Boato – Em carta publicada na web, mãe escreve para mãe de menor infrator. Desabafo alerta para a vulgarização do crime e descaso do estado.
Sem dúvida, a situação do sistema penitenciário brasileiro é caótica. E ao que tudo indica o cenário em unidades do sistema socioeducativo não é muito diferente. Segundo o Conselho Nacional do Ministério Público, superlotação, insalubridade, ócio e violência fazem parte do cotidiano de jovens infratores.
O sistema prisional do país voltou a ser pauta após as rebeliões em unidades prisionais de Manaus e Roraima. Mas, não é só esse assunto que têm dado o que falar na web. Uma carta, compartilhada por usuários do WhatsApp e que mostra o desabafo de uma mãe para a mãe de um menor infrator, também têm sido assunto nas redes sociais. Confira:
“Hoje, vi seu enérgico protesto diante das câmeras de televisão contra a transferência do seu filho, menor infrator, nas dependências da Febem, em São Paulo, para outra dependência da Febem, no interior do Estado.
Vi você se queixando da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que passou a ter para visitá-lo, bem como de outros inconvenientes decorrentes daquela transferência. Vi também toda a cobertura que a mídia deu para o fato, assim como vi que não só você, mas igualmente outras mães na mesma situação, contam com o apoio de comissões, pastorais, órgãos e entidades de defesa de direitos humanos.
Eu também sou mãe e, assim, bem posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro.
Enorme é a distância que me separa do meu filho. Trabalhando e ganhando pouco, idênticas são as dificuldades e as despesas que tenho para visitá-lo. Com muito sacrifício, só posso fazê-lo aos domingos, porque labuto, inclusive aos sábados, para auxiliar no sustento e educação do resto da família. Felizmente, conto com o meu inseparável companheiro, que desempenha, para mim, importante papel de amigo e conselheiro espiritual.
Mas se você ainda não sabe, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou, estupidamente, num assalto a uma videolocadora, onde ele, meu filho, trabalhava durante o dia para pagar os estudos à noite. No próximo domingo, quando você estiver abraçando, beijando e acariciando seu filho, eu estarei visitando o meu e depositando flores no seu humilde túmulo, num cemitério da periferia de São Paulo.
Ah!, ia me esquecendo: também ganho pouco e sustento a casa. O que mais estarei pagando, através de impostos às custas do meu salário? Estarei pagando o colchão que seu querido filho queimou e as instalações que ele quebrou, na rebelião na Febem.
Uma das coisas mais tristes do nosso tempo é a vulgarização do crime. Na própria sociedade, notadamente no Brasil, nota-se um aceite geral da violência, pelo crescimento da sua presença no quotidiano. Incrível, porém verdadeiro, é que muitos já têm coragem de se declarar criminosos, como se o crime fosse uma profissão como outra qualquer. Ninguém se assusta mais quando um cruel latrocida é preso e, entrevistado pela televisão como se fosse uma personalidade importante, afirma que assassinou a vítima porque ela “não quis cooperar”, deixando claro que considera o assalto à mão armada um direito seu, líquido e certo.
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Mãe escreve carta para mãe de menor infrator?
Às vezes, no mundo da boataria, um texto assinado ou com autoria desconhecida, se transforma. E o que era palavra de um, acaba ganhando coro, e esse foi o caso de hoje. Vamos aos fatos.
Antes de qualquer coisa, devemos alertar que, não analisaremos aqui o conteúdo da carta e, sim, a veracidade dos fatos. Dito isso, saiba que esse texto já circula há mais de dez anos em sites e blogs da internet e está desatualizada em alguns termos como Febem, por exemplo.
Febem, para aqueles que não sabem, é a sigla para Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor, extinta em 2006 e substituída pela Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente).
Ao pesquisarmos sobre a carta, encontramos várias versões na web. Algumas criticam organizações que defendem os Direitos Humanos, outras alertam para ineficiência das leis ou apontam a religião como solução. O que nos leva a uma coisa: que se trata de uma história fictícia.
Além disso, devemos nos atentar para o fato de que a carta não possui nome das mães, filhos, nem nada. Também relata os acontecimentos de forma bem genérica. Até tentamos buscar algum acontecimento similar ao relatado antes de 2006 (ano em que tivemos o primeiro registro do texto na web), mas não encontramos.
Ou seja, possui características de boatos são: alarmistas, sem datas ou fontes confiáveis. E mais, histórias como essa de “carta ou texto de fulano” são figurinhas carimbadas nas páginas do Boatos.org.
Resumindo: é verdade que o texto comoveu muita gente por ai. Mas, tudo indica que a história é fictícia. Então, antes de somar ao coro do #SoLiVerdades, cuidado para não compartilhar boato.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de diversos leitores via WhatsApp. Se você quiser sugerir um tem ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook ou WhatsApp no telefone (61) 9 9331-6821.