mundo.
Antes que a gente esqueça, também não há qualquer prova de que a mulher em questão tenha ligações com partidos de esquerda (do Brasil ou de outros locais). Não existe qualquer indício disso nas pesquisas que fizemos.
Resumindo: a história que aponta que uma ladra de uma ONG foi presa por levar a biodiversidade da Amazônia para o exterior é falsa. A mulher, de fato, foi detida (em 2016), mas nem é integrante de uma ONG tampouco foi até a Amazônia para, como dizem, “levar a biodiversidade” do Brasil.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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