Boato – Mãe de um jovem morto na operação policial na favela do Jacarezinho foi flagrada em uma festa segurando um fuzil e dançando.
Já falamos algumas vezes aqui no Boatos.org que basta um caso de violência policial emergir para fake news imputando crimes a vítimas surgirem na internet. Com a tentativa de (literalmente) “passar pano” e minimizar mortes, as informações falsas não demoram a viralizar e, normalmente, são difíceis de desmentir.
Depois que a ação policial que resultou na morte de 28 pessoas na favela do Jacarezinho chocou muita gente, não demorou para começar a circular na internet um vídeo que seria de uma mãe de um jovem que morreu na operação policial.
Nas imagens da suposta mãe, duas senhoras dançam com um fuzil na mão ao som de um funk chamado “Minha Vó Tá Maluca”. O vídeo circulou na internet junto com montagens de uma senhora protestando contra a violência policial no Jacarezinho. Leia algumas das mensagens que circulam online e assista ao vídeo:
Confira o desmentido em vídeo:
Versão 1: Mãe do estudante do Jacarezinho no baile da terceira idade…. “Fuzil na mão, cabeça no chão!” Versão 2: Mãe de um anjinho que morreu no confronto com a PM no jacarezinho aparece em festa com um fuzil nas mãos. E agora globolixo e diretos dos manos??? Fora globolixo!!!! Versão 3: A MÃE DE UM DOS “INOCENTES” DO CONFRONTO, VÍTIMA ! Deveria ser presa por apologia e morte do filhinho. Versão 4: Mulher que apareceu no RJTV atacando a policia tem videos com Traficantes e brincando com Fuzil em festa !!!
Mãe de jovem morto no Jacarezinho posa com fuzil na mão em festa?
O vídeo não demorou muito a se espalhar na internet e deixou muita gente (inclusive políticos de direita) com os dedinhos apontados para a senhora em questão. Porém, não é verdade que a mulher que chorou a morte do filho na favela do Jacarezinho posou com um fuzil em uma festa.
Vamos ser sinceros: esse boato era para ter sido desmentido já há alguns dias aqui no Boatos.org. Só o fato de um vídeo sem prova de que as mulheres são as mesmas começar a viralizar já merecia uma verificação antes de qualquer compartilhamento. Infelizmente, não tínhamos elementos suficientes para apontar, com certeza, de que o vídeo era falso (o que fez o fake se espalhar) mesmo tendo a quase certeza de que se tratava de um fake.
O próprio histórico desse tipo de boato já nos deixava muito desconfiados. Como mostramos lá no início do texto e no vídeo acima, não são raras as vezes que imagens falsamente atribuídas a vítimas de violência policial viralizaram na internet com a tentativa de justificar o injustificável. A lista não é pequena (e pode ser vista na descrição do vídeo abaixo).
Além disso, as mensagens que circulam online não apresentavam qualquer prova de que a mulher em questão é a mesma que chorou a morte do filho em Jacarezinho. E, agora, temos provas de que não se trata da mesma pessoa.
Resolvemos buscar de onde saiu o tal vídeo da mulher com o “fuzil” na mão. Logo descobrimos que não se tratavam de imagens (como apontam algumas versões da mensagem em questão) gravadas após as mortes na favela do Jacarezinho.
O vídeo começou a circular em redes sociais na última semana de abril. Por sinal, mensagens dava conta de um compartilhamento com um tom de humor. O vídeo chegou a ser tema no programa Melhor da Tarde, da Band, no final de abril. No vídeo do programa é dito, inclusive, que um delegado apontou que, pelo peso aparente da arma, não se tratava de um fuzil real. Tratava-se apenas de um simulacro. Ou seja: não há sequer certeza de que o fuzil real. Assista ao vídeo:
Ou seja: de acordo com um delegado, sequer a arma é real. Mas a coisa não para por aí. Depois que o vídeo viralizou, a própria senhora apontou que não se trata dela no vídeo. Em entrevista ao repórter Roberto Cabrini, do Domingo Espetacular, ela chegou a falar, inclusive, que está sendo ameaçada por causa do vídeo e que não é ela nas imagens. Assista:
Vale apontar que, no vídeo da Record, é possível ver que a senhora tem uma tatuagem no braço esquerdo. Já no vídeo da festa em questão, a senhora não tem tatuagem alguma no braço. Dado o curto intervalo entre o surgimento da filmagem e do ocorrido no Rio de Janeiro, é improvável que uma tatuagem tenha “brotado” em pouco tempo.
Além disso, é possível ver que há diferenças na fisionomia entre as duas senhoras. Isso, por sinal, já deveria ter sido notado desde o começo por quem insistiu em compartilhar o vídeo e imputar a senhora. Ou será que tem gente que pensa que “essa gente é tudo igual” (fica a pergunta no ar)?
Resumindo: não é verdade que a mãe de um jovem morto na favela do Jacarezinho posou com um fuzil nas mãos durante um festa. Além de não existir indícios de que se trate de uma arma real (um delegado disse o contrário disso), a própria senhora desmentiu em entrevista que é ela no vídeo que viralizou.
Ps.: Esse artigo é uma sugestão de leitores do Boatos.org. Se você quiser sugerir um tema ao Boatos.org, entre em contato com a gente pelo site, Facebook e WhatsApp no telefone (61)99177-9164.
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